José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, o maior executivo da história da Rede Globo, afirma que emissora teria ajudado Collor na eleição presidencial de 1989
Uma revelação de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que já foi o homem mais poderoso da Rede Globo (abaixo apenas do dono, Roberto Marinho), reacendeu a polêmica sobre o que a emissora teria feito em 1989 para interferir no resultado da primeira eleição presidencial pelo voto direto, depois de 29 anos.
A surpreendente informação sobre um episódio recente da história do Brasil foi dada por Boni em entrevista, na semana passada, ao canal Globo News, da própria Globo. Foi também a primeira vez que um homem do alto escalão da Globo admitiu abertamente que a emissora teria manipulado a favor do candidato Fernando Collor de Mello (PRN), contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Eles disputavam o segundo turno da eleição presidencial. “Nós fomos procurados pela assessoria do Collor. O Miguel Pires Gonçalves [que era superintendente-executivo da Rede Globo] que pediu que a gente desse alguns palpites, e eu achei que a briga do Collor com o Lula estava desigual, porque o Lula era o povo e o Collor era a autoridade”, disse Boni, que, aos 76 anos, está lançando um livro de memórias intitulado “O Livro do Boni”.
Boni contou ainda detalhes da suposta ajuda ao candidato Collor: “Nós conseguimos tirar a gravata do Collor, colocar um pouco de suor com glicerinazinha e colocar as pastas todas que estavam ali com supostas denúncias contra o Lula. Essas pastas estavam inteiramente vazias, com papéis em branco. Foi uma maneira de melhorar a postura do Collor junto ao espectador, para ficar em pé de igualdade com a popularidade do Lula”.
No primeiro turno presidencial participaram 23 candidatos. Collor foi ao segundo turno com 20,6 milhões de votos (28% do total). Lula recebeu 11,6 milhões de votos (16%). O último debate na TV no segundo turno, transmitido para todo o País, foi realizado na sede da Rede Bandeirantes, mas organizado num pool de emissoras, que incluiu ainda a Globo, o SBT e a TV Manchete. Sobre o confronto, ao ser perguntado se até o suor de Collor no debate foi produzido, Boni declarou: “Todo aquele debate foi, foi... não o conteúdo. O conteúdo era do Collor mesmo. Mas a parte, vamos dizer assim, formal, nós é que fizemos.” A edição dos melhores momentos do debate apresentados pelo “Jornal Nacional” no dia seguinte também foi alvo de críticas, por supostamente favorecer Collor, que foi eleito presidente. A partir desse episódio a Globo passou ter como norma não editar debates políticos.
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