domingo, 28 de junho de 2009

VERGONHA

















Vergonha!
Por Ticiana Bitencourt e Andrea Dip redacao@folhauniversal.com.br "Eu sou velha, mas não quero morrer ainda", disse, repetidas vezes, Anália Rodrigues de Jesus, de 103 anos, à neta Adilene Flores Rodrigues, durante os 5 dias em que aguardou a transferência de um Centro de Saúde, onde estava em um leito de 40 centímetros de largura, para uma unidade de tratamento intensivo (UTI). Adilene, que mora em Vitória da Conquista (BA), visitava a avó na casa da tia, Valdívia Rodrigues de Jesus, de 68 anos, no bairro de Mata Escura, em Salvador (BA) quando o drama começou: "Minha avó estava bem, feliz, fazendo as colchas de retalhos dela, conversando, muito lúcida", lembra. Na madrugada da quarta-feira (10), por volta das 14h, Anália se queixou de dores no lado esquerdo das costas. A filha Valdívia fez uma massagem e deu à mãe um comprimido analgésico. No dia seguinte, a idosa já não podia se levantar da cama. Vizinhos e familiares chamaram, então, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e, após um desmaio, ela foi levada ao Pronto Atendimento do Centro de Saúde Dr. Rodrigo Argolo, do bairro vizinho, Tancredo Neves. "Assim que foram feitos os primeiros socorros, disseram que ela poderia voltar para casa. Mas ela não parecia bem", conta Adilene. "À noite, uma médica plantonista disse que ela apresentava problemas respiratórios e que precisaria ser transferida para uma UTI". A neta lembra que ali começou o desespero da família, que sabia que a burocracia era grande. Confinada num leito minúsculo, ela pedia: "Pelo amor de Deus, me desça desta cama e me coloque no chão que é mais confortável."Após a denúncia de jornais locais e 5 dias de espera, na noite de terça-feira (16), Anália foi transferida para o Hospital Especializado Octávio Mangabeira (Heom), no bairro de Pau-Miúdo. Na madrugada de quinta-feira (18), ela não resistiu e faleceu. O diagnóstico dado pela Secretaria de Estado da Bahia (Sesab) foi de embolia pulmonar. "Minha avó morreu por falta de ajuda. Eles acharam que porque ela tinha 103 anos, não podia tomar o lugar de alguém mais jovem", protesta a neta de Anália: "No centro de saúde, ela ficou sentindo muita dor, a sonda saiu e não havia profissionais suficientes por causa da paralisação de servidores municipais." É difícil contabilizar quantas "Análias" morrem neste exato momento no País por falta de cuidados médicos, vítimas da precariedade da saúde pública (veja outras histórias ao longo da matéria). No fim de maio, Aurenita Maria Oliveira Santos, de 61 anos, morreu vítima de traumatismo craniano no Hospital Geral do Estado, também na Bahia, segundo sua família, por uma queda de uma maca enquanto aguardava atendimento. E uma idosa de 77 anos morreu, também no começo do mês, de infarto, à espera de atendimento no setor de emergência do Hospital Santa Izabel, instituição particular de Salvador, após passar por duas unidades de saúde e não ser atendida. Procurada, a Sesab informou, através da assessoria de imprensa, que o número de leitos de UTI disponíveis na Bahia é de 326 – a população do Estado é de mais de 12,6 milhões de habitantes – o que realmente não supre a demanda, mas que, depois do ocorrido com Anália, iria disponibilizar mais 20 leitos na unidade intensiva para "ampliação da rede de atendimento". Números apresentados pelo Ministério da Saúde mostram que a situação crítica não se limita ao estado da Bahia. É um problema nacional. A estimativa de leitos hospitalares necessários no Sistema Único de Saúde (SUS) é de três para cada mil habitantes. "Pela Constituição Federal, todos temos direito à saúde", explica o advogado Fernando Loschiavo Nery, que defendeu uma causa sobre o programa "SUS Vaga Zero" (leia mais na pág. 9 e abaixo) e conseguiu que seu cliente não pagasse um cheque-caução de R$ 25 mil ao hospital para o qual a mãe dele foi encaminhada por não haver vaga no SUS. "Se a pessoa precisa de atendimento e não existe o equipamento necessário, ou não houver vagas no sistema público, ou ainda não houver entidade que possa dar o tratamento que a pessoa precisa para continuar viva, o familiar poderá acionar o hospital privado mais próximo, mesmo que caríssimo. Isso é determinado pelo Ministério da Saúde. O que acontece é que as pessoas nem sabem que isso existe", completa. Anália, a centenária senhora, morreu sem saber seus direitos. Ela deixa cerca de 50 netos, 23 bisnetos e 19 tataranetos, numa conta que os filhos não conseguem fechar em um número exato.

Um comentário:

  1. Ministério da Saúde, isso e uma vergonha, hoje sou jovem tenho disposição, mas amanhã cabe cada um de nós tomarmos consciencia que a saúde pública no Brasil está uma vergonha, hospitais lotados, postos de saúde que para marcar um exame tem que ficar meses na fila de espera , e se for caso de urgencia a pessoa morre na fila, caro ministro da saúde com certeza o Senhor tem um plano de saúde, mais os menos favorecidos aonde fica vamos acordar enquanto e tempo.

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