domingo, 30 de outubro de 2011

As dores da rejeição

As dores da rejeição

Que ser rejeitado dói todo mundo sabe. Mas agora pesquisadores tentam provar em laboratório o que acontece em nosso cérebro quando somos abandonados ou preteridos


Primeiro vem uma sensação de vazio, um buraco no peito. Depois, uma tristeza tão grande que sufoca. O corpo fica fraco, o apetite e o sono somem, fica difícil parar de chorar. O coração dói como se realmente tivesse se partido em mil pedaços. A gente se sente tão sozinho que parece que o mundo vai acabar. Todas as pessoas conhecem os efeitos de ser rejeitado, mas recentemente, cientistas provaram, numa série de pesquisas, que a rejeição dói tanto ou mais que um ferimento físico.


Entre as pesquisas que confirmam a tese está a da Universidade de Michigan (Estados Unidos), em que foi localizada, por ressonância magnética, atividade cerebral na mesma região que antes era conhecida só por ativar a dor física. “Nos interessamos em examinar de perto a experiência da rejeição social intensa e de que maneira ela coincide com a dor física. Fizemos dois testes: no primeiro, induzimos as pessoas a sentir dor social, olhando a foto do parceiro que as deixou. Em outro, as induzimos a sentir dor física, esquentando o braço delas. Em ambos os testes, as mesmas regiões do cérebro foram ativadas”, disse o psicólogo Ethan Kross, um dos autores da pesquisa, à Folha Universal.


Em outra pesquisa, feita na Universidade da Califórnia (UCLA), a psicóloga Naomi Eisenbergger, a mesma que comprovou o efeito analgésico do amor (leia mais na página 15), testou a rejeição social colocando voluntários para jogar em computadores contra adversários desconhecidos. Durante o jogo, metade das “cobaias” foi informada que houve problemas técnicos e, por isso, o jogo seria adiado. A outra metade recebeu recado do adversário dizendo que eles eram “fracos demais, por isso o jogo não iria continuar”. O cérebro dos rejeitados por problemas técnicos se manteve em atividade normal. Já os que foram depreciados tiveram intensa atividade cerebral nos centros de dor física. “As pessoas aceitam que a dor física seja real, mas estão tentadas a crer que a dor social está só na cabeça delas. No estudo, vimos que não, que a dor social também é real”, disse a pesquisadora.


Entre as dores relatadas por rejeitados estão as de cabeça, dores no peito, falta de ar, fraqueza, depressão e até o desencadeamento de doenças como síndrome de ansiedade e de pânico. “Se a pessoa tiver predisposição a essas síndromes, a dificuldade em lidar com a rejeição pode desencadear as crises. Mas todos os sentimentos negativos são superáveis se não houver agravantes, como predisposição ou traumas de rejeições anteriores”, explica a psicanalista Andrea Pavlovitsch.


Não bastasse a dor emocional doer tanto quanto a física, ela ainda dura mais tempo. Foi o que descobriram os pesquisadores da Universidade de Purdue, em Indiana (Estados Unidos). Voluntários foram chamados para recordar dores físicas e emocionais que haviam passado e depois foram submetidos a um teste de habilidade mental. A turma que reviveu dores emocionais se saiu muito pior no teste. Mas o autor da pesquisa, Zhansheng Chen, psicólogo e cientista da Universidade de Hong Kong, acha isso positivo. “É um mecanismo natural do cérebro que nos permite compreender a realidade e alterar nosso comportamento para melhor, facilitando nossas futuras relações”, acredita.


“Eu tinha 26 anos e o Marcos foi meu primeiro namorado. Ele começou a se distanciar e eu, percebendo o fim, comecei a ter dores no peito e fraqueza, pois não me alimentava direito. Minha resistência caiu e fui até internada. Achavam que era hepatite, pois tinha febre, inapetência, fadiga, diarreia e vômitos. Fizeram exames, e nada. Quando melhorei, inclusive psicologicamente, percebi que eram sintomas de rejeição. Meu organismo entrou em colapso”, conta H.M.M., produtora de vídeo de 29 anos. E completa: “Depois dele, passei por mais um fim de namoro. Foi um pouco difícil, mas não fiquei doente”, disse, endossando as palavras de Zhansheng Chen.


Marinara de Almeida, de 17 anos, também já sentiu as dores da rejeição. “Sofri muito no meu primeiro relacionamento sério. Quando terminou passei 3 dias chorando. Não comia. Sentia um grande vazio. Achei que o mundo ia acabar. Meu peito doía muito.” Quando esse sofrimento atrapalha a vida cotidiana, é hora de procurar um especialista. “As rejeições são, em sua maioria, resultado de rejeições passadas e autorrejeições, que se sobrepõem e pesam. É importante ir a um psicólogo ou psiquiatra para esclarecer a origem desse sentimento e trabalhar a autoestima”, diz Andrea Pavlovitsch.

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