segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Esta pessoa não vai mais destruir famílias da sociedade.


Não era para estar vivo

História impactante de norte-americano, ex-viciado e integrante de famosa gangue de rua, vira livro que é referência em palestras nos Estados Unidos

ivonete.soares@folhauniversal.com.br
Ivonete Soares

Quem diria... Quem te viu, quem te vê... É ele mesmo? Esses são comentários feitos por quem vê as fotos acima e conhece Damien Jackson. Ele tem só 30 anos, mas o que já vivenciou dá no mínimo enredo para um filme. Sim, “Deveria Estar Morto” (título do livro de Damien) é o que se pensa depois de ler sobre sua trajetória. Sucesso nos Estados Unidos e lançado este mês durante a 22ª Bienal Internacional do Livro, em São Paulo, a obra já foi editada nos idiomas inglês, francês, português e agora está sendo traduzida também para o espanhol.

Viciado, traficante, cruel e frio são adjetivos pejorativos e impactantes que ele usa para definir seu comportamento na adolescência. O trabalho que ele vem desenvolvendo pelo Youth Power Group nas escolas, ruas e guetos tem chamado a atenção de especialistas no enfrentamento às drogas nos EUA, tendo ele recebido menções honrosas e elogios pelas palestras que realiza em escolas, contando o seu depoimento de vida e alertando sobre os perigos deste mal que assola a juventude.

Em visita ao Brasil, Damien esteve com a agenda cheia: participou de vários eventos, fez palestras, deu entrevistas, inclusive à Folha Universal. Domingo (19) esteve ao lado do bispo Edir Macedo em reunião em Santo Amaro, em São Paulo: “A história dele é magnífica, maravilhosa. Recordo que logo que ele e o irmão se converteram, os bandidos queriam pegá-los. Ele fez parte da maior gangue dos Estados Unidos, mas Deus levanta do monturo o necessitado para fazê-lo assentado ao lado de príncipes, e hoje ele está assentado conosco, os príncipes de Deus”, disse o bispo durante reunião no domingo (19).

Folha Universal - Sabemos que o vício atinge todas as classes sociais, mas os jovens de classe baixa, moradores de comunidades, estão mais expostos e suscetíveis ao ingresso nos vícios. Você não tinha este perfil?

Damien Jackson – As circunstâncias e o péssimo exemplo de desestrutura familiar levaram-me às drogas. Aos 4 anos já enfrentava a hostilidade e a negligência dos meus próprios pais. Com esta idade provei uma bebida alcoólica do copo da minha mãe, dada por ela. Mais tarde, aos 8, traguei o meu primeiro cigarro de maconha, oferecido por um tio. Por mais absurdo que pareça, eu gostei e prossegui fazendo o que meus pais faziam. Minha mãe bebia, meu pai usava drogas... Aquele era o exemplo, a referência que eu tinha.

FU – Mas, você não era repreendido por eles, não havia limites?

DJ – Vivia numa família desestruturada, cada um por si. Movido pela curiosidade não resisti, continuei provando e gostando, mas, vou contar isso com mais detalhes adiante.


FU – Sua família era desestruturada, mas, com alto poder aquisitivo, não é?

DJ – Pois é... As raízes deste mal estão em todas classes sociais. Até os 7 anos, morei em uma casa nada simples. Uma bela residência de seis quartos, localizada em um bairro nobre, com vários carros na garagem, empregadas, governanta e direito a passeios de limusine aos finais de semana – uma boa vida norte-americana, que contribuía para disfarçar a infelicidade da minha família.

Mãe mafiosa e pai homossexual

FU – Que ligação sua família tinha com a máfia?

DJ – Minha mãe fazia parte da poderosa máfia italiana e coordenava a venda de drogas em diversos pontos de Atlanta.

FU – E o seu pai?

DJ – Era um pai ausente e pouco se importava com os filhos. Cresci rejeitado, meu pai sequer ficava em casa, mas quando estava me batia sem motivo.

FU – Mas por que tanta revolta dele em relação a você?

DJ – Era um homem problemático. Eu apanhava muito, levava surras do meu pai, muitas vezes sem motivo. Nossa situação piorou quando minha mãe precisou fugir por causa da perseguição da polícia. Deixamos a vida regalada para trás e passamos a viver em situação precária.

FU – Da mansão para a pobreza. Como foi este período?

DJ – Foi um período terrível porque minha mãe, que era compreensiva e carinhosa, tornou-se agressiva. Se as referências familiares já não eram boas, perderam-se com uma revelação surpreendente. Um dia após humilhar muito a minha mãe, meu pai admitiu que era homossexual. Contou que já se relacionara com mais de 2 mil homens. ‘Também tenho HIV’, confessou meu pai, tendo logo após saído de casa.

FU – Foi neste período que você enveredou nas drogas?

DJ – Após um período, minha mãe conseguiu se restabelecer e arranjou outro companheiro, que foi morar com ela. Ele não me aceitava e fez uma exigência: ou ele ou eu. E a minha mãe optou em ficar com ele. Fiquei desnorteado... Procurei meu pai para pedir ajuda e o que recebi foi desprezo e a negativa, ele não quis saber de mim. Fui morar nas ruas e aí tudo começou.

FU – A rua foi o seu passaporte para liberdade e o fim dos maus-tratos. E aí?

DJ – Sim, ganhei a liberdade e parei de apanhar, mas neste período me aprofundei nos vícios da maconha, crack, ecstasy e analgésicos. Rapidamente percebi que teria que assumir a personalidade que as ruas e o vício impõem. Daí para ingressar no crime foi um passo.

Ganhando respeito das gangues


FU – Que artifícios você usou para conquistar espaço no crime? Era inexperiente, de classe de média alta...

DJ – Tornei-me integrante de uma perigosa gangue que age em várias regiões dos Estados Unidos. Bem rápido tornei-me líder do grupo em Gwinett Dekalb, o bairro em que passei a morar. Os “Blood”, que significa “Sangue” em inglês, eram conhecidos pela violência. Arrombamentos, roubos, fraudes de cheques, aliciamento de mulheres para a prostituição, espancamento, estupros e mortes estavam entre os atributos da facção. Só não admitia que os membros de meu grupo estuprassem quem quer que fosse”, diz.

FU – Mas, foi logo aceito?

DJ – Conquistei meu espaço. Para sobreviver no crime foi necessário demarcar o território, impor respeito com os criminosos e traficantes.


FU – Não havia medo, insegurança?

DJ –Vivia um conflito porque não me conformava em ter me transformado naquela pessoa fria e cruel; eu detestava aquela vida. Pouco a pouco, minha vida virou um inferno. Fui preso várias vezes. Era odiado pelos bandidos e pela polícia, tentava me proteger deles da forma que podia.

FU – Não refletia que estava destruindo a sua vida?

DJ – Eu odiava a minha vida. Um dia fui me esconder na floresta, num lugar secreto que poucos da minha gangue sabiam onde ficava. Ali me droguei, bebi. Fui ficando deprimido e os pensamentos vinham como flashes do meu passado, das coisas ruins que praticara e uma convicção maldita de que não havia jeito, que o melhor era acabar com a minha vida. Apontei a arma em direção a minha cabeça. Pensava em dar fim àquele sofrimento ali. Mas, um “amigo” chegou bem na hora e desisti.


FU – Quando a sua “ficha caiu”?

DJ – A cada dia me sentia mais fraco de espírito, sem contar que jamais pensei que passaria dos 18 anos. Meu irmão, 3 anos mais velho do que eu, também esteve lado a lado comigo nesta vida errada. Comecei a frequentar igrejas cristãs, mas era muito criticado, especialmente pelo modo de me vestir e o fato de viver o tempo todo drogado. Tinha muitas tatuagens.

FU – Como foi recebido na Igreja Universal?

DJ – Quando entrei pela primeira vez na Igreja Universal de Atlanta, encontrei o que, realmente, procurava e aprendi a lutar as minhas lutas com Deus e a agir a fé, de maneira inteligente. Recordo que nem mesmo as roupas chamativas que usava (vermelhas, cor da gangue da qual era membro) provocaram estranheza nos pastores e obreiros. Ao contrário, me trataram com tanto carinho, que até hoje estou lá e como pastor, transmitindo a Palavra de Deus.

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