quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Crise de rins

Diagnóstico precoce de doenças renais pode evitar agravamento e hemodiálise. Em 10 anos, número de casos disparou

Marília Medrado


Aumentou o número de pessoas com doenças renais crônicas, aquelas que dependem da hemodiálise, ou seja, do uso de uma máquina que filtra o sangue para sobreviver. Enquanto em 2000, eram 46.547 os pacientes cujos rins perderam a capacidade de realizar funções básicas, em 2010 esse número foi superior a 92 mil – uma elevação de 97%. Mais grave do que a multiplicação de casos, porém, é o crescimento do índice de mortes.


“Em dez anos, o número de óbitos cresceu 135%. Proporcionalmente, aumentou o número de pacientes que entram em diálise no País. Mas o mais preocupante é o aumento do número dos que morrem durante o tratamento”, explica o médico nefrologista (especialista em rins) Daniel Rinaldi, presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN). Enquanto em 2000 cerca de 15%, ou 7 mil dos pacientes em hemodiálise morreram, em 2010 foram 18%, ou 16,5 mil. Os dados fazem parte do Censo Brasileiro de Diálise 2010, da SBN.


Segundo Rinaldi, faltam medidas de prevenção. “O paciente chega com a doença em fase muito avançada. O diagnóstico não é feito de forma precoce, o que gera uma série de complicações. Muitos nunca passaram por um especialista e não tiveram serviços de atendimento básico. Quando o paciente vai para a diálise, ele já está bastante debilitado”, diz.


Crise no setor


Para Gilson Nascimento da Silva, presidente da Associação dos Doentes Renais e Transplantados do Estado do Rio de Janeiro, a situação da diálise no País é caótica. “Não há suporte suficiente com relação a profissionais e medicamentos, que são de alto custo. A campanha de transplante é deficitária, e o paciente pode aguardar durante anos por um órgão num tratamento doloroso como é a diálise”, diz. Segundo dados da SBN, apenas cerca de 350 dos mais de 5,5 mil municípios possuem nefrologista. Além disso, não há centros de diálise suficientes e mais da metade dos equipamentos estão com mais de 6 anos de uso, no fim de sua vida útil.


Rinaldi aponta que os pacientes também sofrem com a falta de leitos em casos de internação. As clínicas que realizam a hemodiálise têm que lidar com o atraso em receber do SUS pelo procedimento. “O pagamento demora cerca de 60 dias para chegar e não acompanha os índices de reajuste”, afirma.


A situação dos pacientes renais é ainda mais preocupante com o envelhecimento da população, segundo Humberto Floriano Mendes, vice-presidente da Associação dos Pacientes Renais de Santa Catarina. “O paciente que já entra com uma certa idade na diálise e não consegue transplante tem mais chances de falecer. O Governo precisaria investir mais na saúde básica para controlar hipertensão e diabetes. Prevenir é importantíssimo”, diz.


Exames simples, como o de sangue ou de urina, ajudariam no diagnóstico precoce da doença renal, que é silenciosa. Se descoberto a tempo, o problema pode ser tratado com dieta alimentar correta e medicamentos, sem que o paciente precise de hemodiálise, ou em casos mais extremos, de transplante (leia mais em Barrados no transplante).

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