Quanto mais tarde, pior
Especialistas dizem que, quando iniciado cedo, tratamento evita maiores complicações na adolescência e aumenta as chances de cura
Raquel Maldonado e Talita Boros
redacao@folhauniversal.com.br
A depressão, quando não tratada corretamente durante a infância, pode evoluir para quadros ainda mais graves na adolescência. Nessa fase da vida, a doença negligenciada alia-se a outros males psicológicos, como bipolaridade, anorexia e bulimia, além de incitar outros comportamentos inadequados, como violência, promiscuidade e vícios. “A depressão não aparece sozinha. Ela normalmente vem aliada a outras doenças e distúrbios mentais”, afirma Dejenane Pascoal Pereira, psicóloga e professora do Centro de Atividades, Desenvolvimento e Estudos (Cade), de São José dos Campos (SP).
Foi o que aconteceu com a atriz e cantora teen Demi Lovato, de 19 anos, que teve que ser internada em uma clínica de reabilitação especializada em distúrbios alimentares e automutilação. Em entrevista à revista norte-americana “Seventeen”, Demi contou que luta contra a depressão desde criança. Na adolescência, a doença evoluiu, e ela começou a passar por momentos onde comia descontroladamente e depois forçava o vômito e tomava laxantes. “Basicamente tive um colapso nervoso. Eu estava realmente mal. Meus pais e meu empresário me puxaram num canto e disseram: ‘Você precisa de ajuda’. Foi uma intervenção. Eu queria me libertar dos meus demônios interiores”, disse a cantora. Além disso, em diversas aparições Demi foi fotografada com marcas nos pulsos. Especula-se que ela se automutilava antes da internação.
A taxa de depressão entre crianças e adolescentes tem crescido em todo o mundo, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre 6 e 16 anos, ela passou de 4,5% para 8% na última década. A violência urbana, o excesso de atividades na agenda diária e a falta de espaço para o lazer são apontados como os principais fatores pela OMS. “Nessa época já temos as nossas questões e é quando estamos estruturando a nossa personalidade. Uma depressão pode ter um efeito muito negativo”, diz Elisandra Souza, psicanalista e diretora da comissão de ética do Sinpesp. Segundo Ricardo Krause, psiquiatra da Santa Casa da Misericórdia do Rio, é mais fácil se recuperar na infância. “Quando tratada antes, a pessoa perde mais cedo a visão pessimista e ganha mais esperança. Durante a infância, já que o peso social é menor, a possibilidade de uma recuperação é maior”, explica.
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