sábado, 6 de março de 2010

Cansaço sem fim


Cansaço sem fim
Todos nós nos sentimos cansados eventualmente e podemos até chegar a pensar em simplesmente não levantar da cama para mais um dia de trabalho. Isso é normal. Mas quando esse sentimento se torna a regra, e não a exceção, é preciso tomar cuidado. Ele pode ser sintoma da síndrome da fadiga crônica (SFC), reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e diagnosticada pela primeira vez em 1988. Essa condição reduz a rotina de trabalho gradativamente, até que a perda de energia leve ao confinamento na cama. Mário Juruena, professor do departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto, pesquisou o problema por 6 anos na Universidade de Londres, na Inglaterra, e é um dos maiores especialistas brasileiros sobre o assunto. Ele estima que, no Brasil, cerca de 200 mil pessoas tenham a síndrome. Nos Estados Unidos, a estimativa do Centro de Controle de Doenças é de que 0,5% dos norte-americanos tenham a SFC, o que representa aproximadamente 1,5 milhão de pessoas. “Acredita-se que um em cada quatro casos ocorra após infecção viral e, quando a gripe passa, o indivíduo desenvolve quadro caracterizado pela falta de ânimo, compulsão por alimentos calóricos e dores no corpo, semelhante à depressão atípica”, aponta Juruena. O principal sintoma da fadiga crônica é a persistência de cansaço e da falta de energia por mais de 6 meses. Também são comuns dores musculares e nas articulações; sono excessivo; dificuldade de memória e concentração; distúrbios visuais; alergias; inchaço nos nódulos linfáticos; tontura; e hipersensibilidade a comidas, medicamentos e barulhos. “É difícil você se aceitar nessas condições e que as outras pessoas o aceitem. Muitos parentes disseram que eu não queria trabalhar e que era vagabundo”, recorda Cristian Salemme, que foi diagnosticado com o mal em 2002, quando tinha 25 anos. Nessa época, ele trabalhava, estudava e dormia menos de 5 horas por dia. “De uma hora para outra deixei de ter vida social intensa e passei a ficar metade do dia na cama. Hoje, há momentos em que tomo banho e depois não tenho forças para me secar. As pessoas dizem que devo reagir. Eu quero, mas o corpo não permite”, conta. Aposentado há 8 anos por invalidez, Salemme também sofre de fibromialgia, doença caracterizada por fortes dores musculares. “Metade das pessoas com a síndrome tem depressão, mas geralmente a fadiga crônica se sobrepõe a outros problemas, como a fibromialgia e a depressão sazonal, que ocorre geralmente em dias mais curtos e noites mais longas, como no inverno”, alerta Juruena. Causa e efeito Cientistas de vários institutos norte-americanos apontaram em artigo publicado em outubro de 2009, na revista científica “Science”, que pode haver relação entre a síndrome da fadiga e o retrovírus xenotrópico murino leucêmico, que afeta o sistema imunológico e é o provável causador de males como a fibromialgia. Além das infecções virais, acredita-se que predisposições genéticas podem levar à fadiga crônica. As causas continuam sendo investigadas, mas uma forma eficaz de detectar a síndrome pode ser a verificação de alterações no hormônio cortisol, associado ao estresse. “A maioria dos estudos que buscam a causa da SFC foca no mecanismo responsável pela maneira como o cérebro identifica uma situação de estresse, liberando o hormônio cortisol, e que aparece em desequilíbrio entre os pacientes da síndrome”, explica Juruena. Não há tratamento específico para a fadiga crônica, mas alguns procedimentos como psicoterapias, reposição hormonal com corticoides e uso de antidepressivos, analgésicos, ansiolíticos, suplementos alimentares, fisioterapia e massagens podem ajudar. “O importante é saber que, embora haja pacientes crônicos da síndrome, a recuperação em boa parte das pessoas ocorre entre 12 e 18 meses”, completa Juruena. Outra boa notícia é que, com a adoção de novos critérios de diagnósticos pela OMS, a SFC poderá ser mais conhecida por clínicos gerais e a população em geral. (G.B.)

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