segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A mente de um psicopata


Eles agridem, torturam e matam sem arrependimento. Com total falta de compaixão por outras pessoas, o remorso é um sentimento que não existe em suas vidas. São considerados assassinos sem perdão, até porque nunca carregam o peso da culpa, matam por matar. A frieza presente nos atos de violência que cometem, normalmente, se reflete no momento em que são encontrados pelas autoridades. Foi o que ocorreu quando policiais prenderam Adelson Aparecido Thomaz, conhecido como "Paraná", acusado de matar friamente, após rápida discussão, um policial militar e deixar outro paraplégico em frente a uma casa noturna no centro de São Paulo, em 21 de novembro do ano passado. Descrito pelos agentes que o capturaram no último dia 27 como uma pessoa sem nenhum tipo de valor moral e incapaz de se sentir arrependido pela brutalidade do crime, "Paraná" pode ser mais um exemplo de indivíduo psicopata, portador do transtorno de personalidade antissocial.

Um experiente investigador da Equipe de Homicídios da Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo ficou impressionado com a frieza e a falta de culpa do acusado ao falar sobre o crime. "Pelo que conversamos, ele não está arrependido da morte. Só se arrepende de ter atirado em dois policiais porque isso deixou a situação dele mais complicada. Só por isso. Mas não se arrepende de ter matado", relata. Segundo o investigador, a falta de reação ao ser surpreendido pela polícia também comprova a frieza do acusado. "Quando entramos na casa onde estava escondido, ele já deitou no chão. Não esboçou reação, não falou nada. Simplesmente deitou no chão. Isso não é comum. Normalmente quando prendemos alguém, essa pessoa fala alguma coisa, se justifica ou até tenta fugir. Ele não se mexeu", lembra.


Apesar de ser cedo para dizer que "Paraná" é psicopata, o psiquiatra forense José Taborda, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria, diz que o sentimento de arrependimento de um indivíduo que comete um crime está diretamente ligado à estrutura de caráter dele: "Essa frieza e a falta de remorso geralmente aparecem em pessoas que fazem parte do grupo dos psicopatas". Segundo ele, não há um perfil fixo dessas pessoas. "Há vários tipos, uns mais sádicos, outros que cometem crimes do colarinho branco. Mas a postura em comum é que eles não se importam com os outros. Tudo gira em torno do seu próprio umbigo", destaca.

Por essas e outras características, o psiquiatra forense Fernando César destaca que a maioria dos serial killers (assassinos em série) apresenta esse transtorno. "Essas pessoas não se importam com o sofrimento que trazem às vítimas ou às suas famílias. Por isso, é muito difícil negarmos que quase todo serial killer é psicopata, mas nem todo psicopata vira um assassino", explica. Um estudo do Instituto de Neurociência Cognitiva dos Estados Unidos comprovou que psicopatas têm dificuldade em nomear expressões de tristeza, medo e reprovação em imagens de rostos humanos. É como se eles não conseguissem sentir e ver esses tipos de sentimentos.

César afirma que a motivação do serial killer é o encanto de matar, comumente aliado ao prazer sexual. "Frequentemente, antes ou após o homicídio, o serial killer pratica sexo com a vítima. Matar o excita. Mas há os que matam sem violentar. Em todos os casos, o que há de comum é o prazer em matar", diz. O grande ponto de consenso entre os especialistas é a crueldade. Esse tipo de comportamento, presente na maioria dos casos famosos de serial killers, é que aponta para a psicopatia. "As pessoas comuns, quando cometem alguma brutalidade, se arrependem, pois conseguem se colocar no lugar do outro. Ou até mesmo porque têm freios morais ou religiosos, sabem que o que fizeram ‘não foi certo’. O psicopata não. Ele não liga para a moral ou o inferno. Para ele, isto são só palavras que não existem em seu dicionário", completa.


Um dos casos de assassinos em série de maior repercussão no Brasil foi o de Francisco de Assis Pereira, chamado de "Maníaco do Parque", que estuprou, torturou e matou pelo menos seis mulheres e atacou outras nove em 1998. Ele atacava suas vítimas no Parque do Estado, a zona sul de São Paulo. Para atrair as mulheres, dizia ser um caça-talentos de uma agência de modelos e as convencia a subir em sua moto para uma sessão de fotos com tema ecológico. No parque, as estuprava com violência e as estrangulava com uma corda. Foi condenado a 270 anos de prisão.



O psicopata age sem muitos motivos. Sua versão da história "não cola", apesar de ele até inventar alguma explicação. Segundo o especialista, ele comete crimes "por pouca coisa" ou mesmo sem razão. Francisco das Chagas Rodrigues de Brito é outro exemplo brasileiro do ponto a que pode chegar uma pessoa assim. Brito é acusado de matar 30 meninos no Maranhão e dois no Pará, entre 1991 e 2003. O caso ficou conhecido como o dos "meninos emasculados", porque o criminoso extirpava os órgãos sexuais dos jovens. Até agora, Brito foi condenado a 237 anos de prisão.

Ré confessa, Suzane von Richtofen é outro caso de psicopata que se livra de quem coloca obstáculos em sua vida. Ela foi declarada cúmplice do assassinato dos próprios pais, Marisia e Manfred, cometido a golpes de barras de ferro em 2002. O casal era contra seu namoro com Daniel Cravinhos, outro envolvido no crime. Enquanto ele e seu irmão Cristian matavam os pais dela no quarto, numa casa de luxo da zona sul de São Paulo, Suzane os esperava na sala. Foi sentenciada a 39 anos de prisão. Quando indagados sobre a chance de ressocialização desses psicopatas assassinos, os especialistas são taxativos: não há.


Psicopatas que não gostam de sangue

A maior parte dos psicopata

s – ao contrário do que se imagina – vive aparentemente muito bem em sociedade, é educado e simpático. Muito além daquela imagem de assassino sanguinário, a maioria dos portadores desse transtorno nunca vai matar ni

nguém. Isso não quer dizer que não vão manipular ou mentir. Muito pelo contrário, eles se tornam estelionatários, falsários, chefes autoritários e até mesmo políticos de grande carisma e pouco moral. De acordo co

m estudo feito por uma equipe de psiquiatras norte-americanos, 3,9% dos profissionais que ocupam cargos altos em empresas apresentam traços psicopatas. Isso significa que ele pode ser seu vizinho, seu irmão ou seu melho

r amigo.


O caso de Marcelo Nascimento da Rocha (foto ao lado), que fingiu ser Henrique Constantino, her

deiro da companhia aérea Gol e até chegou a dar entrevistas ao vivo se passando pelo personagem, é um exemplo desse tipo de psicopata. Durante toda a vida, Rocha assumiu 16 identidades falsas e conseguiu ter sucesso nos golpes aplicados usando a maioria delas. O picareta mais célebre do país inspirou o

livro e filme "Vips - Histórias Reais de um Mentiroso", da escritora Mariana Caltabiano, onde ele relata todas as fantasias e golpes que aplicou. Hoje o falsário cumpre pena por estelionato.



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