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| Por Andrea Dip andrea.dip@folhauniversal.com.br
Especialistas são unânimes: ter amigos é fundamental para a saúde física e mental e um grande aliado contra o estresse e no tratamento do câncer. E este dia 20 é o Dia do Amigo
Estar perto dos amigos, dar risadas, receber um abraço, compartilhar segredos ou apenas sentir-se acolhido em momentos difíceis é tão importante que vários países escolheram 20 de julho como o Dia do Amigo. E o melhor é que essas relações podem provocar verdadeiras revoluções no cérebro, além de curar doenças, diminuir o estresse e fazer maravilhas à saúde física e mental. É o que dizem especialistas de todo o mundo, que tentam desvendar os mistérios dessa relação humana e suas mudanças ao longo do tempo. “Marcado em nosso DNA de sobrevivência está a noção de comunidade e conectividade”, define o médico Edward Creagan, consultor da Fundação de Educação e Pesquisa Mayo, de Minnesota, nos Estados Unidos.
Em estudo da Universidade da Pensilvânia (EUA), o psicólogo Martin Seligman concluiu que, para chegar à felicidade, precisamos ter amigos. As amizades, segundo ele, resumem a soma dos três pilares da alegria: prazer, engajamento e significado. Conversar com um amigo, por exemplo, nos dá prazer. Quando nos doamos e recebemos apoio, nos sentimos engajados. E a troca de ideias faz com que a vida adquira significado.
Isso não é novidade para Cícero Silva, assistente administrativo de 29 anos. Ele faz o tipo amigão da turma e jura que conhece os 1,6 mil colegas de trabalho. “Faço amizades facilmente e gosto de cultivar as que já tenho. Os amigos são mais do que irmãos, porque família a gente não escolhe”, afirma. Entre os tantos, Antônio Bonifácio da Silva, de 22 anos, é um amigo especial. Os dois se conheceram em um grupo de jovens da igreja, em um momento difícil da vida do Antônio: “Ele tinha acabado de sair da Febem (atual Fundação Casa, instituição para adolescentes infratores) e estava meio perdidão. Ficamos tão unidos que ele foi morar na minha casa e só saiu para casar”, lembra Cícero. “Ele puxou assunto e me deu um livro, foi assim que a gente se conheceu. Fui entendendo o que era uma amizade de verdade. Quando você pode se abrir, falar dos seus problemas e o outro está lá para te apoiar e incentivar”, diz Antônio.
Ele conta que até no seu namoro o amigo teve papel fundamental: “Eu gostava de uma moça, que hoje é minha esposa, mas ela não sabia. Ela também gostava de mim e eu nem imaginava. O Cícero foi o cupido. É claro que ele é nosso padrinho de casamento!”, conta.
Diferenças culturais No livro “Os Significados da Amizade: Duas Visões de Pessoa e Sociedade”, a socióloga Claudia Barcellos analisou redes de relacionamentos de duas importantes metrópoles, Londres e Rio de Janeiro. Ela diz que nos dois lugares as pessoas procuram similares para se relacionar: “A amizade está pautada na troca de intimidade e de afinidades, seja ela qual for.” Como diferenças fundamentais, Claudia constatou que para os ingleses a amizade é algo da esfera privada, não se mistura com o trabalho, por exemplo, o que não acontece no Rio de Janeiro. “No Brasil, o discurso é de que sempre é possível fazer amizades em qualquer lugar. Também há o argumento de que a diferença de classe socioeconômica não interfere. Para os londrinos isso é impensável. As pessoas só criam laços com outras de trajetória social semelhante”, aponta.
Diferenças entre classes também foram percebidas em estudo do Instituto Data Popular. Indagados sobre a importância dos grupos de convivência, como a vizinhança, 60% dos entrevistados das classes “D” e “E” responderam achar “muito importante”. Nas classes “A” e “B”, o número cai para 45% dos entrevistados, o que mostra que as camadas de menor renda dão mais valor à amizade do que os mais ricos.
Pela vida A socióloga Claudia Barcellos define em três partes principais o papel da amizade ao longo da vida: “Na adolescência as relações de amizade são muito fortes, já que há um conflito com a identidade familiar. O grande rompimento acontece com o casamento, que provoca o afastamento dos amigos, principalmente os que não se identificam com o parceiro. Na terceira idade, a importância dos laços afetivos volta com força, mas não mais pautados em afinidades e sim em confiança e intimidade.”
A estudante Victoria Zeni está no começo desta linha, e de um jeito bem atual. Ela tem 14 anos e mais de 400 amigos virtuais. “Participo de seis redes de relacionamentos, com mais ou menos 300 amigos em cada. Mas eles se repetem, então devo ter por volta de 400 no total”, orgulha-se. Apesar de considerar pessoas que nunca encontrou pessoalmente como amigos de verdade – “divido segredos com alguns amigos virtuais que não conto para outros que encontro sempre” – Victoria confessa que vê regularmente apenas 20. Ao contrário de alguns pesquisadores, Claudia acha que as amizades virtuais podem ser verdadeiras, uma vez que a internet seria uma ferramenta para isto: “Através da rede é possível reencontrar amigos e descobrir pessoas com gostos em comum. Daí podem surgir novos bons amigos”, argumenta.
Abraçar para viver melhor Tiffany Field, diretora do Instituto de Pesquisas do Toque da Universidade de Miami (EUA), é defensora do bom e velho abraço. Para ela, tocar e abraçar pessoas queridas influencia inclusive no nível de agressividade. “O contato físico é essencial para nossa saúde física e mental, para o nosso bem-estar. Entre os benefícios para a saúde mental podemos citar a diminuição da depressão, ansiedade e estresse e o aumento da sensação de relaxamento, nos deixando menos agressivos. Um bom abraço também pode reduzir dores e melhorar nosso sistema imunológico”, garante.
Foi em uma nova rede social que Bernadete Veloso, de 73 anos, se curou da depressão desenvolvida com a morte do marido: “Fiquei viúva há 13 anos e fui ficando sem trabalho. Sou diarista desde menina, então perder tudo de uma vez e ficar em casa sozinha me jogou no chão. Eu só pensava besteira, não queria mais viver”, lembra. “Uma vizinha foi me visitar e me arrastou para o Centro de Convivência da Melhor Idade. Aqui eu redescobri a vida! Fiz amigos que amo demais, faço aulas de pintura, dança, estou aprendendo a ler e a escrever. A gente fofoca o tempo todo, a professora até reclama”, conta animada a aluna do Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA), que acontece dentro da instituição.
Com o mesmo pique, Rosa de Oliveira, de 82 anos, se diz a mais “novinha” da turma. “Eu amo esses amigos, não saberia viver sem eles. Mas acho que eles não gostam que eu falo muito e atrapalho a aula”, diverte-se. A animação é geral e todos declaram amor pela turma: “A vida sem amigos não tem graça nenhuma”, sopra uma colega do fundo da sala. Parece ser o melhor resumo para o que os especialistas e médicos ouvidos nessa reportagem estão dizendo.
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Quem é amigo é fiel na alegria e na tristeza.
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