segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Tarja preta

Brasil é o 2º país do mundo que mais usa remédio para déficit de atenção. Alto consumo preocupa









O consumo de cloridrato de metilfenidato (Ritalina/Concerta) tem crescido entre os brasileiros e o País já é o segundo no mundo que mais usa o medicamento, atrás apenas dos Estados Unidos. A substância é utilizada no tratamento de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), mas seu uso divide opiniões e os números elevados preocupam especialistas.


“O consumo saltou de 71 mil caixas para 2 milhões de caixas de metilfenidato, um aumento de mais de 400%”, afirma a professora Marilene Proença, do Instituto de Psicologia da USP, e representante do Conselho Federal de Psicologia (CFP), referindo-se ao período entre 2000 e 2009.


Com o objetivo de alertar sobre o número crescente de diagnósticos em crianças e adolescentes, o CFP lançou a campanha “Não à Medicalização da Vida”. De acordo com a psicóloga, muitos são identificados como portadores pelo fato de não estarem indo bem na escola, por não estarem conseguindo prestar atenção. “A esse tipo de comportamento tem se atribuído uma disfunção no organismo”, explica. 


Para o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva, a questão não é tão simples. “Transtorno de déficit de atenção não tem como ser tratado sem medicação. O que acontece é que pessoas que não são médicas estão fazendo afirmações sem ter conhecimento do assunto”, critica.


De acordo com a Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA), o TDAH é um transtorno neurobiológico, com grande índice genético, que tem início na infância e pode persistir na vida adulta, comprometendo o funcionamento da pessoa em vários setores da vida e se caracteriza por alterações como hiperatividade, impulsividade e desatenção. 


Na avaliação do psiquiatra Silva, cerca de 5% da população brasileira tem a doença, o que equivale a 10 milhões de indivíduos. “Se todos eles tomassem a medicação mensalmente, seriam 120 milhões de caixas por ano”, calcula. 


Marilene acredita que a questão é comportamental e que é preciso levar em consideração as escolas que estão sendo oferecidas aos jovens e crianças. “As crianças da nova geração estão expostas a mais informações e a mais tecnologias. É uma geração mais ativa. As escolas não acompanharam esse avanço. Esse desencontro, ou esse descompasso, está sendo interpretado como transtorno. Se você tem um trabalho de psicólogos na escola, voltados para a criança e professores, o foco vai ser o desenvolvimento no aprendizado”, defende.


Segundo Silva, o avanço da medicina já possibilita a identificação dos sintomas que diferenciam o transtorno de outras enfermidades. “Não adianta ‘psicologizar’ a situação. Podem haver diagnósticos equivocados, mas é necessário um médico psiquiatra para fazer o diagnóstico correto”, afirma. “O tratamento não é feito apenas com medicamento. Ele é multidisciplinar, com psicoterapia, cuidados com a alimentação, entre outras coisas. Os pacientes não podem ficar sem tratamento.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

MACACO LADRÃO PM 1