quarta-feira, 27 de março de 2013

Quanta informação!


A exposição exagerada a fatos e dados recebidos o tempo todo pelos meios de comunicação não faz bem à saúde, alertam especialistas

Responda sem pensar muito: você lembra qual foi o assunto da última capa da Folha Universal? Sabe dizer algo sobre as últimas cenas da novela Balacobaco, da Rede Record? Se as respostas não vieram de primeira é provável que você seja mais uma vítima do excesso de informação.

Especialistas alertam que estar exposto às notícias e informações que chegam o tempo todo, por intermédio de rádio, televisão, jornais, revistas ou internet, diminui a capacidade da memória, pode causar estresse e atrapalha a concentração das pessoas.

Para a psiquiatra Fátima Vasconcelos, da Associação Brasileira de Psiquiatria, as pessoas estão buscando mais informações do que precisam. “Se sai uma notícia em um site na internet, a pessoa quer ver a mesma notícia em outro site, depois na tevê e no rádio. Para quê? Não têm necessidade disso e elas só perdem tempo”, observa.

Tempo é algo que Kathleen Viana, de 19 anos, operadora de caixa de um supermercado da capital paulista, quase não tem. Sempre cansada, ela só consegue acordar com o alarme de seu celular. “E mesmo assim, muitas vezes levanto atrasada. É uma correria só”, diz a moça. “Antes de sair de casa, eu já nem lembro onde deixei meu celular. Isso porque eu acordo com ele na mão.” No trabalho, mais um mar de informações. “É computador com números, botões e nada pode sair errado. Se eu falhar, é um transtorno.”


Casos como o da operadora de caixa, que vive atribulada com tanta informação, viraram objeto de estudo do consultor educacional Ryon Braga. Em sua pesquisa “O Excesso de Informação – A Neurose do Século 21”, ele explica que se o indivíduo não consegue desenvolver mecanismos para coletar e transformar tantos dados e fatos em informação, de nada vale ele ter acesso a inúmeras fontes para estes dados. “Ao contrário, é possível que essa enxurrada de não informação a que ele tem acesso acabe dificultando ainda mais sua tarefa de transformar tudo isso, primeiro em informação útil e, depois, em conhecimento aplicado”, analisa.

A neurose do século 21 observada por Ryon Braga não é uma novidade para a Bíblia. No livro de Daniel, há uma passagem que propõe um “jejum parcial”, realizado em meio às atividades do dia a dia, com o propósito de alcançar de Deus a revelação de Sua vontade. “Naqueles dias eu, Daniel, estava pranteando por 3 semanas inteiras. Nenhuma coisa desejável comi, nem carne nem vinho entraram na minha boca (…) até que se cumpriram as 3 semanas completas” (Daniel 10. 2,3).

A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) instituiu o “Jejum de Daniel” como um refúgio espiritual de todas as outras coisas do mundo em nome da dedicação aos ensinamentos de Deus durante 21 dias. Neste ano, acontece a 6ª edição da campanha, que será realizada entre os dias 24 de março a 14 de abril. 

Leia mais: Começa hoje o "Jejum de Daniel"


Alguns estudiosos se dedicam a procurar entender e a ajudar as pessoas que se atrapalham com o ritmo do mundo moderno. É o caso do arquiteto norte-americano Richard Saul Wurman, que estudou a arquitetura da informação. No livro “Ansiedade de Informação” (Cultura Editores Associados), Wurman detalha sobre a invasão de dados na vida das pessoas. Para ele, é difícil acompanhar um mundo que lança, por ano, mais de mil novos títulos de livros. Além disso, atualmente, existe pelo menos um site de internet para cada duas pessoas em todo o planeta. A obra do especialista revela também que uma edição do jornal The New York Times em um dia de semana contém mais informação do que uma pessoa poderia receber durante toda a vida na Inglaterra do século 17.

E em tempos de mundo virtual, quanto mais bytes, mais dados estamos sujeitos a guardar no cérebro. Analistas garantem que, durante todo o ano de 2013, haverá a troca de cerca de 667 exabytes (667 bilhões de gigabytes). Mas o que isso significa? Em 2002, o consultor e professor de arquitetura de informação e usabilidade, Guilherme Reis, usou números da University of California at Berkeley para explicar que os 5 exabytes de informações e dados lançados naquele ano pela internet corresponderiam ao mesmo que cada pessoa da Terra pudesse ler 8 metros de livros empilhados. Isto é, cada indivíduo teria de ler 1.067 metros – ou mais de um quilômetro – de livros empilhados para acompanhar o ritmo das informações virtuais ao longo deste ano.

Diante desse cenário, o professor de gestão e administração, Sergio Junger, compara essa busca – ou quase vício – por informações com o caso de pessoas que ganham peso por não controlar a alimentação, ingerindo mais vitaminas do que o corpo precisaria. “Estamos ingerindo mais informações do que precisamos. E por causa disso, eu considero que estamos sofrendo de ‘obesidade informacional’”, diz o professor.

Para ajudar, Junger dá uma receita baseada numa teoria da administração chamada de PDCA (em inglês: play, do, check e act), que significa planejar, executar, verificar e fazer. “Quando alguém busca qualquer tipo de informação, são tantas as opções que fica difícil de escolher. Perde-se muito tempo e é preciso tomar uma decisão rapidamente. Lógico que nem sempre você acerta na sua escolha, mas aí basta você mudar o seu caminho. Isso é com o tempo e exige experiência e maturidade”, explica o professor.


Junger acredita, ainda, que o homem não consegue acompanhar o tempo, por isso precisa ser ponderado para não entrar em paranoia. A especialista em psiquiatria Fátima Vasconcelos chama a atenção também para os problemas de relações interpessoais daqueles que ficam conectados com os meios de comunicação o tempo todo. “Hoje, você usa um tablet para se comunicar com outra pessoa. Até aí tudo bem. Mas e a comunicação entre as pessoas? E as relações? As ferramentas servem para melhorar a comunicação e não para impedir a comunicação”, alerta.

Aos 33 anos, o segurança André Luiz conta que deixa de cumprir muitos compromissos pessoais e até familiares para assistir a filmes ou ficar pelo menos 1 hora por dia na internet, principalmente nas redes sociais. Ele é daqueles que fica em frente à banca de jornal e lê as manchetes dos principais veículos. É tanta informação que André confessa que se atrapalha durante o dia. “Hoje mesmo eu perdi uma consulta médica. Simplesmente esqueci.”

Fernanda Dias, de 25 anos, sempre trabalhou com linha de produção e é um exemplo de quem consegue se organizar sem se deixar levar pelo excesso das informações em sua vida. Atualmente sem emprego, ela evita usar demais internet ou redes sociais em suas horas vagas. “Eu me limito a estudar, porque quero me especializar na minha área. Sou bem organizada, detalhista e a gente tem de tomar muito cuidado para algumas coisas como internet e televisão não virarem um vício.”

Com uma vida mais agitada que a de Fernanda, o serralheiro Vinicius Nascimento, de 26 anos, também acredita que, com um pouco de disciplina, é possível não se contaminar com tantas informações. “Tem muita gente que deixa de estudar ou ir à igreja para assistir à novela”, critica.

Além do trabalho, Vinícius faz curso profissionalizante aos sábados. Sem tempo para estudar, ele aproveita as 2 horas que passa dentro de um transporte público para analisar as apostilas. “Eu moro longe do meu serviço e aproveito esse tempo para estudar”, diz o serralheiro.

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