Mestre da informática, Steve Jobs criou a empresa com a marca mais valiosa do mundo, ganhou fama e fortuna, tornou-se um dos homens mais poderosos e influentes. Agora tem de sair de cena para cuidar de um câncer no pâncreas
Gisele Brito e Kátia Mello
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Na manhã de 24 de agosto, Steve Jobs, declarou estar deixando a presidência da Apple – uma das maiores empresas de tecnologia do mundo. Sem revelar detalhes em sua carta de demissão (com um texto simples, no qual assumiu já não poder mais atender às expectativas como presidente), ele se despediu e disse desejar continuar como funcionário da empresa que fundou na garagem da casa de seus pais adotivos. Na última aparição pública, em junho deste ano, Jobs já estava visivelmente mais magro. É de conhecimento mundial que ele luta contra um tipo raro de câncer no pâncreas desde 2004, já tendo passado por cirurgias e até por um transplante de fígado em 2009. Desde janeiro deste ano, Jobs estava afastado, mas agora a doença parece ter tomado dimensão irremediável em sua vida.
“Esse tipo de câncer neuroendócrino é raro, e a sobrevida de um paciente com esse diagnóstico é de 2 anos e meio a 3 anos. Se descoberto no início, pode ser retirado com cirurgia e curado. Ele causa desequilíbrios hormonais, perda de peso, dores abdominais, cansaço. Não conheço exatamente o quadro clínico de Jobs, mas, pelo que vemos na imprensa, ele já sofreu um transplante de fígado, que não adiantou, e a doença está em um estágio avançado”, explica a médica oncologista Raquel Riechelmann, do Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp).
Considerado por muitos um gênio da tecnologia, Jobs revolucionou a computação moderna diversas vezes. A primeira em 1977, quando lançou o primeiro computador portátil para uso doméstico, e outras tantas nos anos 2000, quando deslanchou a criar tendências de mercado consolidadas, como o iPod ou o iPad (confira a linha do tempo).
“A grande sacada da Apple foi se preocupar em fazer computadores acessíveis às pessoas. O computador não é inteligente, ele só faz o que é programado para fazer. A inteligência que ele transmite depende da percepção de quem o programou. E o Jobs foi o cara que mais teve essa preocupação de tornar os computadores funcionais”, defende o professor Daniel Couto Gatti, chefe do departamento de computação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
A história de Jobs é peculiar: filho do professor sírio Abdulfattah Jandali com a estudante Joanne Simpson, foi entregue à adoção porque os pais da garota não aprovavam a relação nem a gravidez indesejada da menina. Foi rejeitado pelo primeiro casal de pais, que esperavam uma menina, e adotado por Paul e Clara Jobs. Aos 17 anos, entrou para o Reed College, mas não pode concluir o curso. “Eu não tinha um quarto no dormitório e dormia no chão de quartos de amigos. Eu recolhia garrafas de coca-cola para ganhar 5 centavos e comprar comida. E andava 11 quilômetros todo domingo à noite para ter uma boa refeição no templo hare krishna. Eu amava aquilo”, contou Jobs, no discurso de formatura da Universidade de Stanford, da turma de 2005.
Dentro da Apple, Jobs é ao mesmo tempo amado e temido. Tinha fama de ter um temperamento explosivo e perdeu colaboradores importantes por isso. Também era acusado de ser ególatra, de demitir pessoas sem motivo, de ser obsessivamente perfeccionista (o iPhone demorou 3 anos para ficar pronto por conta desta obsessão), mas era capaz de momentos de delicadeza inesperados e de abrir os trabalhos para diálogo.
Em 1985, quando saiu da Apple (antes que o demitissem), era considerado “improdutivo e incontrolável”. O que os chefes não conseguiam ver naquela época é que a função de Jobs era adiantar tendências, não sentar e criá-las de punho. Segundo um dos seus biógrafos não autorizados, Leander Kahney, Jobs “é um obsessivo temperamental que construiu uma série de parcerias produtivas com gênios criativos”. Ele trabalhou com gente criativa e sabia fazer propaganda dos produtos dele, torná-los irresistíveis.
“Jobs foi uma figura inspiradora tanto para dentro da Apple quanto para fora. Ele fez com que os funcionários dele buscassem a inovação e com que as pessoas desejassem esses produtos. Grande comunicador, agregou valor a produtos que podem nem ser os melhores do mercado, mas marcam um estilo de vida”, defende o professor Julio Moreira, da Escola Superior de Propaganda e Marketing. “A forma como ele trabalhava motivava as pessoas a trabalhar mais, a buscar mais inovações. Com a saída dele as coisas podem ficar diferentes, mas muito se falou quando o Bill Gates deixou a Microsoft, e ela continuou existindo”, complementa o professor Gatti.
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