sábado, 26 de novembro de 2011

Ainda é tempo de aprender

Ainda é tempo de aprender

Com muita disposição, idosos assistem a aulas que misturam informação e cultura e que ainda fortalecem os laços sociais

Talita Boros

talita.boros@folhauniversal.com.br


Em pequenos grupos, eles chegam aos poucos. Bastante animados, todos que entram na sala agem como qualquer aluno de faculdade: enquanto o professor não começa a aula, as conversas se multiplicam e vão desde troca de e-mails até piadinhas e assuntos da atualidade. Tudo parece normal, se não fossem óculos, bengalas e cabelos brancos da maioria dos alunos. Naquela sala, só quem tem mais de 60 anos pode participar da aula.


Os programas de universidades abertas à terceira idade existem em diversas instituições do País. Gratuito, o da Universidade de São Paulo (USP) foi implantado há 17 anos e conta hoje com cerca de 10 mil alunos. Para participar é fácil, basta ter a idade mínima requerida, vontade de aprender e nada mais. “O principal requisito é a disposição”, afirma a geógrafa aposentada Constantina Melfi, de 71 anos, uma das alunas mais antigas da turma e membro da Associação de Alunos da Universidade Aberta à Terceira Idade (AAUATI) da USP.


Os cursos abordam diferentes assuntos e não possuem provas ou testes. A ideia é aprender, trocar experiências e debater – sempre com prazer. “As aulas são para todos, com ou sem estudo superior. Basta saber ler e escrever”, destaca Luiz Roberto Terron, de 65 anos, engenheiro químico e professor da turma. Em média, os cursos duram 4 meses e as inscrições são feitas a cada semestre. A frequência varia de acordo com a proposta de cada um.


No dia em que a reportagem da Folha Universal esteve na USP, a aula do dia era do curso de “Encontros Culturais”, que tem a proposta de contar a história da humanidade através de filmes. Após cada sessão, os alunos fazem um debate. Este é o primeiro curso do qual o arquiteto Gabriel Sister, de 69 anos, participa. Até agora, a experiência foi aprovada. “Eu não considero o curso como estudo. Não há prova, não tem obrigatoriedade. É muito bom aprender a escutar o que as outras pessoas pensam”, destaca.


Frima Herling, de 72 anos, começou a participar das aulas voltadas para idosos logo no começo do programa, em 1995. Até hoje ela acredita já ter concluído pelo menos 20 diferentes cursos. “Às vezes eu via o nome e nem sabia direito o que era, mas me inscrevia mesmo assim. Sempre pensava, se eu não gostar, desisto. E que nada, eu sempre gosto de todos”, lembra, entre risadas. “Aqui nós socializamos e trocamos conhecimento. O melhor para o idoso é não ficar parado. Têm algumas pessoas que envelhecem e ficam isoladas. Eu não quero isso pra mim”, diz Frima.


Juntas, ela e Constantina já participaram de todo o tipo de aula, até mesmo sobre terremotos e vulcões. “Além dos curiosos, também há muitos cursos que são práticos para o dia a dia”, destaca Constantina.


A geriatra Silvia Pereira, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, aponta diversos benefícios da volta às aulas para os idosos. “Estimula o raciocínio, a memória, a coordenação e todo o pensamento, além do estímulo social, pois quando vai para o curso o idoso se anima, conversa com outras pessoas. Tudo isso é muito favorável para a saúde mental”, aponta.


O professor Terron destaca que a ideia do programa é trazer um leque de conhecimento para os idosos e resume o clima das aulas. “Esses alunos vêm aqui porque querem. É muito diferente dos jovens dos cursos de graduação. Aqui eu não cobro e eles não se sentem cobrados. Aqui eu sou amigo. É diversão e aprendizado”.

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