Cedo demais
Mais de 1 milhão de meninas engravidam todos os anos no Brasil e as principais causas são a falta de orientação dos pais e educadores e de perspectivas de vida
Kátia Mello
katia.mello@folhauniversal.com.br
Nesta segunda-feira, dia 26 de setembro, será comemorado em mais de 70 países o Dia Mundial de Prevenção da Gravidez na Adolescência. Segundo dados do Ministério da Saúde, no Brasil, a idade média das meninas que engravidam é de 15 anos e 9 meses. Entre 2003 e 2009, o número de partos em garotas de 10 a 19 anos caiu 20% – o que dá indícios de que a informação está chegando e sendo disseminada entre os jovens. Mas ainda há muito a ser feito.
Diversas pesquisas ligadas ao tema mostram como a gravidez nesta faixa etária pode destruir sonhos e atrapalhar a vida das jovens. A Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia mostrou que apenas 30% das mães precoces frequentam a escola com regularidade, sendo que 57% delas abandonam os estudos para dar à luz e somente 27% voltam a estudar depois de 6 meses. Outra pesquisa, feita pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP), mostrou que a maior preocupação entre essas mães não é cuidar dos filhos (isso elas até fazem com prazer): o problema é perder a vida social, as festinhas, os amigos e até o namorado.
“Quando descobri que estava grávida, queria desaparecer, morrer. Eu pensei até em abortar, mas tem muita história de menina que morre fazendo isso. Minha mãe ficou muito brava, porque eu sempre tive orientação em casa. Eu sentia vergonha, murchava a barriga, atravessava a rua quando via um conhecido. Fui assumindo aos poucos. Hoje sinto muita falta de sair pra me divertir, pra ver meus amigos”, conta Jéssica*, 17 anos, mãe do João*, agora com seis meses.
Jéssica ainda amamenta e, por isso, não voltou a menstruar. Mas quando desmamar o menino, já sabe o que fazer. “Vou no posto de saúde buscar pílula, não quero ter outro”, diz a garota, que voltou para a escola no mês passado e pensa em cursar biologia marítima na faculdade.
O primeiro medo que a operadora de caixa Cristiane da Silva, de 26 anos, sentiu foi de contar para a família.Um medo que veio antes até da responsabilidade de cuidar de uma vida vindoura. “Estava namorando o rapaz havia 1 ano quando engravidei. Tomava pílula, mas de maneira errada, cada dia num horário, tinha dia que eu esquecia. Eu tinha 17 anos e ficava imaginando a reação da minha família quando eu contasse. Eu já estava grávida de 4 meses, não tinha mais como esconder. A reação não foi boa, mas eles me apoiaram e me ajudaram esse tempo todo na criação do Felipe”, conta Cristiane. Agora, Felipe está com 9 anos e, segundo a mãe, “está na fase de responder”.
O medo de Cristiane evidencia um dos principais problemas na gravidez na adolescência: a falta de diálogo entre pais e filhos. “O suporte familiar é muito importante para o esclarecimento de dúvidas. Estudos mostram que jovens e pais que conversam sobre sexo sofrem com a menor incidência de gravidez adolescente. Sexo não pode ser tabu, tem que tirar dúvidas, falar sobre o assunto”, defende Maria Helena Vilela, educadora sexual e diretora do Instituto Kaplan. Com o projeto “Vale Sonhar”, a organização leva aulas de orientação sexual para 3.565 escolas públicas de São Paulo, Espírito Santo e Alagoas, e vem colhendo resultados significativos. Com o projeto, houve queda de 90% de meninas grávidas em sala de aula.
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