quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Pesadelo no exterior




Cartilha orienta brasileiros que pensam em trabalhar fora do País: modelos e atletas são os que enfrentam mais problemas. Existem casos de quase escravidão

O sonho de fazer sucesso em uma carreira internacional pode se transformar em um pesadelo. Brasileiros que buscam a realização profissional no exterior têm cometido erros primários antes de embarcar e depois são submetidos a ficar na ilegalidade, acumulam dívidas enormes, sofrem assédio moral, sexual, não recebem o valor acertado antes da viagem e chegam a encarar uma situação comparável à escravidão. 


O extremo desse pesadelo pode ser bem pior do que o trabalho forçado ou longas jornadas. Há suspeita até de casos de processo de adoção forçado: brasileiros estariam sendo aliciados no exterior em troca de cidadania internacional, segundo hipótese levantada pela deputada Flavia Moraes, na CPI do Tráfico de Pessoas, na Câmara dos Deputados.


“Nós temos que saber se essas pessoas são só imigrantes ou se eles estão lá em situação de exploração. Na exploração existe o aliciamento, que é aquele convencimento com ofertas mirabolantes e quando a pessoa vai, a realidade não é àquela que foi prometida”, disse a deputada à Agência Câmara. “Geralmente, a pessoa que é explorada, passa a trabalhar em condições precárias e grande parte do dinheiro que recebe fica com esse ou essa aliciadora”, acrescentou.


A fim de minimizar o problema, o Ministério de Relações Exteriores criou a “Cartilha de Orientações para o Trabalho no Exterior”, com informações para quem deseja tentar a sorte especialmente nas carreiras de modelo e jogador de futebol, além de dançarinos, cozinheiros e professores de capoeira, atividades que também têm causado transtornos ao Itamaraty. 


“Não é que seja algo comum de ocorrer, mas acendemos a luz amarela justamente para um número maior de pessoas se prevenir”, explica o diplomata Marcelo Ferraz ao relatar que os casos ficaram mais frequentes nos últimos 2 anos.


O material lista os países em que é mais comum o sofrimento de brasileiros. Armênia, China, Cingapura, Coreia do Sul, Filipinas, Grécia, Índia, Indonésia, Irã, Malásia, Tailândia e Turquia foram os que apresentaram problemas recentemente. 


“Tem casos que não chegam até nós, mas normalmente os problemas são em países nos quais o idioma é uma barreira”, observa Ferraz. “Há também problema por falta de conhecimento da cultura e da lei local. Sem contar a falta de uma comunidade brasileira representativa nesses países.”


Não dominar o idioma pode atrapalhar na hora de assinar contratos. No início do ano, a paulista Monique Menezes, de 21 anos, e a gaúcha Thelma Kaminski, de 19, foram à Índia para trabalhar como modelo. Cada uma receberia US$ 2.100 por mês (R$ 4.200). Já em solo indiano, as duas descobriram que a realidade era outra. Receberiam só US$ 160 dólares mensalmente e fariam trabalhos diferentes do combinado antes do embarque, como ser garçonete ou recepcionistas em festas nas quais eram obrigadas a servir uísque na boca dos convidados e ainda tinham de suportar o assédio dos homens. 


Após procurar ajuda no Consulado do Brasil na Índia, Monique soube que tinha se comprometido a pagar multa de US$ 500 mil se abandonasse o trabalho. O alto valor da multa invalidou o acordo e ela voltou sem dívida ao Brasil, apesar de ficar sem receber pelos trabalhos feitos depois da denúncia.


Procurar a embaixada brasileira também foi a última opção de dois jogadores de futebol que tentaram emplacar a carreira em um time de Sari, no Irã. O paranaense Lucas Camargo Alves e o gaúcho Cassius Lumar Viana Rosa passaram 3 meses em alojamentos da equipe, que nem sequer montou um time para se inscrever no campeonato local. Com os passaportes retidos, os dirigentes do clube ainda cobraram supostos gastos que totalizavam US$ 30 mil. 


O paranaense voltou do Irã já sem o desejo de seguir a carreira de jogador. O gaúcho está sem clube, mas no primeiro semestre atuou no Ji-Paraná e foi campeão Rondoniense. As modelos que estiveram na Índia não responderam aos pedidos de entrevistas feitos pela Folha Universal, mas, assim como outras modelos, estão sendo ouvidas pela CPI do Tráfico de Pessoas para exemplificar o pesadelo vivido na Índia.


Informação é a melhor forma de evitar arapuca


Acessar o Portal Consular (www.portalconsular.mre.gov.br) é a primeira coisa a ser feita por quem está em busca de uma oportunidade fora do País. Lá, são encontradas informações precisas e específicas que ajudam a evitar situações desagradáveis, além de minimizar o risco de essas pessoas se tornarem vítimas do tráfico internacional de pessoas.


• Todo contrato em idioma estrangeiro deve apresentar tradução juramentada (oficial) para o idioma do contratado (no caso, o português)


• Antes de embarcar, as responsabilidades de pagamentos de passagens (ida e volta), hospedagem e salários devem ser previamente acordados. Cuidado com viagens para “testes”


• Evite entregar a terceiros por longos períodos os documentos pessoais, em especial o passaporte. Se realmente for necessário para o pedido de visto, exija comprovação de que o pedido foi efetivamente protocolado e acompanhe o prazo previsto para o término do processo


• Informe-se, antes de viajar ou logo na chegada, sobre programas voltados à adaptação de estrangeiros no país


• Anote os dados de contatos da Embaixada ou Consulado do Brasil. Apresente-se ao agente consular, faça a matrícula e forneça informações detalhadas sobre o empregador ou empresa que tenha intermediado a negociação.


• Não aceite de forma alguma ficar na clandestinidade no país e nem acredite em promessa de regularização futura. Isso gera insegurança, pode resultar no acúmulo de multa e deixa o empregado dependente das atitudes do empregador

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Na maioria dos casos, vejo este tipo de pessoas que procuram trabalho no exterior, como pessoas gananciosas e querem ter a vida fácil. Por isso se dão mal. Tenho aprendido que tudo que vem fácil vai fácil.
    Então minha gente, o que é conquistado com SACRIFÍCIO E COM O SENHOR JESUS, NÃO TÊM COMO DAR ERRADO.

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