Boa noite!
Dormir é uma necessidade tão básica quanto respirar e comer. Saiba o que fazer para ter um bom sono e como evitar doenças relacionadas às noites maldormidas
Raquel Maldonado e Talita Boros
redacao@folhauniversal.com.br
Durante muito tempo, o sono foi considerado uma grande perda de tempo. A Medicina só começou a tratar melhor as doenças provenientes das noites maldormidas nos últimos 10 anos. Antes, a maioria dos males era atribuída a outras situações, como depressão e disfunções biológicas ou químicas. No século 19, o inventor da lâmpada, Thomas Edison, achava uma besteira passar muito tempo com a cabeça no travesseiro, e dormia cerca de 3 horas por noite. Apesar de ter sido responsável por um dos inventos mais importantes da história, hoje a ciência prova que ele estava errado: uma boa noite de sono é vital para a saúde.
O sono é essencial para a manutenção das funções vitais, por isso é importante manter um ritmo adequado e um número de horas ideal. A média para um adulto é de sete horas e meia a oitos horas e meia. Durante o sono, o corpo entra num estado ordinário de consciência. É quando ocorre a suspensão temporária das atividades perceptivo-sensorial e motora voluntária. É durante a noite que o organismo, em repouso, realiza a manutenção da homeostase (processo que mantém o corpo funcionando), das substâncias químicas produzidas pelos neurônios, além de estabilizar a temperatura corporal. Durante o sono, a atividade cerebral e o metabolismo ficam mais lentos e as funções corporais relacionadas com a atividade física são restauradas. É também no repouso, que o hormônio do crescimento, fundamental para a renovação das células, é liberado, favorecendo o desenvolvimento dos músculos e dos ossos e a reparação dos tecidos danificados. Além disso, o sono profundo é vital para a memória, a aprendizagem e a recuperação das energias físicas e mentais.
A médica Rosa Hasan, coordenadora da Academia Brasileira de Neurologia, destaca o papel revigorante do sono. “É importante ter uma boa noite de sono para poder estar bem-disposto e bem-humorado no dia seguinte. Quem dorme mal não tem o mesmo desempenho de quem dormiu adequadamente”, afirma.
“No Brasil, 33% da população sofre com os distúrbios do sono, ou seja 63 milhões de pessoas. Sabe-se também que a combinação internet-celular-jogos eletrônicos tem levado muitas pessoas, em especial os adolescentes, a dormir mais tarde do que deveriam, prejudicando a recuperação do organismo”, diz o dentista Fausto Ito, especialista em anatomia aplicada da cabeça pelo Instituto de Ciências Biomédicas da USP, que atua na área de distúrbios do sono há 13 anos.
Além de se sentir mais irritada, com problemas de concentração e sonolência, a pessoa que não dorme bem tem um risco maior de desenvolver doenças como hipertensão, diabetes, arritmia cardíaca, infarto, derrame e também obesidade, já que dormir mal eleva a produção de hormônios do estresse, como o cortisol e a adrenalina, que estão associados diretamente ao aumento de peso. “A obesidade é um fator de risco para a apneia. Quem sofre deste distúrbio tem mais facilidade para ganhar peso. Esse é um ciclo perigoso. Isso também ocorre com a depressão. Ela pode ser causa ou consequência de um sono de má qualidade”, destaca o especialista em Medicina do Sono, Marcelo Andrade. “Em homens, as doenças do sono também estão associadas à disfunção erétil [impotência sexual]. Em crianças, a privação do sono resulta em atraso no crescimento e comprometimento do desenvolvimento escolar”, diz.
Existem vários distúrbios de sono, mas os mais comuns são o ronco e a apneia, conforme diz Márcia Pradella-Hallinan, médica do Instituto do Sono de São Paulo. “Quem ronca faz um esforço enorme para o ar entrar e sair dos pulmões. Muitas vezes, a pessoa tem que dar um suspiro para conseguir oxigenar todo corpo e isso gasta muita energia, que faz bastante falta no dia seguinte”, explica Márcia. No caso da apneia, a pessoa para de respirar durante o sono e quando se esforça para voltar ao normal, ela quase acorda. “Isso acontece diversas vezes durante a noite, e cada vez é um grande esforço. Ao longo dos anos, o organismo vai sofrendo, e a pessoa fica com mais chance de desenvolver hipertensão”, diz a médica. Segundo a classificação internacional dos distúrbios do sono, existem centenas de doenças relacionadas à privação de um bom descanso.
De acordo com especialistas no assunto, não é difícil perceber se estamos dormindo mal. Basta ficarmos atentos a alguns sinais. “Acordar com a cama muito bagunçada, sentir cansaço antes mesmo de levantar, ter sonolência excessiva durante o dia, notar irritabilidade e dificuldade de concentração são alguns deles”, adverte Andrade.
O diagnóstico, diz João Fanton Neto, otorrinolaringologista do Hospital Amaral Carvalho, em Jaú (SP), só pode ser estabelecido por meio da polissonografia, exame feito em laboratório com ambiente apropriado ao sono e numa cama confortável. “Eletrodos ligados ao paciente monitoram cerca de 30 parâmetros do sono, como atividade cerebral, batimentos cardíacos, atividade muscular, esforço respiratório e saturação de oxigênio no sangue”, explica. Com base no resultado, é possível descobrir o tipo de distúrbio e, então, planejar o tratamento.
“Muitas vezes medicamentos são necessários, mas a mudança de hábitos é sempre o mais importante. Não adianta tomar remédios recomendados pelos médicos e não mudar comportamentos que prejudicam o sono”, pontua Márcia. Entre as recomendações para uma boa noite de sono estão deitar-se sempre no mesmo horário, evitar cafeína e atividade física poucas horas antes de dormir e não ver TV no quarto.
Continue lendo: Uma bela adormecida
Então não durmamos no ponto.
ResponderExcluir