domingo, 2 de dezembro de 2012

O Brasil tem cerca de 259 milhões de linhas móveis e um número cada vez maior de usuários que não sabem viver longe de um telefone celular.


 É como se lhes faltasse um braço. Médicos advertem: dependência da tecnologia é uma doença patológica





A maquiadora e blogueira Carolina 
Tsuyami, de 29 anos, tem um companheiro inseparável há 2 anos. No trabalho, na balada, no trânsito, na cama e até no banheiro, o celular não sai de perto dela. “Sou viciada mesmo, não largo”, confessa, rindo. Quando o toque do smartphone avisa que é hora de acordar, ela agarra o aparelho e, ainda deitada, começa a checar e-mails, mensagens, blog e redes sociais. “Resolvo várias coisas no início do dia”, afirma.


O apego ao celular não faz parte apenas da vida de Carolina. Pesquisa da Cisco indica que 90% dos brasileiros entre 18 e 30 anos com smartphone checam o telefone antes de levantar da cama. A instituição mapeou 1,8 mil jovens em 18 países. Estudo da revista Time e da Qualcomm com 5 mil pessoas em oito países mostra que 79% se sentem incomodadas sem o aparelho. Entre 29 de junho e 28 de julho, a Time ouviu usuários de serviços móveis no Brasil, nos Estados Unidos, na China, na Índia, na Indonésia, na Coreia do Sul, no Reino Unido e na África do Sul. Dos brasileiros entrevistados, 83% dizem se sentir “perdidos”, “nervosos” ou “ansiosos” sem o celular e 74% dormem com ele perto da cama.


A dependência de telefones móveis e outras tecnologias foi batizada de nomofobia (do inglês, no mobile, medo da falta de celular). Mas há diferença entre o usuário constante e aquele com dependência patológica, como explica a psicóloga Sylvia van Enck, do Núcleo de Dependência de Internet do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. “É importante observar como a pessoa se sente sem a tecnologia. Quem tem nomofobia pode apresentar taquicardia, pânico, preocupação com o que está deixando de receber, queda de rendimento no trabalho e comportamentos agressivos”, diz. (descubra qual a sua relação com a tecnologia no fim desta página)




Os celulares chegaram ao Brasil em 1990, pesavam cerca de 350 gramas e faziam “apenas” ligações. Hoje, os produtos mais modernos reúnem câmera digital, tocador de música, mensagens de texto e voz, GPS, conexão com a internet e telas sensíveis ao toque, entre outras facilidades. O País tem cerca de 259 milhões de linhas móveis e só em 2012 o número de smartphones vendidos deve chegar a 16 milhões, segundo a consultoria IDC. Com tantos atrativos, Sylvia admite: é difícil encontrar quem não se sinta, no mínimo, desconfortável longe do celular.


Carolina Tsuyami nunca desligou seu smartphone e não consegue ficar mais de 30 minutos sem dar uma olhadinha no visor. “Ele já me salvou de vários apuros, pago contas, troco mensagens com amigos, atualizo o blog ‘Mentes Desocupadas’. Se vou a um restaurante, entro no Foursquare (rede social) para ver dicas de quem já visitou o local.” Ela gosta de tirar fotos dos pratos que experimenta e de roupas, maquiagens e acessórios que usa, além de não dispensar o telefone nem no banheiro. “Deixo-o de uma forma que eu consiga enxergar dentro do boxe. Dependendo da mensagem, não espero terminar o banho para ver.” Carolina ainda pensa no visual do produto. Ela tem dezenas de capas, que são escolhidas de acordo com o lugar que vai visitar ou com o humor dela.


Para a psicóloga Ana Luiza Mano, do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da PUC-SP, o limite entre o uso saudável e o prejudicial não está nas horas que se passa conectado às tecnologias, mas na perda de controle na utilização delas. “Há sinais que mostram que o seu uso não está sendo legal, se você não dorme à noite, bate o carro por causa do celular ou, ao jantar com os seus amigos, eles reclamam que você não desgruda do aparelho. É preciso repensar. ”


Ana Luiza lembra que o uso exagerado do celular e outras tecnologias pode expressar sintomas de uma ansiedade que a pessoa já tem. Segundo ela, as consequências da compulsão por tecnologias podem ser físicas, como dores e lesões, além de isolamento do trabalho, da escola, da família e dos amigos.


Após reclamações do namorado e de familiares, Carolina garante que aprendeu a controlar a relação com o smartphone. “Depois que minha irmã bateu o carro, parei de usar o telefone enquanto dirijo. Quando estou com amigos, tento não mexer muito e me preocupo com as dores na mão”, diz, certa de que o celular está a seu favor.


Para quem sente angústia ou algum outro prejuízo causado pelo celular, o Instituto de Psiquiatria da USP oferece o atendimento gratuito, individual e em grupo. Na PUC-SP, o atendimento é feito por e-mail.


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