terça-feira, 14 de julho de 2009

ALÉM DA ESTÉTICA.



Além da estética

Por Fernando Gazzaneo fernando.gazzaneo@folhauniversal.com.br Há cerca de 9 anos, uma novidade da indústria farmacêutica prometia ajudar mulheres a conseguir uma pele bonita e jovem sem cirurgia plástica. No Brasil, a aprovação para fins estéticos da toxina botulínica, mais conhecida pela marca Botox, transformou-se em uma verdadeira coqueluche entre aquelas que desejavam pôr um fim às rugas e linhas de expressão. O que muitos ainda desconhecem, porém, é que a toxina botulínica foi, antes de tudo, descoberta para fins terapêuticos e é usada no País no tratamento de vários problemas, como estrabismo e de sequelas de doenças neurológicas. Quando alguém se submete a aplicações de Botox para minimizar as rugas de expressão, é comum se dizer que a pele da face foi esticada. Mas não é bem isso o que ocorre. No organismo, a toxina botulínica é aplicada diretamente no músculo, onde atua bloqueando a liberação do neurotransmissor acetilcolina, responsável pelas contrações musculares. O resultado desse bloqueio é o relaxamento do músculo. O efeito do medicamento no organismo é temporário e, por isso, é necessário que, após um período, outras aplicações sejam feitas. Este funcionamento da toxina no organismo vale tanto para as funções estéticas quanto para as terapêuticas. No início deste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso da toxina botulínica para o tratamento de bexiga hiperativa, um tipo de incontinência urinária, no qual a pessoa não tem controle sobre a vontade de urinar. A disfunção é mais comum em mulheres e idosos. Aplicada na bexiga, a substância causa o relaxamento temporário do músculo, impedindo contrações involuntárias. "A eficácia é de 90%", explica o urologista Alexandre Trigo, do Hospital Sírio Libanês, de São Paulo. A toxina é usada quando outros tipos de tratamento com medicamentos e fisioterapia não são suficientes para controlar a incontinência urinária.Na área da dermatologia, a toxina é também utilizada para o tratamento de pessoas que sofrem de hiperidrose, produção excessiva de suor, principalmente nas mãos, pés e axilas. "Os cremes, além de uma técnica em que é usada a corrente elétrica para bloquear o fluxo de suor, não são completamente eficientes e podem causar incômodos aos pacientes", explica Bhertha Tamura, chefe de dermatologia do Ambulatório de Especialidades e Casa do Adolescente Heliópolis, em São Paulo. Nos pacientes, pequenas injeções da toxina são aplicadas na primeira camada de pele, reduzindo a produção de suor. O maior inconveniente talvez não seja o incômodo físico do procedimento, mas o preço que se paga por ele: a cada 6 meses, é necessário desembolsar cerca de R$ 1,5 mil por aplicação. Ao contrário da incontinência urinária, o Sistema Único de Saúde (SUS) não arca com as despesas de tratamento da hiperidrose com a toxina. Lesões neurológicas Ainda na infância, o auxiliar administrativo João Batista, de 38 anos, sofreu de uma paralisia cerebral que o deixou com sequelas do lado esquerdo do corpo. Os músculos do rosto, perna e braço ficaram rígidos, além de sofrerem contrações involuntárias. Após submeter-se a cirurgias, João recorreu às aplicações da toxina botulínica para auxiliá-lo na reabilitação. Segundo o neurologista Luiz Antônio Botelho, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o uso do medicamento é visto como a primeira opção para o tratamento da espasticidade (rigidez muscular excessiva que compromete a mobilidade de pacientes vítimas de acidente vascular cerebral, traumatismo craniano, paralisia cerebral e lesão medular). "Com o relaxamento dos músculos, a toxina pode diminuir a dor e facilitar o alongamento dos membros comprometidos, durante fisioterapia", explica. Ainda segundo o especialista da Unifesp, a substância é a principal ferramenta no tratamento de distonias, contrações dos músculos que causam movimentos bruscos e involuntários, principalmente na região da cabeça, pescoço e braços. "Para este tipo de lesão neurológica, o efeito do Botox dura 3 meses", diz.

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