sábado, 12 de fevereiro de 2011

Caráter.


Por Guilherme Bryan guilherme.bryan@folhauniversal.com.br
Tragédias como a provocada pelas chuvas que atingiram a região serrana do Rio de Janeiro no mês passado despertam em muitos um sentimento de ajuda e solidariedade, como pode ser constatado pelas toneladas de doações enviadas de todo o País. Mas há também os que tentam tirar proveito até da desgraça alheia. Bastou uma oportunidade para que parte destas doações fosse roubada ou desviada. Em Nova Friburgo, roupas doadas foram levadas para revenda e em Petrópolis houve quem pegasse mais donativos do que devia. Situações como essas podem determinar o caráter de alguém? Falar sobre bom ou mau caráter divide especialistas, mas é impossível negar que certos traços de personalidade são identificáveis e passam por um julgamento da sociedade. Uma das atitudes mais ligadas a falta de caráter é a quebra de confiança. A estudante de enfermagem Luciana Lima, de 21 anos, sabe bem o que é isso. Após se dedicar a um trabalho da faculdade, ela pediu para uma colega entregá-lo para a professora. Qual não foi a surpresa quando, tempos depois, descobriu que a tal colega havia entregue o trabalho com o próprio nome. A atitude quase custou o semestre para Luciana, que nunca mais voltou a falar com a outra estudante. “O mau caráter diz que não é intencional, mas sempre tira proveito da situação. Eu também já agi assim e dei mancada com uma pessoa que deixou de falar comigo”, reconhece. “O caráter é o modo como alguém responde aos acontecimentos a partir do temperamento e da personalidade. O temperamento é a intensidade com que uma pessoa reage às emoções, dependendo da motivação e do estado de humor predominante. E a personalidade é influenciada pelas experiências, cultura, hábitos familiares e do grupo social, fatores que contribuem para a formação de crenças e valores. “O caráter é a expressão do mundo interno da pessoa”, explica Samia Samurro, vice-presidente de projetos da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV). Para ilustrar como o caráter se manifesta em determinadas situações, Samia cita o caso extremo de quando uma loja é assaltada. Todas as pessoas se assustam, mas reagem de modos distintos: algumas não terão reação, outras tentam conduzir a situação com o objetivo de que tudo termine bem e outras buscarão apenas se safar. “É a sucessão de comportamentos diante da mesma situação que determina o caráter. Se a pessoa assimilou coisas boas ao longo da vida, ela terá bom caráter”, garante. Mas é inegável que todos temos um pouco de bom e mau caráter dentro de nós. O auxiliar administrativo Hugo Muniz Braga, de 30 anos, se arrepende de ter agido de forma condenável. “Eu aproveitei que uma mulher gostava bastante de mim e fiz o que quis com ela, prejudicando-a emocionalmente. Não é certo se aproveitar de uma situação como essa e não gostaria que fizessem o mesmo comigo”, garante. O estudante Fernando Cruz, de 17 anos, foi a vítima. “Quando estava namorando, outra pessoa disse que gostava de mim só para eu terminar e depois me deu as costas. Foi quando descobri que ela era mau-caráter”, descreve. Segundo o psicanalista austríaco-americano Wilhelm Reich, o caráter é formado ao longo da vida, de acordo com o modo como alguém lida com as frustrações. Esse processo se inicia na infância e, conforme a teoria cognitiva, a interpretação do que acontece consigo forma os valores, regras, crenças e o modo como se atua no mundo. Em algumas situações, uma pessoa pode achar que o melhor é trapacear.
A auxiliar administrativa Helena Pimentel, de 47 anos, foi enganada por uma amiga, a quem conhecia fazia muitos anos: “Ela me pediu um cheque para comprar remédio para o filho que estava doente e acrescentou um zero. Faz 3 anos que isso aconteceu e até hoje não consegui regularizar minha situação. Serviu como lição. Não empresto mais nada para ninguém”. Já a estudante Sheila Freitas foi vítima da então cunhada. “Ela criou tantas intrigas que o carro que eu havia ganho da minha mãe passou para o meu irmão, por ela dizer que eu dirigia muito rápido, o que não era aceito em casa”, diz. “Vários pensadores tentaram classificar os seres humanos em diferentes tipos de caráter. Porém, na psiquiatria moderna, não existe um consenso em relação a isso. É claro que, quando o indivíduo tem atitudes que prejudicam as pessoas regularmente, a sociedade o considera mau-caráter. Porém, não dá para ‘psicologizar’ o mal, pois apenas uma pequena parcela da sociedade chega ao extremo de ser totalmente altruísta ou incapaz de atos generosos”, explica Geraldo Possendoro, psiquiatra e professor da especialização em Medicina Comportamental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A imensa maioria mantém equilíbrio entre essas duas atitudes.

Um comentário:

  1. O caráter é como a pessoa expressa a sua maneira de ser nas mais variadas situações. Na maioria das vezes é difícil fazer a leitura de alguém, pois a má interpretação de uma situação leva a um pré-julgamento,
    tirando conclusões precipitadas, prejudicando dessa forma, a pessoa. Portanto, requer muito cuidado. Acredito, que seja por isso que o Senhor JESUS nos admoesta a termos bons olhos. Os bns olhos vê o ser humano como imagem e semelhança de Deus. Deus abençoe a todos.

    Lourdes
    Jd. Novo Santo Amaro

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