segunda-feira, 15 de abril de 2013

Para desafiar estereótipos


Moda plus size veio mostrar que existe espaço para todos os sonhos, independentemente do que marca o ponteiro da balança


“O maior preconceito vinha de mim, que não me aceitava como eu realmente era.” A frase de Adriana Mattioli revela o quanto é difícil aprovar o próprio corpo quando não se tem as medidas consideradas ideais pela sociedade. Modelo há 5 anos, ela enfrentou desafios pessoais e profissionais até conquistar espaço no cenário da moda plus size – voltada para modelos com manequim acima de 44. Esse mercado cresce a cada dia no Brasil e já movimenta anualmente cerca de R$ 4,5 bilhões.

O desejo de ser atriz sempre existiu e foi assim que surgiu a oportunidade inicial de trabalhar como modelo. “Sempre tive dificuldade com os trabalhos por não ter as medidas consideradas padrão. Achava que estaria completamente fora do mercado.” A perspectiva profissional ganhou novos contornos quando Adriana descobriu o universo plus size, onde ela encontrou espaço para mostrar talento e beleza. “Renovei minhas fotos, fui atrás e comecei a trabalhar”, conta a jovem que passou a adolescência acreditando que precisava ser supermagra para ser bonita. “Eu não aceitava que a minha estrutura física nunca permitiria isso. Sofri com o efeito sanfona, tomei remédios. Tudo para me encaixar nesse padrão de beleza irreal”, completa Adriana, que acredita que apesar de o plus size ser uma tendência real, ainda há muito o que fazer: “Bom será o dia em que qualquer um poderá entrar em uma loja e encontrar a peça que gostou em seu tamanho e não apenas alguns modelos em ‘coleções especiais.’”

Para a psicanalista Joana de Vilhena Novaes, coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social da PUC-Rio, as pessoas acima do peso padecem de invisibilidade social. “Os desfiles e a moda plus size podem ser considerados uma tentativa de inclusão dessas pessoas que não se enquadram no padrão.”

A juventude e a magreza, ainda segundo a psicanalista, representam o que é considerado belo nos dias de hoje. “Estamos na fase de obsessão por lisos. Pele lisa, cabelo liso. Quem não se enquadra nisso está excluído. Mas é preciso entender que saúde não tem a ver com ter 1,70 metro, pesar 50 quilos e ter olhos azuis. Existe um padrão de magreza excessiva, e é isso que a gente tem de combater”, defende.


O culto excessivo à magreza pode levar a casos extremos como o da russa Valéria Levitin, que desenvolveu anorexia na juventude e hoje, aos 39 anos, pesa apenas 25 quilos. Valéria poderia ser um exemplo a não ser seguido, mas recebe cartas de jovens que querem ser como ela. “Muitas jovens dizem que me veem como inspiração.” Ela conta que a doença se desenvolveu na adolescência, quando criou a ilusão de que, para ser aceita pelos colegas de escola e vizinhos, precisava ser cada vez mais magra. Fez dietas mirabolantes em busca da magreza.

A jornalista Renata Poskus, de 31 anos, também fez regimes e tomou remédios para emagrecer sem prescrição médica. Em 2008, enquanto travava uma batalha contra a balança, decidiu criar um blog para contar os desafios enfrentados. “Em 2009, depois de uma desilusão amorosa, descobri que as fotos que eu tinha nas redes sociais eram com o ex-namorado e amigos. Em nenhuma foto eu estava sozinha. Foi quando eu decidi fazer fotos para mim.”

Ela reuniu algumas meninas que, como ela, estavam acima do peso e promoveu o primeiro “Dia de Modelo Plus Size”, evento onde as garotas foram clicadas por um fotógrafo profissional. Logo depois, outras meninas procuraram Renata, e o evento se repetiu. “Foi um sucesso. Desde então, somamos mais de 600 ensaios realizados, cada um deles com 12 a 18 meninas.” O número de acessos ao blog http://mulherao.wordpress.com crescia e as leitoras interagiam. A partir daí, Renata trabalhou como modelo plus size, tornou-se comentarista de moda e ainda teve ideia para mais um projeto.

“As pessoas não sabiam onde comprar roupa. As marcas não conseguiam divulgar os produtos, pois não conseguiam ser inseridas no mundo da moda. Então, decidi fazer o “Fashion Week Plus Size”, desfile que surgiu do interesse das marcas em divulgar as coleções e das meninas em conhecer as novidades da moda.” Os desfiles acontecem a cada 6 meses e a 8ª edição será no próximo dia 21 de julho, no Memorial da América Latina, em São Paulo. Tudo isso mostra que já não é preciso manter medidas mínimas para brilhar na passarela.

Contra os extremos

O excesso de peso, assim como a magreza absoluta, também é prejudicial, por isso é importante ter a saúde sempre como o fator mais importante. A psicanalista Joana de Vilhena Novaes alerta para os cuidados com a alimentação, pontuando que a população está comendo cada vez mais e pior. “O alimento ficou mais acessível, porém essa alimentação mais barata é calórica e pouco nutritiva. A obesidade está se tornando uma epidemia.”

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que metade da população adulta está com sobrepeso, o que corresponde a 48% das mulheres e 51% dos homens. Se o ritmo de crescimento for mantido, a parcela com sobrepeso corresponderá a 30% da população em 10 anos. O percentual é o mesmo dos EUA, onde a obesidade já é considerada um problema de saúde pública.

O sobrepeso é perigoso e pode acarretar doenças como diabetes ou pressão alta. Por isso, o importante é cuidar da saúde sem se tornar refém dos padrões impostos pela sociedade.

Vestuário feminino terá normas padronizadas

A Associação Brasileira do Vestuário (Abravest), em convênio e parceria com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), mantém estudo para padronizar o vestuário feminino em todo o Brasil. A iniciativa para elaborar uma nova padronização surgiu há 16 anos, segundo o presidente Roberto Chadad, e deve ser concluída no final deste ano.

“Antigamente, as roupas femininas eram com numeração e os números ficavam exagerados. Então, começou-se a usar letras. GG, XP, EXG e não se sabia até onde essas letras iam chegar. Por isso tivemos a inciativa de padronizar esses tamanhos”, conta Chadad. Serão três referenciais de medidas para o público feminino. “A primeira será para as mulheres com o peso padrão, a segunda para mulheres esportistas e com corpo mais atlético e a terceira para mulheres plus size.” O objetivo é designar o tamanho da peça de vestuário com detalhes, para que ela sirva exatamente no corpo da mulher brasileira.

“As lojas vão ter de especificar nas araras esses detalhes. O primeiro referencial para medidas é a altura. O segundo é a distância de ombro a ombro. O terceiro referencial é a medida dos quadris e da cintura. Tudo isso vai estar discriminado na etiqueta.” Para Chadad, os fabricantes vão melhorar a qualidade do produto, pois vão precisar de mais atenção na hora de fazer o acabamento. Outra vantagem apontada são as vendas pela internet. “Hoje, comprar pela internet é um risco, porque você não pode experimentar. Quanto tiver as medidas mais especificadas, vai ficar mais fácil.”

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