quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Justiça atropelada


Justiça atropelada
Na madrugada de 30 de agosto, o ajudante de sapateiro Adriano da Fonseca Pereira, de 20 anos, foi atropelado na Avenida Itaquera, na zona leste de São Paulo. Atingido por uma BMW 330i, um carro de luxo projetado para alcançar alta velocidade (capaz de chegar de 0 a 100 km/h em 7 segundos), ele morreu na hora. Após matar Pereira, o motorista, o produtor de eventos Fábio Melgar, de 29 anos, acelerou e foi embora para casa. O jovem foi apenas uma das vítimas recentes de acidentes graves envolvendo carros poderosos e motoristas, no mínimo, displicentes. Não são poucas. Na mesma semana, José Luiz de Jesus Pereira, de 58 anos, invadiu a contramão e passou por cima da bicicleta em que estava o padeiro Wellinton de Oliveira, de 29, no município de Serra (ES). De acordo com o delegado Valdemir Cavalcanti, da Polícia Civil, exames comprovaram que o motorista estava embriagado. Nos dois casos, tanto no da omissão de socorro quanto no da embriaguez, a falta de cuidado com a vida é parte de um quadro marcado pela impunidade e pela desigualdade no trânsito. Enquanto jovens ricos aceleram carros cada dia mais potentes e velozes, ajudantes de sapateiro e padeiros são esmagados e largados nas ruas.A lista de mortos e feridos no trânsito não tem fim. Dados da Polícia Rodoviária Federal apontam que, entre 20 de junho de 2008 e 16 de junho de 2009, aconteceram 138.226 acidentes, que deixaram 79.269 feridos e 6.614 mortos. Os números frios se traduzem em uma média de 18 mães perdendo filhos por dia. Isso só nas estradas federais. Nas estradas estaduais e cidades, a realidade não é diferente. Em São Paulo, capital com o trânsito mais problemático do Brasil, foram 1.463 mortos em 2007, segundo levantamento da Companhia de Engenharia de Tráfego baseado em dados do Instituto Médico Legal. As autoridades apontam para a necessidade de mudanças e lembram que há quem lucre em meio ao caos nas ruas. “Vivemos um paradoxo. Enquanto procuramos limitar a velocidade, as empresas produzem veículos mais e mais velozes”, afirmou o major Jurandir Caidukas, da Polícia Rodoviária Estadual de São Paulo, durante seminário sobre álcool e segurança no trânsito realizado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. No mesmo seminário, o secretário nacional antidrogas, general Paulo Uchoa, destacou que há relação direta entre uso de álcool e acidentes e defendeu que o estímulo ao consumo deve diminuir. “Faltam restrições para propaganda de vinho e cerveja, por exemplo. É preciso enfrentar os lobbies das empresas de bebidas e de propagandas”, disse. (D.S.)

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