sábado, 25 de julho de 2009

UMA NOITE MAL DORMIDA


Uma noite mal dormida
Deito na pedra gelada da elegante porta de entrada do Banco do Brasil, na Rua São Bento, no Centro de São Paulo. Me ajeito como posso: um braço como travesseiro, o outro cobrindo o rosto, e espero. Em cima, as bandeiras de São Paulo e do Brasil, bem iluminadas, contrastam com a escuridão da rua. Do outro lado da calçada, alguém dorme em uma barraca de camping velha, coberta por um saco de lixo preto. No meio da rua, fechada para carros, há um homem apoiado em um canteiro, quase embrulhado no papelão. Então, eles chegam. Primeiro, um vestido de laranja, com uma vassoura, que acorda o homem embrulhado. Pede para ele deitar mais para a direita, sair do meio da rua. Passou da meia noite e não há mais ninguém por perto. Eu espero e cochilo. Aí, vem o caminhão. Estaciona ao meu lado. O motor parece que vai me engolir. Espero a água. Em vez disso, uma fumaça nojenta invade meu nariz. São cinco ou seis funcionários que lavam a calçada sem me olhar. Mesmo assim, tomam cuidado para não espirrar água. Permaneço seco, apesar do susto. A experiência de acordar desse jeito é horrível, mas trata-se de uma rotina para milhares de pessoas que dormem nas ruas paulistanas. As operações noturnas de limpeza são necessárias, segundo a Prefeitura, para garantir que as ruas continuem transitáveis de dia. Não fossem os jatos d'água que acordam os desabrigados de madrugada, o cheiro seria insuportável, argumentam.De acordo com dados da Secretaria de Subprefeituras, as operações envolvem 120 caminhões e 1.420 pessoas, entre garis e ajudantes de limpeza. Tudo ao custo de R$ 5 milhões mensais. Questionados se não seria melhor gastar o dinheiro em banheiros para a população de rua, os responsáveis pela pasta afirmam que existiam quatro na região central, mas que um deles acabou fechado por constantes ações de vandalismo e furto. Não deve ser reaberto. Considerada necessária pela Prefeitura, a lavagem das calçadas continuará, mesmo nas noites frias, como explicado em nota oficial: "Independentemente das condições climáticas, os serviços de limpeza precisam ser executados. Para a lavagem das calçadas da região central, nos locais onde existem moradores de rua dormindo, as equipes usam proteções de plástico para não molhá-los. Essa proteção se assemelha àquelas utilizadas pelas equipes de corte de grama, mas são de plástico e mais resistentes para que não molhem os moradores de rua." (D.S.)





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