quinta-feira, 20 de junho de 2013

Marcar a pele para quê?


Tatuagens são vistas com preconceito, atrapalham numa possível contratação de emprego e ainda estão associadas à criminalidade


O cantor Justin Bieber exibiu em maio mais três tatuagens. Agora o astro teen de 19 anos, que coleciona fãs pelo mundo afora e ainda assim se sente sozinho no mundo, já ostenta mais de 16 marcas na pele e faz questão de exibir cada uma de suas novas tatuagens, além de enaltecer o debute de jovens amigos na mania, o que pode resultar em incentivo a seus fãs, muitos ainda crianças.

É comum fãs copiarem ídolos. O paulista Sérgio Luís caiu na tentação aos 25 anos. Sonhando ser cantor de rock de sucesso, ele acreditou que fazer tatuagem chamaria a atenção. “Eu fiz um tribal, por influência do rock e de uns livros. Depois que eu vi o Zombie Boy, um modelo canadense, no clipe da Lady Gaga, quis ficar igual e em menos de 4 anos cheguei a 170 tatuagens”, diz Sérgio.

“Acreditei que aquilo me alimentava de alguma forma e comecei a fazer uma por semana. Mas eu precisava era alimentar o espírito, não a carne”, avalia Sérgio, que depois de sentir preconceito da sociedade, se entregar ao vício de drogas e bebidas, tomar remédio e pensar em internação, procurou ajuda na Universal de São José do Rio Preto, onde vive no interior paulista.

“Antes das tatuagens eu tinha trabalhado em shopping, com operadoras de plano de saúde, em vários lugares. Mas depois, todo pintado, foi ficando difícil conviver com a discriminação da sociedade. Só quando entrei aqui (na Universal) eu me libertei”, disse Sérgio, que hoje trabalha em serviços gerais.

“No caso do Sergio, eu o atendi pela primeira vez. Por ser todo tatuado, até no rosto, as pessoas podem pensar que ele é uma pessoa problemática, transtornada. Mas, conversando, vi que não era nada disso. A tatuagem é marca que a pessoa faz no corpo, mas temos que vê-la como uma alma”, disse o pastor Thiago Pessoa, responsável pela Força Jovem Universal de São José do Rio Preto.


“No começo ele pensou que sofreria preconceito, porque aonde ia ele era olhado de forma negativa, mas aqui na Força Jovem acreditamos nele e o tratamos com respeito”, explicou o pastor Thiago. “Tratamos a pessoa tatuada ou com piercings como as outras. Ela não é anormal. Jesus nunca discriminou ninguém, a gente não vai tratar a pessoa de forma diferente. Ele disse ‘vinde a mim como estás’. Nós temos que ajudar quem quer que seja a buscar a mudança de vida, independentemente da aparência”, completou o pastor.

Apesar da receptividade amigável e de agradecer pela recuperação dentro da Universal, Sérgio se arrepende e diz que errou em fazer tatuagem, prática que Deus proibiu entre os filhos de Israel ao orientar o povo a não fazer marca alguma em seu corpo, como descrito em Levíticos 19.28: “Pelos mortos não dareis golpes na vossa carne; nem fareis marca alguma sobre vós. Eu sou o Senhor”.

A inspiração em ídolos como Justin Bieber ou o Zombie Boy foi representada em forma de música na pele de Marinara Rizzo. “Eu sou muito fã dos Beatles e me inspirei na música ‘Lucy In The Sky With Diamonds’ (Lucy no céu com diamantes, na tradução). Coloquei ‘Mari in the sky with’ e um diamante desenhado, que representaria meus amigos, explicou a paulistana Marinara, que tem 19 anos, mas fez a tatuagem quando era menor de idade, o que é proibido por lei, e sem autorização dos pais.


“Eu já tinha cara de maior de idade quando fiz a tatuagem e nem me pediram nada. Cheguei bem arrumada e tudo.” Marinara, hoje, lamenta pela marca e tenta escondê-la quando possível. “Foi no ombro e aparece só quando eu coloco regata. Então eu uso camiseta, explica, antes de admitir a vontade de tirar a marca do corpo.

“Marcar corpo não é legal, além de não ser bem visto pela sociedade. Se eu pudesse hoje eu tiraria, mas além de ser muito caro ainda é dolorido e precisa ser feito em várias sessões”, comenta a jovem, ciente de que deveria gastar mais de dez vezes o valor de R$ 150, pago na época em que se tatuou e sem citar o risco de ficar com cicatrizes eternas. Sérgio Luís não tem como retirar as tatuagens sem deixar marcas.

O preconceito social enfrentado por Sérgio e Marinara pode resultar em maiores problemas, além da discriminação de um eventual empregador, caso o desenho escolhido seja também um código utilizado por criminosos, algo bem comum nos presídios do Brasil.


Existe até uma Cartilha de Orientação Policial da Secretaria da Segurança Pública da Bahia em que os significados de cada desenho são identificados como códigos entre os criminosos. Imagine se você escolher, por exemplo, marcar o corpo com algo que o identifique como matador de policial ou então como traidor de criminosos?

A associação entre tatuagem e crime é vista no mundo afora, seja em famosas máfias internacionais ou até mesmo em gangues norte-americanas, como relatou o ex-viciado e integrante de gangue de rua Damien Jackson, que marcou o corpo com várias tatuagens no período em que cometia crimes .

Depois de conhecer o trabalho da Universal de Atlanta, Damien se transformou em referência e virou palestrante e autor de sucesso com o livro “Eu Deveria Estar Morto” (Editora Unipro), que narra a história real de quem viu o lado sombrio e cruel da vida e agora tenta retirar essas marcas, transmitindo conhecimento aos jovens em escolas norte-americanas.

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