sexta-feira, 9 de março de 2012

Elas onde só havia eles.

Aos poucos, os últimos "territórios" só masculinos vão sendo conquistados pelas brasileiras. Até mesmo as profissões de trabalho pesado se rendem às mulheres

Os canteiros de obras, com a mão na massa, ou nas ruas e estradas do País, na direção de ônibus e caminhões, o colorido dos batons e os cabelos alinhados das mulheres contrastam com seus macacões e uniformes. Desde que começaram a lutar por salários mais dignos e melhores condições de trabalho no final do século 19, o que resultou na declaração do dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher, elas conquistam, aos poucos, suas reivindicações e avançam também em territórios tradicionalmente masculinos do mercado de trabalho. "Esse movimento acontece em todo o Ocidente. No País, é um processo decorrente da maior escolaridade das brasileiras, que supera a dos homens, e do desejo das mulheres de expandirem suas possiblidades de formação", afirma a socióloga Maria Rosa Lombardi, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas.



Segundo dados do Ministério do Trabalho, o emprego formal cresceu mais entre as mulheres em 2010 na comparação com 2009. Elas registraram um aumento de 7,3% na participação no mercado de trabalho, enquanto que para eles o índice foi de 6,7% no mesmo período. Mas as mulheres ainda são minoria e correspondem a 41,6% da mão de obra formal no Brasil.


No Governo, elas já ocupam posições importantes. Além da presidente Dilma Rousseff, Graça Foster comanda a Petrobras, a multinacional brasileira, e Gleisi Hoffman ocupa a estratégica posição de ministra da Casa Civil. No mundo, Sheryl K. Sandberg é peça-chave para manter o sucesso da rede social Facebook. Entusiasta das mulheres se lançarem e ocuparem cargos de liderança, Sheryl tem na conta bancária nada menos do que R$ 2,7 bilhões. "Mulheres sistematicamente subestimam suas habilidades", afirma ela num dos vídeos que circulam pela internet. Alguns deles já têm mais de 200 mil visualizações e fazem parte de importantes cursos de negócio no exterior, como Harvard. "Cargos de chefia são sempre desafios para elas. Além da bagagem técnica e científica, as mulheres precisam enfrentar preconceitos e discriminações, por não serem cargos tradicionalmente femininos", afirma Maria Rosa.



Os desafios se repetem na construção civil, um ambiente historicamente masculino. Mas, aos poucos, pedreiras, pintoras e eletricistas conquistam seu espaço nas obras e se destacam entre a maioria de homens. "Não existe uma constituição que diga o que a mulher e o homem podem fazer. Sendo assim, não há limites para nós", diz a mestre de obras Márcia Cristina Santos da Silva, de 42 anos, a primeira a ocupar o cargo numa grande empresa do ramo da construção civil. A quantidade de mulheres contratadas pelas empresas de construção aumentou 44,5% entre 2007 e 2009, segundo dados do Ministério do Trabalho. Dos mais de 2,2 milhões de trabalhadores, aproximadamente 172 mil (ou 7,8%) são mulheres. "Falta mão de obra no setor. Pela necessidade de conquistar um mercado estritamente masculino, elas se preparam mais e melhor, ocupando as vagas e também os cargos de gestão", diz Abílio Weber, diretor da escola do Senai Orlando Laviero Ferraiuolo, especializada em construção civil, em São Paulo. A presença feminina mudou o relacionamento e a conduta dos homens nos canteiros de obras. "Eles se portam de maneira diferente, mais respeitosa", comenta Weber.


As mulheres também aceleram fundo na carreira de motoristas de ônibus e caminhão. Em São Paulo, do total de 17,5 mil motoristas de ônibus, hoje 121 são mulheres. Apesar de muito poucas, elas já são bem mais do que as quase 40 que estavam ao volante há 3 anos, segundo informações do Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo. Na capital do Paraná, Curitiba, são somente cerca de 30 mulheres num universo de 7,5 mil trabalhadores que ocupam o banco do motorista, de acordo com o Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana. Adriana Rodrigues Silva, de 40 anos, quebrou um tabu na cidade de São Paulo: foi a primeira mulher a ser aceita como motorista de ônibus na única grande empresa que ainda resistia a entregar o volante à habilidade feminina. Ela dirige um veículo articulado de 18 metros de comprimento todos os dias pela cidade. "Quando fui contratada, meu chefe ainda falou que se eu fizesse algo errado, ele não aceitaria mais nenhuma outra mulher. A responsabilidade era minha", lembra. A experiência com Adriana deu tão certo que logo depois mais mulheres assumiram a direção dos ônibus da empresa.



Com a carreta de 19 metros e 17 toneladas, Terezinha Iugas, de 50 anos, percorre as estradas e diz se sentir poderosa ao volante. "Sou realizada profissionalmente, é uma sensação muito boa. Quando a gente dirige uma carreta, não quer mais carro pequeno", conta. No Brasil, ainda não há dados sobre a quantidade de mulheres na direção dos caminhões. "Trata-se de um fato novo ainda. Porém, os números apresentados pelas empresas têm mostrado um crescimento grande e em pouco tempo das mulheres nesta profissão", diz Newton Gibson, presidente da Associação Brasileira de Logística e Transporte de Carga.



Com um volume bem menor na garupa, Fernanda de Britto trabalha há 3 meses como motogirl. É pilotando moto e fazendo entregas – em meio à ampla maioria de homens – que garante o seu sustento. "Estou achando o máximo. Eu tinha uma visão terrível dos motoboys. Hoje vejo que são pais de família, que precisam desse trabalho, assim como eu", diz a mensageira. Fernanda faz parte do contingente das 20 a 30 mulheres de cada mil motociclistas que usam o veículo para trabalhar na cidade de São Paulo, estima Rodrigo Ferreira, consultor de mercado de duas rodas. Há 10 anos, apenas uma ou duas a cada mil motos eram usadas com a mesma finalidade pelas mulheres. Na cidade do Rio de Janeiro também verifica-se maior participação feminina. "Cinco anos atrás não havia mulheres na profissão. Nós não temos dados fechados, mas a estimativa é que elas sejam hoje 20% do total de motociclistas", diz Pedro Paulo de Carvalho, secretário executivo do Sindicato dos Empregados Motociclistas do Rio.


Algumas empresas chegam a preferir a mão de obra feminina. "As mulheres não têm a força física, mas são mais cuidadosas, pacientes e atenciosas com o trabalho", diz a economista Patrícia Lino Costa, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Apesar dos avanços, as mulheres ainda têm muito a conquistar e preconceitos a vencer. "O grande desafio da sociedade é o compartilhamento das responsabilidades familiares, que não devem ser só das mulheres. Um dos setores que mais emprega a mão de obra feminina é o serviço doméstico. Elas também ganham menos do que os homens, ocupando cargos iguais, e a taxa de desemprego entre as mulheres é maior", pontua.


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