segunda-feira, 2 de abril de 2012

Não fique preso ao passado.

Ficar preso a situações, objetos ou sentimentos antigos pode atrapalhar a vida e impedir novas oportunidades. Entenda a importância de se livrar do peso dessa bagagem indesejada para ser feliz. De volta para o futuro.

Muitas vezes ficamos presos a sentimentos, situações ou objetos que um dia fizeram parte da nossa história. Descartar um pedaço da vida – mesmo que não faça mais sentido – não é fácil. Dificilmente alguém gosta de deixar para trás algo que um dia já foi importante. Praticar o desapego, seja com o que for, exige reflexão e muita dedicação. Mas especialistas confirmam: se livrar do peso desses sentimentos, abre espaço para novos caminhos e experiências, além de permitir que possamos viver um futuro ainda melhor e mais completo. O importante é colocar em prática o desapego.


A psicoterapeuta Cristiane Cappa, especialista em psicologia transpessoal, afirma que o apego em excesso mantém as pessoas como prisioneiras. "Prisioneira daquela pessoa, sentimento, atitude ou história que um dia, sim, foi muito importante para o nosso crescimento, mas que hoje nos coloca distante dele", afirma. Segundo ela, praticar o desapego é deixar ir o que já não faz parte da vida, ou não serve mais. "É abrir mão de tudo o que não nos acrescenta, tudo aquilo que nos ocupa, nos possui, nos consome."


Exemplos de situações que nos mantêm reféns não faltam: um trabalho que exige demais, não traz satisfação e que mantemos só pelo dinheiro; a falta de coragem de arriscar quando carregamos o medo do erro; incontáveis objetos e roupas que não usamos e ocupam espaço em casa.


Foi esse peso que motivou Renata Lara, de 40 anos, a mudar radicalmente de vida. Saiu da casa onde morava, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, e voltou para o bairro onde nasceu, o Grajaú, zona norte, para ficar perto dos pais. Também mudou a sede do escritório e de um espaço onde fazia eventos e colocou tudo no mesmo lugar, junto à sua casa. "Foi quando a minha filha nasceu. Não tinha tempo para nada e isso me incomodava. O espaço na casa nova era tão bom que comecei a fazer eventos que achava importante. Eventos daquilo que eu acreditava", diz.



Renata chamou artistas do bairro e o evento cresceu tanto que virou um projeto cultural, a "Anitcha", que hoje mantém uma feira mensal de trocas, chamada "Desapegue-se", que recebe mais de 500 pessoas na praça do bairro. "As pessoas levam suas cangas e suas coisas. Você pode trocar livremente. Negocia com os outros. Troca de serviços, massagem, aula de inglês e objetos. As crianças adoram. Às vezes coloco coisas numa caixa e troco por um abraço. O mais importante na troca é conhecer as outras pessoas", afirma. "A vida passa tão rápido e quanto mais coisas a gente tem, menos a gente cuida. Não temos tempo. O desapego começa na matéria, nos objetos, mas aos poucos você também vai desapegando de sentimentos ruins", diz.


A atriz Ana Paula Arósio abandonou a carreira de sucesso e os holofotes para viver uma vida mais tranquila, ao lado do marido, em um sítio no interior de São Paulo. Ela recusou convites de trabalho e decidiu se refugiar no campo. "Abrir mão de certas ‘coisas’, sejam materiais ou sentimentais, que nos ocupam, mas já não nos satisfazem, apesar de difícil e dolorido, pode nos proporcionar imensa satisfação já que nos libertamos e nos abrimos para o novo, para vivenciar novas sensações", destaca a psicóloga Cintia Soares.


Decidido a levar adiante o conceito de o "mínimo para viver", o americano Andrew Hyde, de 27 anos, vendeu tudo o que tinha e saiu para viajar pelo mundo. Hyde guardou apenas 39 itens que considerava essenciais para a nova vida que decidiu ter. Em entrevista ao jornal britânico "Daily Mail", ele contou que não se sentia bem com os excessos de sua vida. "Simplesmente percebi que tinha um monte de coisas de que não precisava", disse. "Eu só precisei sentar e pensar: ‘O que eu tenho a oportunidade de usar todo dia? O que eu realmente tenho orgulho de ter?’ Peguei o essencial e o resto foi embora", completou. Além de permitir a possibilidade de renovação e transformação de vida, o desapego faz bem à saúde. "Muitas pessoas querem se curar da depressão, da gastrite, enxaqueca, mas não abrem mão do orgulho ferido, da mágoa e do ressentimento, que comprimem o peito e que se manifestam com dores por todo o corpo. Nem abrem mão da raiva que arde e queima por todo o estômago, nem do perfeccionismo e de feridas do passado que as consomem em dor. Muitos querem se curar, mas poucos escolhem desapegar-se", afirma a psicoterapeuta Cristiane.


A professora potiguar Paula Belmino, de 36 anos, estava vivendo um dos momentos mais felizes da vida quando um trauma quase acabou com o sonho de ser mãe. Paula, aos 9 meses de gravidez, teve uma complicação na hora do parto, e seu bebê nasceu morto. "Era uma felicidade que de repente se tornou um luto. Do nada, você perde o que tinha. Eu só queria ficar sozinha e não ter que contar para ninguém o que tinha acontecido", lembra.


Dois meses depois da perda, Paula se mudou para São Paulo, cidade do namorado, decidida a recomeçar a vida. Apesar disso, ainda não conseguia se livrar da lembrança do filho perdido e por isso guardava todo o enxoval. "Eu era muito apegada àquela lembrança. Guardei tudo na casa da minha irmã e não queria nem pensar em dar as roupinhas para alguém", conta. Nesse tempo, a professora estava tentando engravidar novamente, mas não conseguia. "Foi quando minha irmã engravidou. Meu cunhado estava desempregado na época e ela não tinha nada para o enxoval. De repente, me deu um clique e eu resolvi dar tudo para ela. Por incrível que pareça, no mês seguinte eu descobri que também estava grávida. Parece que, quando me desapeguei, consegui engravidar", lembra. Hoje, 5 anos depois, Paula acredita na ideia de que é importante se libertar das coisas ruins do passado, para seguir em frente.


A milionária britânica, identificada como "Stephanie Steve Shirley" doou mais de US$ 100 milhões (R$ 180 milhões) de sua fortuna para pesquisas na área de neurologia. Segundo ela, o sentimento de desapego faz bem à saúde. Assim como Stephanie, o empresário austríaco Karl Rabeder se desfez de sua fortuna milionária para viver com US$ 1.350 (R$ 2.435) por mês. Rabeder, que veio de uma família simples, mas com ideias materialistas, acreditava que o dinheiro o impedia de ser feliz. Decidido, rifou a mansão onde morava, vendeu os bens valiosos e criou uma organização que ajuda pessoas em países em desenvolvimento.


Em geral, pode-se dizer que as pessoas desapegadas são tranquilas, estão sempre em paz. Conhecem a sua verdadeira natureza e sabem que o fato e a possibilidade de perderem alguma posse, ou se distanciarem de alguém, não vai mudar sua verdadeira natureza. "As pessoas apegadas podem apresentar sintomas como fobia, ansiedade, depressão, ou seja, ou têm medo de perder ou perderam e não souberam lidar bem com a perda", diz o psicólogo Felipe de Souza, doutorando em psicologia da religião da Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais.



Segundo o especialista, o apego excessivo pode trazer doenças físicas e emocionais. "Se pensarmos, por exemplo, no ciúme como uma forma de apego, veremos que a insegurança, a ansiedade e o medo correlacionados podem ser patológicos, causando a longo prazo doenças mentais", diz. Por isso, pode-se concluir que o desapego, ao criar uma melhor qualidade de vida, também auxilia na preservação da saúde.


Para praticar o desapego, os especialistas sugerem, primeiro, começar a jogar fora objetos que não têm mais utilidade ou função, já que o acúmulo excessivo de pertences está ligado ao sentimento de apego aos objetos. "Ao doarmos ou jogarmos fora uma parte do que temos e não vamos mais utilizar, estamos praticando o desapego", afirma Souza.


Regras do desapego: quando menos é mais


No livro "Jogue Fora 50 Coisas", a norte-americana Gail Blanke ensina a treinar o desapego no cotidiano, com objetos que se acumulam em casa, mesmo sem função. Gail é especialista em motivação e organização e tem uma empresa que ajuda homens e mulheres que buscam potencializar suas vidas pessoais e profissionais. Segundo a especialista, é necessário se livrar de sentimentos e objetos do passado para construir uma vida de sucessos. Conheça as regras do desapego que estão no livro:


1. Se a coisa – o objeto, crença ou convicção, lembrança, trabalho ou até a pessoa – é um peso para você, o deixa imobilizado ou simplesmente faz com que você se sinta mal consigo mesmo, jogue-a fora, dê para alguém, venda, deixe para trás, siga em frente.


2. Se isso simplesmente fica ali, ocupando espaço e não acrescenta nada de positivo a sua vida, jogue fora. Se você não está caminhando para frente, está andando para trás. Jogar fora o que é negativo ajuda a redescobrir o que é positivo.


3. Não torne difícil a decisão de se livrar ou não de alguma coisa. Se tiver que pesar os prós e contras por muito tempo ou ficar angustiado pensando sobre o que é o certo, jogue fora.


4. Não tenha medo. Estamos falando sobre a sua vida. A única que você tem de verdade. Você não tem tempo, energia ou espaço para lixo material ou psicológico.



Passos para deixar para trás seus arrependimentos e erros:


1. Lembre-se: você tem que fracassar. É a única forma de alcançar o sucesso.


2. Não existe perfeição. Alguns jogadores podem ter feito jogadas perfeitas, mas não foram perfeitos o campeonato inteiro. Jogue fora a perfeição.


3. Não leve seus supostos erros para o lado pessoal. Se algo não deu certo, faça reajustes e tente de outro jeito.


4. Se gastar energia relembrando de coisas que não deram certo, o que devia ou não devia ter feito ou falado, você não terá energia para achar novos caminhos para a sua realização. Livre-se dessas coisas. Só aí já devem entrar outras 10 coisas na sua lista.

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