quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O cigarro piora tudo, inclusive o avanço da idade.



 Desde que o frio tomou conta de boa parte do País, o consultório da pneumologista Camille Rodrigues da Silva, de 37 anos, está abarrotado de pacientes vítimas de problemas respiratórios. E não é à toa, pois, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), dois em cada dez brasileiros são afetados por alguma doença respiratória crônica e, no frio, a situação piora. Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) revelou ainda que, com as mudanças bruscas de temperatura, todos os dias, morrem, em média, 75 idosos com mais de 65 anos em São Paulo. Há 10 anos, a professora e mestre pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) também atua no PrevFumo – Grupo de Prevenção e Tratamento de Tabagismo da Unifesp. Camille fala sobre mitos e verdades que envolvem as doenças respiratórias e a relação delas com o cigarro e o frio. 1 – Uma pesquisa da USP apontou que, devido à poluição, a média de vida do paulistano não fumante já é menor em 1 ano e meio do que a população do resto do País. O cigarro agrava essa situação? Em São Paulo, ficamos muito expostos à qualidade do ar ruim. Isso facilita a agressão pulmonar e o desenvolvimento de doenças. O cigarro piora tudo, inclusive o avanço da idade. Após os 35 anos, as pessoas começam a envelhecer e a perder gradualmente a capacidade do pulmão, mas quando são somadas a perda funcional da idade com a agressão do cigarro, o ataque ao órgão acelera. Em uma cidade com poluição e cigarro, o quadro se agrava ainda mais. 2 – Que mal faz a poluição ao organismo e o que ela pode causar a longo prazo? Trata-se de mais um agressor para as vias respiratórias, que facilita a manifestação de doenças e a penetração de vírus. Mas ninguém vai desenvolver um câncer por estar em contato com o ar ambiente, só se já tem propensão. Há uma exceção também para pessoas que têm exposição diária, no domicílio, à queima de carvão, como na China, onde usam para o fogão. Aqui no Brasil, há alguns casos de pessoas que cozinham com o auxílio do carvão, mas isso não ultrapassa 5% da população. 3 – Agora no inverno, como o organismo reage ao frio e como amenizar os problemas da estação? O frio intenso resseca as vias aéreas, promove uma agressão e isso mobiliza o sistema imunológico. Essa agressão das vias respiratórias provoca gripes ou dispara a asma e outras doenças crônicas em quem já tem a tendência. Se a pessoa fuma, o quadro piora, pois fumantes têm mais gripe do que não fumantes. Colocar uma bacia com água no quarto já ajuda bastante em dias muito secos. 4 – E qual o perigo da mudança brusca de temperaturas? Para o sistema respiratório, a temperatura ideal está acima dos 22°C ou 23°C graus. Quando esfria bruscamente, isso agride as vias aéreas e pode desencadear doenças como asma, rinite, enfisema e pneumonia. Nessa época do ano, os consultórios de pneumologistas ficam lotados, fica difícil até arrumar um horário. 5 – Crenças populares dizem que andar descalço e sair com o cabelo molhado causam gripe. O que há de verdade nisso?As pessoas têm que se agasalhar e se proteger do frio, mas alguns dizeres são mitos, como este de lavar a cabeça e ficar com o cabelo molhado. Se a pessoa não molhou a roupa e não vai ficar com a roupa úmida, não tem nada de mais. Andar descalço, se a pessoa não está sentindo frio, também não tem problema. Agora, algumas receitas da vovó ajudam mesmo a aquecer o corpo, como chás, que também hidratam as vias respiratórias, ou mel, que traz uma sensação de bem-estar. Já o limão, que muita gente acredita ser benéfico, não há nenhuma comprovação científica que faça bem ao sistema respiratório. 6 – Uma gripe mal curada pode virar uma pneumonia e matar? Não diria ser possível em qualquer idade. Pode até acontecer, mas em crianças e idosos. Uma gripe pode promover uma lesão nas vias aéreas e facilitar a penetração de bactérias que estão no ar e não entrariam se o corpo estivesse forte. Nos idosos, pode começar com um quadro gripal e a gripe facilita a entrada da bactéria causando pneumonia. O idoso não morre da pneumonia, mas com a doença, que acaba debilitando todo o organismo. 7 – E a vacina da gripe? Tem muita gente que diz que ficou gripada depois que a tomou. Isso é possível? A vacinação contra gripe previne a doença e é recomendada a todos os meus pacientes, principalmente os que têm mais de 60 anos. As pessoas que efetivamente têm a reação são minoria. Vale a pena tomar. 8 – E quanto aos fumantes, qual o perfil de quem decide parar? Somos procurados por pacientes com mais de 40 anos, na maioria mulheres. Elas têm mais dificuldades de parar de fumar do que os homens. Aos 40, a pessoa inicia a reflexão da importância de parar ou mesmo já começou a sentir os efeitos do tabaco, com alguma doença detectada. 9 – Qual o índice de sucesso de quem para de fumar? Conseguimos fazer com que 50% dos pacientes que nos procuram parem efetivamente. Sabemos que, após 1 ano, esse índice cai até 20%, mas ainda é um bom resultado. A literatura médica mostra que menos de 40% das pessoas que tentam sozinhas conseguem parar. 10 – Quando aparecem os malefícios do cigarro e em quanto tempo é possível ver os benefícios em quem para de fumar? Os problemas começam a aparecer depois de 30 anos fumando, levando em conta a média de fumante que consome um maço por dia. Em duas semanas, o ex-fumante já percebe a melhora na disposição para atividades físicas. O sistema imunológico de quem parou de fumar também melhora, o que o fará suportar melhor uma gripe causada pelo ao frio.

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