sexta-feira, 29 de abril de 2011

Melancolia precoce



Fernando Gazzaneo redacao@folhauniversal.com.br Marcos*, de 6 anos, não conseguia encontrar o prazer que a escola proporcionava a outras crianças. Ele chorava antes de entrar na sala e não sabia explicar o desconforto que sentia. “Era um menino com baixa autoestima”, lembra a psicopedagoga Telma Pantano, que cuidou do caso. O problema só foi identificado quando a mãe percebeu que os sintomas iam além de indisposição e mau comportamento. Marcos foi diagnosticado com depressão, doença que atinge cerca de 3% das crianças com até 12 anos. Embora seja menos frequente nesta faixa etária do que em adultos, em crianças ela interfere num momento da vida crucial para o desenvolvimento. A depressão está relacionada a uma deficiência na circulação dos neurotransmissores serotonina e dopamina. Essas substâncias, produzidas nos neurônios, são responsáveis pelas sensações de bem-estar e equilíbrio. “A falha neurológica pode estar presente desde o momento do nascimento. Isso explica o fato de haver na literatura médica casos de bebês com depressão”, explica Daniel Paguinim, psiquiatra e professor da Universidade Federal Fluminense. A depressão se manifesta de forma diferente em crianças (veja na pág. 18 e abaixo). “Ao contrário dos adultos, elas podem também manifestar o problema com um comportamento agressivo e irritadiço”, afirma Telma. Por isso, é às vezes confundida pelos pais como uma fase de temperamento difícil. Situações traumáticas, como a morte de alguém ou a separação dos pais, não são as principais responsáveis por desencadear a depressão nos pequenos. “Essas situações só reforçam uma fragilidade neurológica já existente”, explica Telma. Mas o comportamento familiar pode ser um estimulador. Uma família pouco sociável ou um ambiente violento pode contribuir para o agravamento do quadro. “Pai ou mãe com a doença é fator de risco para os filhos”, alerta Paguinim. Segundo ele, o aumento de casos em crianças pode estar também relacionado ao crescimento das exigências em relação ao desempenho delas (leia texto ao lado). A baixa autoestima e a dificuldade de lidar com situações desafiadoras também são sintomas. “Uma criança sem depressão insiste na resolução de um problema. Já a criança depressiva tende a fugir da situação”, diz o psiquiatra. É preciso se preocupar quando os sintomas perduram por mais de 6 meses e interferem no comportamento da criança em outras áreas da vida, como na escola. Na sala de aula, a atenção e o desempenho no aprendizado caem drasticamente e o relacionamento com colegas de classe e professores fica prejudicado. “A queda no rendimento escolar muitas vezes é interpretada com um julgamento de que a criança não quer saber de nada, que está se tornando um inconsequente”, relata Paguinim. E é comum que a doença seja reduzida a um distúrbio de aprendizagem, que requer outro tipo de intervenção. Para a depressão infantil, o melhor é o tratamento com especialistas como psicólogos e psiquiatras.

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