terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Crianças querem comprar




Crianças entre 5 e 10 anos, sentadas no chão, são indagadas sobre o que mais gostam de fazer. “Aqui está escrito comprar, e aqui brincar”, diz a entrevistadora, mostrando dois pedaços de papel. Na sequência, pede que elas coloquem as mãos sobre o que preferem. A maioria, sem hesitar, deposita a mãozinha sobre o “comprar”. Apenas duas delas optam por “brincar”. Surpresa diante da reação dos demais, uma menina pergunta: “Ninguém gosta de brincar?” Essa é uma das cenas do documentário “Criança, a Alma do Negócio”, dirigido pela publicitária e cineasta Estela Renner, mãe de três crianças entre 2 e 7 anos. Por que decidiu fazer o filme? Para conscientizar a todos sobre o que está em jogo nesta batalha comercial, que é o bem-estar da criança. Infelizmente, a publicidade de hoje não apenas fala diretamente com a criança para vender produtos infantis, mas também para vender produtos para os adultos. Tudo é anunciado diretamente para a criança, que tem um poder de persuasão sobre os pais muito maior do que os comerciais. Como o mercado captou isto, usa as crianças, pois sabe que elas são como mensageiras. O filme retrata, por meio de depoimentos e várias situações, as consequências dos excessos da propaganda dirigida às crianças. Há alguma saída para minimizar esse impacto sobre as crianças? Muitas empresas já perceberam que aquelas que não enterrarem este tipo de publicidade junto com a de cigarro vão ficar para trás. Tenho sido convidada por empresas e agências mais conscientes para mostrar o filme, dar palestras e participar de debates. A culpa por esse consumismo infantil não seria dos pais ou responsáveis? No meu ponto de vista, os pais devem insistir na construção dos valores dos filhos e mostrar, de todas as formas, que o “ser” é mais importante do que o “ter”. Infelizmente, a propaganda diz o inverso o tempo inteiro. Por isso, os pais devem redobrar a atenção. Esse consumismo atinge todas as classes sociais? É uma batalha que não vê classe social. Um dia, recebi uma carta de uma senhora que se dizia de uma classe social privilegiada e havia assistido ao meu documentário. Na ocasião, ela relatou: “É cruel ver minhas netas buscando no ‘ter’ a resposta para as suas angústias, e as crianças da favela culpando o ‘não ter’ pelas suas angústias”, disse. Computador, celular e outros eletrônicos são sonhos de consumo de muitas crianças. Seus filhos têm? Eu ainda não dei para os meus filhos. Eles são atarefados o bastante, e não acredito que precisem de mais ocupações. Entretanto, quando der, colocarei limites. Percebo nos pais de hoje um medo muito grande de dizer “não” para os filhos. Digo “não” para os meus sempre que acho prudente, e nem por isso acredito que me amem menos. É claro que sofrem diante da negativa de algo que desejam, mas, ao mesmo tempo, amadurecem. Se tudo fosse “sim”, eles estariam sendo criados num mundo irreal.

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