Por Gisele Brito gisele.brito@folhauniversal.com.br
Em maio passado, Nadir Tarosso, de 53 anos e dona de uma sorveteria, descobriu que seu celular havia sido clonado e resolveu registrar um boletim de ocorrência. Enquanto estava dentro da delegacia, em Salto, no interior de São Paulo, homens armados invadiram o local e roubaram dela o celular que motivou a ida à polícia e mais R$ 13,5 mil. Depois do trauma, Nadir diz que não procuraria novamente uma delegacia em caso de um “crime de menor importância” por não sentir mais confiança nos policiais. “Nem o boletim da clonagem eu consegui fazer. E nunca recuperei o dinheiro roubado. Só procurarei uma delegacia novamente quando for uma coisa maior, inevitável. Se acontecesse algo com o celular de novo, entraria em contato direto com a operadora.” O caso de Nadir mostra o absurdo a que uma visita à delegacia pode levar. Mas não é preciso uma história como essa para se hesitar na hora de registrar uma queixa. Segundo a pesquisa “Vitimização e acesso à Justiça no Brasil”, realizada pelo IBGE com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio de 2009,apenas 48,4% das vítimas de roubo procuraram a polícia depois do crime e 36,4% das que não procuraram, alegaram não confi ar na instituicção. Das que foram à delegacia, 9,8% não registraram boletins de ocorrência. A pesquisa também apontou que os itens mais levados pelos ladrões são dinheiro, cheques, cartões de banco (54%) e celulares (54,2%). Nos casos de furto, apenas 37,7% procuram delegacias e 23,1% das que não procuram, alegam não confiar na polícia. O levantamento perguntou diretamente para pessoas com mais de 10 anos se elas haviam sido vítimas desses tipos de crimes. O método é diferente do adotado pelas secretarias de segurança, que levam em consideração os boletins de ocorrência registrados. Isso revela que os indicadores usados pelos órgãos responsáveis pelo setor estão subestimados em mais de 50% em alguns tipos de crime, como o roubo. “É muito preocupante. Há uma máquina instalada para atender e ela dá medo nas pessoas. A polícia não cumpre o papel que deveria cumprir. A pesquisa indica que é o momento de repensar essa máquina”, pondera Cimar Azeredo, um dos responsáveis pela pesquisa. Para Aldo Fornazieri, coordenador do curso de pós-graduação em Gestão de Segurança Pública da Fundação Escola de Sociologia de São Paulo, a elevada subnotificação tem a ver com a “expectativa negativa das vítimas”. “Não há esperança de que o bem roubado será devolvido. Nesse caso, e em conjunto com a burocracia envolvida para registrar um boletim, a pessoa vê aquele ato como perda de tempo.” Os dados, de certa forma, reforçam esse sentimento. No terceiro semestre de 2010 foram registrados 161,8 mil boletins de ocorrência no Estado de São Paulo, mas apenas 23,5 mil inquéritos, ou seja, procedimentos para investigação. Vulneráveis e desconfiados A pesquisa também apontou que quanto menor a renda da pessoa maior é a desconfiança na polícia. Esse dado pode ter duas explicações,segundo o pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo Moisés Baptista. “Isso pode estar relacionado a experiências negativas anteriores ou pelo fato dessas pessoas terem bens menos valiosos, para os quais o registro do boletim não é obrigatório.” Para Baptista, é preciso aproximar a polícia das pessoas, investindo em outro modelo. “A implantação de bases comunitárias aumenta o grau de confiança em relação à polícia. Há mais vínculos, mais diálogo, mais cooperação entre as partes, e é um modelo menos repressor do que o convencional”, explica.
Já Fornazieri aponta a necessidade de se criar indicadores mais completos para orientar os responsáveis por políticas de segurança: “Se basear apenas nos boletins de ocorrências é muito precário. Um sistema de segurança que usasse dados de hospitais, escolas e outras instituições que mantêm contato com as vítimas seria mais eficiente”, sugere. Ele também considera fundamental a realização de campanhas para explicar à população a importância de se registrar as ocorrências. “Só com um retrato mais fiel da sociedade é possível criar políticas públicas eficientes.”
Em maio passado, Nadir Tarosso, de 53 anos e dona de uma sorveteria, descobriu que seu celular havia sido clonado e resolveu registrar um boletim de ocorrência. Enquanto estava dentro da delegacia, em Salto, no interior de São Paulo, homens armados invadiram o local e roubaram dela o celular que motivou a ida à polícia e mais R$ 13,5 mil. Depois do trauma, Nadir diz que não procuraria novamente uma delegacia em caso de um “crime de menor importância” por não sentir mais confiança nos policiais. “Nem o boletim da clonagem eu consegui fazer. E nunca recuperei o dinheiro roubado. Só procurarei uma delegacia novamente quando for uma coisa maior, inevitável. Se acontecesse algo com o celular de novo, entraria em contato direto com a operadora.” O caso de Nadir mostra o absurdo a que uma visita à delegacia pode levar. Mas não é preciso uma história como essa para se hesitar na hora de registrar uma queixa. Segundo a pesquisa “Vitimização e acesso à Justiça no Brasil”, realizada pelo IBGE com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio de 2009,apenas 48,4% das vítimas de roubo procuraram a polícia depois do crime e 36,4% das que não procuraram, alegaram não confi ar na instituicção. Das que foram à delegacia, 9,8% não registraram boletins de ocorrência. A pesquisa também apontou que os itens mais levados pelos ladrões são dinheiro, cheques, cartões de banco (54%) e celulares (54,2%). Nos casos de furto, apenas 37,7% procuram delegacias e 23,1% das que não procuram, alegam não confiar na polícia. O levantamento perguntou diretamente para pessoas com mais de 10 anos se elas haviam sido vítimas desses tipos de crimes. O método é diferente do adotado pelas secretarias de segurança, que levam em consideração os boletins de ocorrência registrados. Isso revela que os indicadores usados pelos órgãos responsáveis pelo setor estão subestimados em mais de 50% em alguns tipos de crime, como o roubo. “É muito preocupante. Há uma máquina instalada para atender e ela dá medo nas pessoas. A polícia não cumpre o papel que deveria cumprir. A pesquisa indica que é o momento de repensar essa máquina”, pondera Cimar Azeredo, um dos responsáveis pela pesquisa. Para Aldo Fornazieri, coordenador do curso de pós-graduação em Gestão de Segurança Pública da Fundação Escola de Sociologia de São Paulo, a elevada subnotificação tem a ver com a “expectativa negativa das vítimas”. “Não há esperança de que o bem roubado será devolvido. Nesse caso, e em conjunto com a burocracia envolvida para registrar um boletim, a pessoa vê aquele ato como perda de tempo.” Os dados, de certa forma, reforçam esse sentimento. No terceiro semestre de 2010 foram registrados 161,8 mil boletins de ocorrência no Estado de São Paulo, mas apenas 23,5 mil inquéritos, ou seja, procedimentos para investigação. Vulneráveis e desconfiados A pesquisa também apontou que quanto menor a renda da pessoa maior é a desconfiança na polícia. Esse dado pode ter duas explicações,segundo o pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo Moisés Baptista. “Isso pode estar relacionado a experiências negativas anteriores ou pelo fato dessas pessoas terem bens menos valiosos, para os quais o registro do boletim não é obrigatório.” Para Baptista, é preciso aproximar a polícia das pessoas, investindo em outro modelo. “A implantação de bases comunitárias aumenta o grau de confiança em relação à polícia. Há mais vínculos, mais diálogo, mais cooperação entre as partes, e é um modelo menos repressor do que o convencional”, explica.
Já Fornazieri aponta a necessidade de se criar indicadores mais completos para orientar os responsáveis por políticas de segurança: “Se basear apenas nos boletins de ocorrências é muito precário. Um sistema de segurança que usasse dados de hospitais, escolas e outras instituições que mantêm contato com as vítimas seria mais eficiente”, sugere. Ele também considera fundamental a realização de campanhas para explicar à população a importância de se registrar as ocorrências. “Só com um retrato mais fiel da sociedade é possível criar políticas públicas eficientes.”
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