domingo, 30 de junho de 2013

Das ruas ao planalto.


Onda de protestos acontece em todo o Brasil, às vésperas de um ano eleitoral. Resta saber se o povo saberá escolher bem seus representantes em 2014






Desde que começaram, os protestos em todo País pareciam não ter mais fim. O movimento teve início na cidade de São Paulo, lutando contra o aumento nas tarifas de ônibus, e logo as mobilizações pelas redes sociais ampliaram o clamor de uma população que está cansada de ver tantas injustiças. Em pouco tempo, eram milhares de manifestantes espalhados por diversas cidades do Brasil, com listas de reivindicações.

Vinte e um anos depois do ato que ficou conhecido como “os caras pintadas”, que exigia o impeachment do então presidente Fernando Collor, o movimento atual não tem como alvo um político específico ou partido determinado; a insatisfação é contra a corrupção, contra o atual estado das coisas. Em um determinado momento, chegou a ser definido pelos críticos como “um movimento contra tudo”. Esse despertamento acontece às vésperas de um ano eleitoral, quando os cidadãos terão a oportunidade de, efetivamente, fazer valer o seu maior poder: eleger seus representantes em 2014. “O melhor protesto é votar certo”, declarou Marcos Pereira, presidente nacional do Partido Republicano Brasileiro (PRB). Ele reconhece também que boa parte da população não se sente mais representada pelo governo. “As pessoas querem renovação diante do desgaste da classe política.”

Depois de o Brasil assistir atônito a várias manifestações, muitas capitais tiveram revogados seus aumentos na tarifa de ônibus. Os protestos, porém, não terminaram. A população continuou saindo às ruas. Muitos manifestantes com reivindicações legítimas, de forma pacífica, enquanto outros aproveitavam a multidão para fazer tumulto e vandalismo, em manifestações marcadas por confrontos com policiais e cenas de violência. Fazendo alusão ao Hino Nacional, que descreve o País como “gigante pela própria natureza” e diz que está “deitado eternamente em berço esplêndido”, as redes sociais afirmam que “o gigante despertou”.

No entanto, somente o próximo ano será decisivo para analisar se o gigante realmente despertou. O primeiro sinal de que isso aconteceu será os eleitores não se deixarem levar por qualquer carinha bonita ou discurso simpático de “salvador da pátria”, não se deixar iludir pelas belas imagens das propagandas. O eleitor que realmente despertou vai procurar fazer uma escolha racional de seus representantes, sem se deixar levar por rumores, procurando se informar melhor antes de acreditar em toda notícia alarmista divulgada em período eleitoral. O gigante alerta vai sempre ouvir os dois lados para escolher racionalmente seu candidato, sem engolir qualquer coisa que a mídia, o horário político ou mesmo as redes sociais tentem empurrar goela abaixo.


A socióloga Haydee Roveratti acredita que os jovens não estão tão “por fora” assim de política e crê que as pessoas não estão agindo de repente. “O exame da nossa sociedade vem mostrando que as insatisfações originam reações imediatas ou mais amadurecidas”, declarou. Para Roveratti, o cenário das manifestações também não foi um ambiente para ação de partidos políticos. Se foi, segundo a especialista, não foi bem-sucedido.

Curioso que a questão do transporte público de São Paulo, que motivou o início dos protestos, foi também um dos pontos mais controversos da eleição para prefeito, ano passado. O então candidato Fernando Haddad (PT) prometeu que o Bilhete Único (sistema de cobrança de tarifas para transporte público) seria mensal. Já o adversário do petista nas urnas, Celso Russomanno (PRB), que liderava as pesquisas, pretendia criar a cobrança proporcional da tarifa de ônibus, com teto de R$ 3,00. Isto é, se o usuário percorresse menos, pagaria menos do que R$ 3,00. Haddad, no entanto, distorceu a proposta em seu programa eleitoral, dizendo que Russomanno queria acabar com o Bilhete Único e que o usuário que percorresse uma distância maior pagaria mais. Os eleitores caíram na manobra do petista, que foi eleito ainda no primeiro turno. Na ocasião, a briga eleitoral teve grande repercussão. Russomanno se defendeu dizendo que Haddad “mentia descaradamente” e acusou o petista de “jogar sujo” para desestabilizá-lo e desconstruir sua candidatura.

O reajuste de R$ 0,20 na tarifa de ônibus em São Paulo, autorizada pelo prefeito no início de junho, lançou também um holofote sobre o descumprimento daquela que foi uma de suas mais emblemáticas promessas de campanha: o tal Bilhete Único Mensal, divulgado no horário eleitoral como uma solução para o problema de transporte da capital (por apenas R$ 140 mensais, o cidadão poderia transitar de ônibus por toda a cidade), ficaria mais caro do que a propaganda prometia. Após o aumento da passagem, a população, revoltada, saiu às ruas, incentivando o restante do País a fazer o mesmo. Acuado, Haddad teve de revogar o reajuste.

O governo federal, no entanto, tomou medidas mais drásticas para responder ao clamor popular por ética e melhores condições de vida. No dia 24 de junho, a presidente Dilma Rousseff se reuniu com líderes das principais capitais, governadores e ministros para conversar sobre mudanças. A proposta se resumiu no que ela chamou de cinco pactos. O primeiro se refere à responsabilidade fiscal, com planos que garantam a estabilidade da economia e o controle da inflação, muito exigido nas manifestações pelo País.


O segundo pacto é uma reforma política que amplie a participação popular. Dilma propôs plebiscito que pode trazer importantes mudanças. “Proponho uma nova legislação com penas muito mais severas. Quero neste momento propor um debate sobre a convocação de um plebiscito popular que autorize o funcionamento de um processo constituinte específico para fazer a reforma política que o País tanto necessita”, disse a presidente durante pronunciamento histórico.

O comentarista da Record News, Ricardo Kotscho, escreveu em seu blog no R7: “Se o povo dos monumentais protestos que ocuparam as praças e ruas do País queria retomar sua participação nas grandes decisões nacionais, das quais se sentiu afastado nos últimos anos, nada melhor do que um plebiscito para que este mesmo povo possa escolher as regras do jogo daqui para a frente”, comemorou.

No entanto, se a ideia de um plebiscito for adiante, é necessário que aqueles que saem às ruas emocionalmente hoje, sejam racionais e cautelosos, buscando informações, para fazer uma escolha consciente.

A saúde foi o tema do terceiro pacto, com destaque na intenção de contratação de médicos estrangeiros para atender ao Sistema Único de Saúde (SUS). Dilma deixou claro “à classe médica brasileira que não se trata nem de longe de uma medida hostil ou desrespeitosa aos nossos profissionais. Trata-se de ação emergencial, localizada, tendo em vista a dificuldade que enfrentamos para encontrar médicos em número suficiente ou com disposição para trabalhar nas áreas remotas do País ou nas zonas mais pobres das nossas grandes cidades”.

O quarto pacto lembrou um dos principais estopins para as manifestações: a melhoria do transporte público, com uma proposta de R$ 50 bilhões para investir em mobilidade urbana. Dilma destacou ainda a desoneração fiscal do setor que, segundo ela, garantiu a redução das tarifas de ônibus em 7,23% e a de metrô e dos trens em 13,25%.


Por fim, o quinto pacto teve como tema a educação no âmbito do investimento em ciência e tecnologia e a valorização do professor. Dilma reforçou o que disse em comunicado anterior, que quer destinar royalties do petróleo nesta área. Para a especialista em psicologia social e professora das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU-SP), Mariana Aron, o povo cansou de “sofrer calado” e começa a se manifestar. “Hoje em dia, as pessoas estão brigando simbolicamente todos os dias no tempo que leva para se deslocar em um transporte público ou por causa das condições de seus empregos. E não é por ganância, é por necessidade”, diz.

No entanto, de nada adianta brigar nas redes sociais, quebrar orelhões, depredar prédios públicos e nem mesmo participar de protestos pacíficos, gritando palavras de ordem e levantando cartazes com frases de efeito, se na hora de realmente decidir, na hora do voto, não houver esse mesmo desejo de mudança.

É nas urnas que se faz o protesto inteligente, analisando as propostas racionalmente e fazendo valer o direito de escolha pelo qual os brasileiros tanto lutaram em outro período histórico que levou multidões às ruas: as “Diretas Já”, em 1984.

Ainda que a situação pareça não ter saída, a cada nova eleição existe a chance de escolher certo. A injustiça social no Brasil é histórica e só vai começar a mudar quando houver uma mudança na forma de pensar e de votar. Essa é a maior luta do povo brasileiro, a nossa maior e mais eficaz manifestação.

Dicas para votar certo

Conheça seu candidato

Qual o histórico de vida dentro do grupo que ele representa?

Se ele ainda não teve um mandato, conheça suas ideias, seus propósitos e pelo que se propõe a lutar.

No caso específico do cristão, analise se ele defende os princípios e valores que guiam a vida cristã (fidelidade, honestidade e ética).

Ele pode fazer o que promete?

Procure saber quais as atribuições do cargo ao qual ele concorre. É comum ver candidatos a vereador fazendo promessas cujo cumprimento não caberia a vereadores, por exemplo.

Qual é o passado dele?

Precisa ter ficha limpa e defender as ideias compatíveis com as suas. Lembre-se: você está escolhendo o seu representante, o mínimo que pode exigir é que ele lhe represente.

Depois de eleito, acompanhe seu candidato

Nos sites do Congresso Nacional, das assembleias estaduais e câmaras municipais, é possível encontrar as atividades do político. Por exemplo: como votou em determinado tema, que projetos apresentou e que discursos fez.

Vale a pena cobrar e interagir enviando e-mails com sugestões ou reclamações e verificando qual o tratamento que o político dá a elas.

Nunca se esqueça

Quem vota de forma consciente jamais se esquecerá qual foi o candidato em quem votou.

Fonte: “Política e fé” – Arquivo Folha Universal.

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