sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Haiti: a tragédia após a tragédia.

Dados do Unicef são estarrecedores: duas mil crianças órfãs foram traficadas do Haiti só para a República Dominicana, em 2010



O Haiti sempre esteve entre as preocupações das entidades que lutam contra o tráfico infantil no mundo. Após o terremoto que devastou o país em janeiro de 2010, um milhão de crianças ficaram órfãs e mais vulneráveis a esse tipo de crime. Poucos dias depois do tremor, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) alertou para o fato de várias crianças terem sumido dos hospitais, o que apontava para o tráfico de crianças destinadas a adoção no exterior e o comércio de órgãos.


Os irmãos Maria*, de 8 anos, e Francisco*, de 4 anos, foram achados na divisa do Haiti com a República Dominicana. Eles viajavam com um homem que fugiu quando policiais se aproximaram. Levados a um centro especial para crianças traficadas, permanecerão lá até que os pais sejam localizados e as autoridades se certifiquem de que eles têm condições de ficar com os filhos. Segundo o Departamento de Estado americano, a maioria dos casos de tráfico ocorre entre as 200 mil crianças que são submetidas a trabalho doméstico forçado no país. Grande parte é enviada para outras cidades pela própria família, na esperança de que consigam uma boa educação e o que comer. Sujeitas a agressões e outros abusos pela família que as recebem, quando viram adolescentes são desprezadas e a maioria vai viver nas ruas. Segundo entidades, muitas crianças cruzam a fronteira do Haiti com a República Dominicana ilegalmente na companhia de um adulto que não é o pai, a mãe ou o tutor. Algumas delas vão ao encontro dos pais que trabalham no país vizinho. Outras são levadas por gangues que as exploram de todas as formas. Segundo o Unicef, mais de duas mil crianças haitianas foram traficadas só para a República Dominicana em 2010. “O tráfico acontece todos os dias, e os controles são quase inexistentes”, afirma Andre Perrin Child, da Polícia da Organização das Nações Unidas (Unpol).


*Os nomes foram trocados para preservar a identidade das crianças

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