sábado, 31 de outubro de 2009

Estudante da Uniban se sentiu uma criminosa.


“Me senti um bicho, uma criminosa”, diz estudante da Uniban
Geisy Vila Nova Arruda foi hostilizada na faculdade porque foi assistir às aulas de minivestido
Eduardo Marini, do R7
Geisy Vila Nova Arruda, 20 anos, 1,70 metro, loira, olhos verdes, é a terceira dos quatros filhos de um casal de classe média baixa de Diadema, cidade do ABC paulista. Estuda no primeiro ano de Turismo da Universidade Bandeirante, campus São Bernardo do Campo, também no ABC. Na quinta-feira (22), ela foi vítima de um dos mais insanos atos coletivos de que se tem notícia nos últimos tempos. Centenas de estudantes, inclusive mulheres, a atacaram com palavrões, termos chulos e ameaças de agressão e de estupro pelo simples fato de ela usar um minivestido. Nesta entrevista - concedida ao R7 na sexta-feira (30) com o mesmo vestido usado no episódio que ganhou as páginas do YouTube -, Geisy lembra que sentiu “medo e vergonha”. E alerta: “vou processar muita gente”.
Veja o vídeo feito por alunos dentro da universidade.R7 – Os gritos e palavrões começaram assim que você chegou ao campus?Geisy Vila Nova Arruda – Não. Cheguei por volta de 19h50 e fui direto para a sala. Na entrada, ouvi um ou outro comentário, um “gostosa” aqui, um outro ali, mas nada grave ou fora do aceitável. A coisa começou a ficar feia quando fui ao banheiro, por volta de 20h40. Meninas me olharam muito feio no banheiro. Se alguma disse algo, não ouvi. Mas, na volta para a sala, começaram com os palavrões. Alguns tentaram colocar o celular embaixo do meu vestido para fotografar.R7 – Você voltou para a sala de aula?Geisy – Sim. E trancamos a porta. Foi quando a situação começou a sair de controle. Eles chutavam a porta, batiam na janela, tentavam filmar tudo com os celulares. Gritavam: “puuu-ta, puuu-ta”, “deixem ela com a gente”, “nós vamos estuprar”, “vamos linchar” e outras coisas terríveis. Tive medo e muita vergonha. Era como se eu fosse um bicho, uma criminosa. Fiquei em estado de choque. Não acreditava que aquilo estava acontecendo comigo. Ainda estou assustada. Diga-me uma coisa: se eu fosse prostituta, existiria uma justificativa para me agredirem? Então está correto sair pelas ruas identificando prostitutas para bater ou cometer estupro só pelo fato de elas serem prostitutas? Claro que não. Isso é preconceito, retrocesso, burrice, estupidez. Uma falta total de civilidade. R7 – Este seu vestido me parece normal. Diante do que é possível ver em algumas faculdades urbanas brasileiras, diria que é até comportado...Geisy – É o que eu penso.R7 – Você já foi à aula com roupas semelhantes? Geisy – Claro. Com vestidos até mais decotados e ousados. Tenho fotos no Orkut com roupas bem mais curtas. Eu me visto dessa forma. Gosto de ser assim. É um direito que tenho.R7 – E aí?Geisy – A faculdade cometeu vários erros. Demorou muito a mandar seguranças para a sala. Um deles, em vez de pensar em como resolver a situação, passou a me repreender. Fazia perguntas do tipo “francamente: isso é roupa para vir estudar?” e “você não tem vergonha?”. Imagine a situação: as pessoas da sala com medo e os caras pensando em repreensão, em falso moralismo. O que eles têm a ver com a maneira como me visto? Quero lembrar duas coisas importantes. Primeiro: a polícia foi lá para proteger a minha vida, a do nosso professor e a dos meus colegas de turma, e não para me expulsar do campus, como muitos disseram. Segundo: minha turma toda ficou ao meu lado. Ninguém apoiou aquela loucura.
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2 comentários:

  1. O nível de agressão moral vivenciado pela Geisy, estudante de Turismo, nas dependências da UNIBAN, tendo como agentes estudantes, funcionários e professores desta instituição, denota quão invertidos e perversos são os valores de uma instituição de ensino privada que tem o lucro com seu objetivo maior.

    Noções básicas de cidadania não existem entre o corpo discente desta instituição que, além de ser credenciada para ministrar cursos no ensino superior, também ministra educação básica.

    Centenas de alunos escolheram a agressão à Geisy como uma ocupação mais interessante do que assistir às aulas que lhes eram ministradas. É lamentável saber que uma instituição deste nível existe no Brasil sendo ainda credenciada pelo MEC. A educação dos dias de hoje, ministrada desde a educação infantil ao ensino superior, serve para desenvolver nos alunos noções de cidadania, humanidade, respeito, e o que centenas de pessoas da UNIBAN mostraram é o contrário disso. Isso denota quão falido é o projeto educacional da UNIBAN.

    A EDUCAÇÃO TEM QUE SER PÚBLICA E GRATUITA!


    Renata Azevedo Lima
    Historiadora e Professora de História

    renatazevedolima@yahoo.com.br

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  2. Estou de acordo com as considerações da Geisa e com os comentários acima. Deve-se chamar a UNIBAN à responsabilidade. Porque os alunos estavam nas áreas comuns e não assistindo aulas? Que universidade é esta, onde inexiste a motivação, raiz maior da disciplina? Será que estamos testemunhando um comércio deslavado com a educação, a ponto inexistir a real consciência que o objetivo é de qualquer instituição de ensino é com a educação?
    Mas não é só a educação que está em xeque, mas principalmente a sociedade que impõe a expansão capitalista às custas das famílias, ausentes das tarefas da educação das novas gerações e imersas numa total crise econômica e dos valores éticos.
    Geisa deve ir às últimas conseqüencias, incluindo os agentes de segurança e todos os que foram coniventes.
    Deve-se respeitar a liberdade individual. O que aconteceu na UNIBAN foi uma manifestação de um retrocesso cultural que procura dominar a sociedade brasileira sob os signos da repressão e a violência.

    Alexandre Lira
    Professor

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