terça-feira, 28 de maio de 2013

Como encontrar a saída quando a pressão dos problemas aumenta, a vontade de viver acaba e a única saída possível parece ser a morte?



No dia 6, o jovem Eduardo Hiroshi, de 35 anos, acabou com a própria vida. Segundo o Portal dos Jornalistas, o profissional de um jornal popular de São Paulo voltou para casa na hora do almoço, trocou a foto de seu perfil em uma rede social, divulgou a carta de despedida e simplesmente saltou da sacada do apartamento em que morava na capital paulista.

Bem-sucedido, Hiroshi já estava no ramo há 13 anos e na posição de editor, na seção que tratava de carros, sua paixão confessa. O que, então, levou um jovem como esse ao suicídio?

“O xis da questão é entrar em um desespero e não ver mais saída na vida”, explica o psicólogo Irineu Miano Júnior. “Na verdade, a pessoa não quer morrer, quer mudar de vida, quer alguma outra coisa que não aquilo que está vivendo, mas não encontra alternativa”, acrescenta.

Foi o que aconteceu com Ryoko Tashina, de 61 anos. Ao ser abandonada pelo marido, viu sua vida ser tragada por uma espiral que a levou ao fundo do poço. A ideia de suicídio não saía de sua mente e tentou se matar diversas vezes.

Em uma tentativa de mudar de vida e preencher o vazio que sentia, resolveu morar com o filho no Japão. “Achava que era o ambiente, que mudando de lugar minha vida mudaria também, pois estava cansada de tudo. Mas percebi que mesmo morando no Japão, tudo continuou a mesma coisa”, observa Ryoko.

A cultura do pessimismo, em que sobram exemplos ruins e previsões catastróficas, empurra as pessoas cada vez mais para baixo. E quando o pessimismo ganha uma aura de “intelectualidade” e um certo glamour, há a sensação de que os pensamentos negativos é que são, verdadeiramente, reais.

Os pesquisadores Daniel Prezant e Robert Neimeyer descobriram que mesmo com o nível de depressão controlado, a abstração seletiva e a supergeneralização se mantiveram como fatores de previsão do desejo de suicídio. A abstração seletiva é um erro de pensamento que consiste em prestar atenção a um detalhe negativo e ignorar o restante do quadro. É como se olhasse todas as situações com lente de aumento. Por exemplo, achar que receber uma avaliação negativa do chefe significa que todo o seu trabalho é uma porcaria. A pessoa ignora qualquer elogio e se foca apenas na crítica recebida, depois alimenta aquele pensamento focando cada vez mais no detalhe, desconsiderando o contexto.

Já a supergeneralização consiste em tirar uma conclusão negativa radical baseando-se em uma situação isolada e aplicar o conceito a outras situações. Por exemplo, achar que só por ter se sentido desconfortável com um grupo de pessoas, não tem capacidade de fazer amigos nunca será amado ou sequer aceito.

Aprender a desconfiar dos próprios pensamentos é um passo importante no caminho de mudar a direção da vida.

“Existem pessoas com predisposição emocional. O suicídio é mais frequente em quem não tolera frustrações, por exemplo”, ensina Fernanda Rezende, psicóloga clínica e hospitalar com especialização em tanatologia (estudo da morte).


Levantamento da Organização Mundial da Saúde divulgado em setembro do ano passado aponta que um milhão de pessoas se mata por ano, em média, o equivalente a 0,01% da população mundial. É como se alguém se matasse a cada 40 segundos.

O componente da impulsividade até está presente, mas não é o principal. “Ninguém acorda e pensa: ‘Vou me matar!’ É um processo. A pessoa vai tentando pequenos suicídios, quase como uma necessidade de pedir socorro”, explica Fernanda.


O suicídio é um fantasma cada vez mais presente no Brasil. Números da OMS apresentam aumento na quantidade de suicídios de 1980, início da medição, até a última, em 2008. Se antes o índice era de 3,2 suicídios para cada 100 mil habitantes, atualmente está em 4,8. Um aumento de 50% em quase 3 décadas. Muito alto se comparado com o crescimento mundial, de 60% nos últimos 45 anos.

“A pessoa tem um problema e adia a resolução, preferindo apenas administrá-lo. O que é pequeno hoje vai ser grande amanhã. E um problema gera outro. Esse acúmulo faz a pessoa se sentir encurralada e aí uma das opções acaba sendo o suicídio”, lamenta o bispo Emerson Carlos. “Quem pensa que está acabando com os problemas, na verdade está apenas começando. Por isso, vamos sentar, vamos resolver para que nem passe pela cabeça da pessoa a hipótese de suicídio”, emenda.

Mônica Franco, de 25 anos, tentou o suicídio mais de uma vez. “Fui diagnosticada com transtorno bipolar, tinha síndrome do pânico, ficava 3 dias sem comer. Me trancava no quarto, não dormia, chorava e escrevia cartas com ideias suicidas”, relembra.

Cheia de problemas e perturbações, a moça percebia que havia algo errado, mas não sabia como lidar com toda aquela frustração. Certo dia, apontando uma faca para si mesma, pronta para tirar a própria vida, lembrou-se de Deus, desistiu da tentativa e pediu a Ele para lhe mostrar como sair daquela vida, pois ela não conseguia sozinha. Na mesma semana, decidiu ir à Universal, que ficava próxima de seu trabalho. Mônica afirma que aquele foi um momento de definição. “Tive meu encontro com Deus logo no primeiro dia e cheguei em casa feliz, falando para minha mãe que agora tinha razão para viver. Sabia que iria vencer.”

Já para Rioko Takashina o fim do sofrimento foi um processo mais lento. Ela também resolveu ir à Universal depois de entender que não queria se matar, queria, sim, uma nova vida. “Comecei a participar das reuniões, não foi fácil, aqueles sentimentos ruins lutavam dentro de mim. Mas fui persistindo e hoje estou livre”, conta.

O Bispo Júlio Freitas, habituado a atender pessoas que chegam à Universal sofrendo como Rioko, alerta: “Todos os outros problemas têm solução. Na realidade, só o suicídio não tem solução”.

Acabar com a vida é acabar também com a única oportunidade de resolver o problema. Somente enquanto estiver viva, a pessoa terá a chance de ser ajudada e experimentar uma nova forma de pensar e de viver. Novas possibilidades que a visão distorcida não lhe permitia enxergar.

Falar em suicídio não é apologia e sim prevenção

Profissionais que de alguma forma trabalham com o suicídio costumam ser mal interpretados, como se fizessem apologia. Estão na verdade, em busca de mais prevenção e maior conscientização. Nessa linha, existem grupos como o da psicóloga Fernanda Rezende, o “Vida e Morte”, que atendem pessoas que tentaram o suicídio.

“O suicida é uma pessoa adoecida. A ideia é tentar ajudá-lo a sair desse quadro mais depressivo, psicótico, e, gradativamente, fazer com que volte à sua rotina”, avisa a especialista. “O ato em si é muito agressivo, vai ser sempre uma cicatriz. Tanto para quem sobrevive a uma tentativa como para a família de quem tentou ou ficou.”

Engenheira agrônoma, Adriana Rizzo se interessou pelo tema e há 15 anos é voluntária do CVV. 

“É uma conversa mesmo, como se fosse com qualquer um que você conhece. A ideia é acolher essa pessoa, deixar que fale sobre o que quiser e à vontade”, conta. “Não interferimos ou damos opinião. Abrimos o espaço. Encaramos como um momento em que cada um pode esclarecer ideias, facilitar a organização das suas ideias para seguir
um caminho”.

Hiroshi escreveu, em sua carta de despedida: “Bom, pessoal, é isso. Nos últimos dias contei várias histórias e recuperei fotos de viagens porque queria relembrar bons momentos e dividi-los com os amigos. Mas o retorno para a realidade é mais difícil. Obrigado a todos pela audiência, pela presença e pela amizade. Se não deu, é porque a vida nos reservava outros planos. Parto para outra e não sei o que vou encontrar”. Iludido pela aparência de escape, entre a incerteza da vida e a incerteza da morte, o rapaz escolheu o caminho sem volta, sem retorno, sem solução. Tivesse esperado mais, buscado outros caminhos em vida, o que teria a perder? Porém, escolheu perder a possibilidade de descobrir uma nova vida. E quem aceitar o desafio de escolher a Vida, terá como recompensa a verdadeira paz
.

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