quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Depressão infantil.

Depressão infantil

As crianças também podem sofrer de depressão, ao contrário do que muita gente grande pensa. Os pais devem ficar bastante atentos às mudanças no comportamento dos pequenos

Raquel Maldonado e Talita Boros

redacao@folhauniversal.com.br


Pedro ia bem na escola, tinha muitos amigos e adorava passar as tardes na casa do avô jogando futebol de botão. Um dia, antes de ir para a aula, o menino soube que seu companheiro de diversão estava no hospital. Dias depois, o avô de Pedro morreu. Sem entender muito bem aquela situação, já que era a primeira vez que perdia alguém querido, Pedro mudou: as notas pioraram, a vontade de sair com os amigos desapareceu e parecia que ele não sentia mais prazer em nada. Os pais achavam que a tristeza de Pedro era passageira e que logo tudo iria voltar ao normal. Mas não, ele estava em depressão. Apesar de Pedro ser um personagem fictício, sua história reflete a realidade de muitas crianças no Brasil e no mundo.


Cerca de 5% do total de crianças e adolescentes do mundo sofrem de depressão, de acordo com a Academia Americana de Psiquiatria Infanto-Juvenil. Entre os sintomas que merecem atenção dos pais estão: agressividade, isolamento, falta de vontade, desatenção e pessimismo (conheça outros sinais na página 14). Ainda que os mais comuns sejam os que aparentemente deixam as crianças apáticas, o mais importante é que os pais estejam atentos às modificações gerais de comportamento, explica Dirce Perissinotti, psicóloga do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho. “Dependendo do tipo de depressão, ela pode se tornar mais agitada ou mais introspectiva. O mais importante é estar atento às mudanças bruscas. Se ela era mais calma e se tornou mais agitada ou o inverso”, afirma.


De forma geral, os sintomas da depressão infantil são semelhantes aos dos adultos. “Apesar disso, as crianças não apresentam exatamente os mesmos sinais que os mais velhos por ainda não terem a personalidade totalmente desenvolvida”, aponta Genário Alves Barbosa, psiquiatra especializado em crianças e professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).



O diagnóstico da doença na forma infantil existe apenas há 20 anos e a sociedade ainda reluta em aceitar a depressão nessa faixa etária. Muitas vezes os pais entendem que comportamentos não adequados dos pequenos são “só coisa de criança”, sem importância. Na verdade, a principal diferença entre uma criança depressiva e outra que apenas passa por um momento de crise é a intensidade, além da frequência dos indícios. “A tristeza por si só é um sentimento natural, mas associada a outros sintomas e trazendo um prejuízo no funcionamento diário da criança, pode caracterizar a depressão”, destaca a psicóloga e psicoterapeuta Miriam Cruvinel, especialista em terapia cognitiva. Normalmente o tratamento é feito com psicoterapia e medicamentos, em casos mais graves.


Por outro lado, nem toda criança que começa ir mal na escola ou fica mais desanimada, por exemplo, está deprimida. Entre 18% e 20% das crianças e jovens do mundo apresentam sintomas depressivos, que duram um certo período e depois passam. “As pessoas confundem uma criança com sintomas com uma criança doente, depressiva. É diferente”, ressalta Barbosa.


O fator predominante para que uma criança venha a desenvolver depressão é o genético, segundo a psicóloga Dirce. “Quando maior a propensão genética, mais fácil de a criança ficar doente, principalmente quando é aliada a fatores externos”, diz. A mudança de casa, de escola, de cidade, a separação dos pais, a perda de um ente querido ou qualquer outra situação de estresse são os principais condutores no aparecimento da depressão. A psicanalista Elisandra Souza, diretora da comissão de ética do Sindicato dos Psicanalistas do Estado de São Paulo (Sinpesp) prefere não usar o termo “genética”. “Eu não gosto, parece que a depressão está cravada dentro da criança, sem que ela possa se livrar. Eu falo em herança familiar, que permite uma alternativa diferente daquela que ela conviveu”, explica.


O papel da escola é fundamental para ajudar os pais a identificar possíveis problemas com os pequenos. “A escola deve estar preparada para observar as crianças. Na maioria das vezes, os professores se preocupam com o conteúdo e esquecem de prestar a atenção devida às relações sociais”, afirma a psicanalista Elisandra. “Depois de diagnosticado o problema, a escola também precisa dar todo o apoio e incentivo para essa criança, uma vez que o depressivo se sente fracassado, como se fosse a pior pessoa do mundo”, completa. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), nos próximos 20 anos, a depressão deve se tornar a doença mais comum do mundo, afetando mais pessoas do que qualquer outro problema de saúde, como câncer e doenças cardíacas. Ao todo mais de 450 milhões de pessoas sofrem de transtornos mentais, a maioria delas nos países em desenvolvimento, segundo a organização.


Apesar de parecer que cada vez mais crianças estejam doentes, os especialistas afirmam que o diagnóstico mais detalhado e a ampliação do acesso à informação e aos serviços de saúde também ajudaram no aumento do número de casos de depressão infantil. “A depressão infantil sempre existiu, o que acontece hoje é que os especialistas estão mais preparados para diagnosticar o problema”, relata Ricardo Krause, psiquiatra do departamento de Transtornos de Humor da Infância da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro.


Já na opinião da psicóloga Miriam, hoje existe um aumento na prevalência de casos de crianças com sintomas de depressão. “Talvez devido à mudança no estilo e qualidade de vida das crianças”, diz. A estrutura familiar é muito importante para o desenvolvimento das crianças. Por isso, a presença constante dos pais na criação delas faz toda a diferença. “Hoje os pais estão muito ausentes e não colocam limites. Eles deixam isso como responsabilidade da escola e a escola devolve para a família. A criança fica nesse meio e não recebe ajuda de nenhuma das partes. Isso é perigoso”, alerta Dirce, psicóloga do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho. “As crianças precisam de orientações e hoje elas estão sendo deixadas de
lado”, avalia.

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