segunda-feira, 3 de junho de 2013

Adolescência interrompida Além da perda de uma fase da vida, jovens correm mais risco de morrer por complicações durante o parto


Uma em cada cinco mulheres no mundo todo vai dar à luz até os 18 anos de idade. Não, não é uma projeção futurística, esotérica ou coisa do tipo. E, sim, o número assusta. A estimativa é da Organização Mundial da Saúde (OMS), preocupada com a gravidez na adolescência (entre 10 e 19 anos, pelo critério das Nações Unidas), a principal causa de morte das mulheres dessa faixa etária, 1 milhão anuais, segundo levantamento da ONG Save The Children.

As jovens não estão preparadas para gestar uma vida. A organização não governamental alerta que mulheres entre 15 e 19 anos têm duas vezes mais chance de morrer do que mães acima dos 20 anos. Entre meninas de 10 a 14 anos a probabilidade é cinco vezes maior (veja mais dados no quadro abaixo). Nesta última faixa etária, inclusive, ainda com o corpo de menina, cintura e pélvis pequenas, o parto pode ter dificuldades de realização e até ser prolongado. “O problema é coincidir a gravidez com o desenvolvimento do corpo de adolescente”, explica Ademir Lopes Júnior, diretor da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC). O risco também está presente acima dos 15 anos, “principalmente pela pressão alta e as complicações infecciosas relacionadas ao parto”, acrescenta Marco Aurélio Galletta, professor de Medicina da USP e responsável pelo setor de Gravidez na Adolescência do Hospital das Clínicas de São Paulo.

O perfil dessas jovens mães, de acordo também com estudos da OMS, é de, geralmente, mulheres pobres, com menos acesso à educação e moradoras de áreas rurais. No universo daquelas entre 15 e 19 anos, estima-se que cerca de 15,2 milhões dão à luz anualmente em países subdesenvolvidos. Muitas nem sequer entendem o que estão passando e, desesperadas, com pouco ou quase nenhum dinheiro, apelam para o aborto de risco, utilizado por aproximadamente 2,5 milhões. Acabam vítimas de locais com péssimas condições sanitárias e podem sofrer sérias consequências. “É perigoso para qualquer uma. Entre adolescentes é mais arriscado. A ficha só cai muito depois, aí fica complicado: mais infecção, mais perda sanguínea e maior chance de esterilidade”, avisa Galetta.


A juventude mostra pouca adesão às orientações do pré-natal, isso impede cuidados essenciais. Cerca de 1 milhão de crianças morrem todo ano logo no primeiro dia, ou por asfixia (pelo nervosismo da mãe), ou por prematuridade na formação de órgãos.

O último levantamento do Ministério da Saúde registrou perto de meio milhão de grávidas em 2009: 444.056 grávidas, para ser exato. “Não é nem questão de fazer campanha, dar camisinha e pílula, porque essas meninas que engravidam sabem de tudo isso. É muito mais complicado. Tem a ver com a perspectiva de vida dessas moças para o futuro”, reconhece Galetta. “A gravidez é, na verdade, um indicador de vários problemas que já estavam ocorrendo anteriormente. Investir em educação naturalmente faria com que as mulheres se cuidassem e pensassem em projetos de vida para além do ‘ser mãe’”, sugere Lopes Júnior.

Prevenção é sempre o melhor caminho. Adolescentes que tenham objetivos definidos para o futuro e que saibam se valorizar terão menos chances de interromper suas vidas por conta de uma gravidez indesejada.

O pouco contato com os pais, o vazio existencial e a falta de planejar o próprio futuro, somados à superexposição a programas de TV que banalizam o sexo e que fazem a adolescente acreditar que sua existência se resume a encontrar parceiros, são alguns dos fatores que predispõem os jovens a uma gravidez precoce.


Quando a gravidez acontece, os amigos se afastam, o namorado, na maior parte das vezes, também. Sozinha, a adolescente tem de aprender a lidar com as mudanças indesejadas no corpo, com a solidão e a decepção de ter sido abandonada e com a responsabilidade de cuidar de uma criança. Muitas entregam seus filhos a suas mães, como se pudessem transferir a responsabilidade, e acabam se arrependendo mais tarde.

A sociedade tem se mobilizado em iniciativas como o Projeto T-Amar (saiba mais no site www.projetot-amar.com), que presta assistência a mães solteiras e adolescentes grávidas. Rita Reis, coordenadora do Projeto, conta o objetivo do trabalho realizado com essas meninas: “Queremos mostrar para essas mães que elas podem vencer qualquer situação, não importa se estão sozinhas. Tudo depende delas”.

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