PARA HISTORIADORES, O PRECONCEITO DE RAÇA ENTRE OS
BRASILEIROS É FORTE O SUFICIENTE PARA DIVIDIR O PAÍS EM DOIS: METADE
NORUEGA, METADE CONGO
A tese de que o Brasil acolhe povos de todas as
raças e nacionalidades, de braços abertos e como nenhum outro país o
faz, está ameaçada depois que o Mapa da Violência 2011 divulgou a
situação de riscos em que vivem os negros no País. Segundo as
estatísticas, de cada três assassinatos cometidos no Brasil, dois são de
negros. No ano passado a situação esteve ainda pior, morreram 103%
mais negros do que brancos por motivos de violência. Dez anos antes,
essa diferença já existia, mas era de 20%. Ou seja, enquanto os
assassinatos de brancos vêm caindo, os de negros continuam a subir de
forma exponencial, comprovando que o racismo no Brasil continua a ser um
traço marcante de sua cultura.
"Se dividíssemos o Brasil pela
linha da cor e acesso às oportunidades, teríamos entre nós dois Brasis
distintos: uma Noruega e um Congo"
(Douglas Belchior, historiador)
Para o historiador e jornalista Douglas Belchior, o
preconceito de raça no País é intenso o suficiente para segregar
radicalmente a nação. "Se dividíssemos o Brasil pela linha da cor e
acesso às oportunidades, teríamos entre nós dois Brasis distintos: uma
Noruega e um Congo. Isso equivale a dizer que, passado mais de um
século da abolição da escravidão, a população negra continua sendo uma
dor de cabeça para as elites do País", diz.
MERCADO DE TRABALHO E EDUCAÇÃO
O Relatório Global sobre a Igualdade no Trabalho, de
2011, aponta que, entre as 500 maiores empresas brasileiras, quanto
maior o nível hierárquico, menor a probabilidade de negros ocuparem o
quadro de direção. O último estudo sobre o tema, realizado no ano
passado, mostrou que os negros representavam 5% dos executivos e 13% dos
gerentes das 500 megaempresas situadas no Brasil.
No caso da mulher negra a situação é ainda pior: ela
representa apenas 0,5% dos cargos de chefia ou gerência e, no geral,
ganham em média 70% menos do que ganha o homem branco, e a metade do
que ganha o homem negro. No que se refere ao grau de escolaridade, os
números se repetem: do total de analfabetos brasileiros, 78% é composto
por negros, sendo que, deste universo, 83% são mulheres.
HOMOSSEXUAIS
Depois dos negros, os homossexuais são a parcela da
população mais atingida pelo preconceito. Até meados da década de 1990,
por exemplo, a homossexualidade foi classificada pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) como um transtorno tipicamente mental. Só em 17
de maio de 1990 a assembleia geral da OMS aprovou a retirada do código
302.0 (Homossexualidade) da Classificação Internacional de Doenças e
declarou que "a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio,
nem perversão". Mesmo assim, a repressão contra esse grupo não foi
amenizada.
Dados da própria OMS mostram que, em média, um
homossexual é assassinado no Brasil a cada dois dias. Ou seja, esse tipo
de preconceito, no País, faz quase 200 vítimas por ano. Ainda de acordo
com a OMS, dos 2 mil homossexuais ouvidos pela Organização no Brasil no
último ano, 96% disseram já ter sido vítima de preconceito em casa, no
trabalho e até na igreja que frenquentam.
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