quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Cachimbo da doença


Usado principalmente por jovens, fumo de narguilé tem alta concentração de nicotina, pode causar dependência e transmite doenças por via oral


Você já deve ter visto em alguma mesa de bar ou restaurante, em parques e até no meio da rua, pessoas reunidas tragando em mangueiras compridas e soltando fumaça. Todas conectadas a um mesmo objeto, geralmente colorido, cheio de firulas e chamativo. É o narguilé, um cachimbo de origem árabe usado para fumar. Não tem efeito alucinógeno, mas faz mal à saúde, segundo alerta feito pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) em 29 de agosto, Dia Nacional de Combate ao Fumo.

De acordo com a Pesquisa Especial sobre Tabagismo (PETab), realizada em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tinha 300 mil fumantes de narguilé em 2008. Mas, segundo o pneumologista da Divisão de Controle de Tabagismo do Inca, Ricardo Henrique Meirelles, “podemos supor que o número aumentou porque virou modismo”.

A preocupação do órgão é que – com as duras leis contra o cigarro – a indústria tabagista procure novas formas de atrair o consumidor, principalmente o jovem. “O sabor não irrita tanto e as pessoas desconhecem o mal que pode fazer. Já vi pessoas que são contra o cigarro, mas fumam narguilé, acham normal e, quando explico a verdade, se espantam”, conta Meirelles.

O problema é que mesmo aqueles com consciência dão de ombros. A pesquisa Perfil de Tabagismo em Estudantes Universitários do Brasil (PETuni), também coordenada pelo Inca, verificou que entre o grupo da área de saúde o consumo de narguilé é comum entre mais de 55%. O levantamento foi feito em São Paulo e Brasília, em 2011, e Florianópolis, em 2007. 

“E não muda nada. Com o narguilé, o cérebro também recebe a nicotina e isso pode levar à dependência, inclusive de cigarro”, adverte Meirelles. “A fumaça do narguilé tem maior concentração de nicotina, de monóxido de carbono e de alcatrão. Além do acréscimo da fumaça do carvão em brasa, que queima o fumo e potencializa os riscos de doença”, explica.


O especialista é implacável. Experimentar ou fumar o narguilé esporadicamente não mudam seu diagnóstico. “Mesmo que fume pouco, a pessoa tem chance de adoecimento maior do que quem não fuma nada. Até quem não fuma, mas convive com a fumaça, corre risco. Sem falar nas doenças transmitidas via oral (veja a relação na imagem abaixo)”, avisa Meirelles.

Para os consumidores, porém, alguns dos pontos listados pelo Inca acabam soando como exagero. Vinicius Herrero Cano, de 20 anos, era fumante de cigarro antes de experimentar o narguilé. Largou o primeiro por pressão da namorada, mas segue com o segundo, de vez em quando, só “em algum churrasco ou viagem”. Para o monitor de bufê infantil, uma coisa não remete à outra. “Porque são gostos diferentes. Só sinto falta do cigarro, quando bebo.”, diz ele.

Raphael Barreiros, de 23 anos, fuma narguilé há 8 anos e conheceu o objeto na casa de um amigo de família árabe. E relata que, antes disso, nunca tinha experimentado cigarro e segue apenas como consumidor de narguilé. “Não tem nem o que comparar. O cigarro é um gosto horrível, tem muitas substâncias tóxicas e o narguilé é composto por só quatro: tabaco, essência, mel e glicerina. Mas nenhum fumo tem alcatrão, como dizem os tais especialistas. Pode pegar a caixinha e olhar, pois todos são analisados e registrados na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).”


O programador de software, diferentemente de quem pouco sabe do assunto, tem consciência dos efeitos. “Não tenho de ser hipócrita. Existem diversas outras coisas que também fazem mal. Mas não há como comparar com o cigarro. Até porque não é uma coisa absurda”, avalia. Para “passar informação a quem tem interesse”, criou o “Blog do Arguile”, que dá dicas de preparo do narguilé e apresenta até resenhas de fumos de diversos sabores. Com 14 colaboradores, tem um público de aproximadamente 60 mil visitantes únicos por mês.

Para Barreiros, a resistência ao narguilé realmente existe. “Porque, quando começou a ser difundido, virou modinha, a molecada passou a comprar os chineses, baratinhos, e querendo aparecer, misturando com bebida alcoólica. Eles não têm a mínima ideia da cultura árabe e acabam estragando tudo”, reclama. “E as indústrias tabagista e farmacêutica são muito fortes por isso querem proibir o arguile”.

Os fumos de narguilé, inclusive, estão na mira da Anvisa. A resolução RDC 14/2012, de março deste ano, determina para, em março de 2014, o fim dos derivados de tabaco com aditivos, responsáveis pelos aromas e sabores. A Reality Cigars, uma das duas empresas cadastradas como importadora do produto, estuda opções sem tabaco: fumos herbais e pedras aromáticas. Barreiros não descarta um abaixo-assinado. “Nem tenho vontade de fumar sem sabor. Qual a graça disso? Não fumo por necessidade, mas por prazer. É o meu momento de relaxar e ter prazer”, diz.

Um comentário:

  1. Verificamos, nesse relato, a queda pelo modismo. A pessoa não procura saber se é prejudicial ou benéfico para a saúde. Simplesmente quer estar na moda. Os adolescentes, com a sua identidade ainda em formação, são mais sucetíveis, pela necessidade de se fazer parte de um grupo e não ser recriminados com palavras vexatórias, que os façam sentir-se menosprezados pelos demais, amigos ou colegas. É uma fase muito difícil, que estes necessitam de orientação familiar ou mesmo de responsáveis, que os façam sentir-se seguros e amados, pelo que eles são, independentemente de suas ações, certas ou erradas. Eis, nesse ínterim, como é importante o exemplo, para que estes tenham a oportunidade de mudar. Melhor ainda, se firmar na Palavra de Deus. Aí, a transformação é certa. Deus abençoe a todos.

    Lourdes
    Jd. N. Sto. Amaro

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