terça-feira, 29 de junho de 2010

Paixão doentia


PAIXÃO DOENTIA
Quando o ciúme, a separação ou desentendimentos entre os casais transformam o carinho em ódio e fazem com que uma história de amor acabe como um caso de polícia Morta com mais de dez facadas no começo deste mês, a médica paulista Glaucianne Hara, de 40 anos, era acusada de perseguir obsessivamente o autor confesso do crime, o marceneiro gaúcho Rodrigo Fraga da Silva, de 33 anos. Ela foi assassinada em frente a um hotel na cidade de Torres (RS), onde Silva, que é casado, mora com a família. De acordo com o escrivão da delegacia da cidade, Ronaldo Teixeira, o marceneiro confessou o crime e alegou que, após eles terem um relacionamento amoroso, a médica o perseguia e ameaçava a família dele. “Ele havia registrado inclusive alguns boletins de ocorrência contra a moça por ameaça”, afirma o escrivão. Glaucianne e Silva teriam se conhecido pela internet em 2007. O marceneiro, que responde o processo por homicídio em liberdade, contou à polícia que, apaixonada, ela constantemente deixava os dois filhos em São Paulo para ir a Torres assediá-lo, mesmo depois de ele acabar com o relacionamento em 2008. A médica paulista não aceitou o término da relação: ligava mais de 40 vezes por dia para ele, fazia ameaças e até tentou se matar com uma overdose de remédios. “Ela tinha um amor doentio por ele. Ele falava para todo mundo que ia matá-la. E ela preferia até ser morta por ele. Ela queria ele a todo custo”, contou uma amiga da vítima, que acompanhou o caso amoroso desde o começo, ao “Domingo Espetacular”, da “Rede Record”. Segundo ela, Glaucianne passou a perseguir o marceneiro, que chegou a espancá-la várias vezes. “Ela falava assim: ‘ele me bate porque me ama’”, disse a amiga, completando que Glaucianne registrou três boletins de ocorrência por agressão contra o ex-amante. Na página pessoal do site de relacionamentos “Orkut”, Silva chama a médica de “lixo”, conta da obsessão da mulher e fala das ameaças: “Esse lixo ambulante responde na Justiça pelos crimes cometidos e por não acatar a lei, onde no início de 2008 se comprometera a não me perseguir mais. Comprometeu-se, mas não cumpriu”, descreve na internet. A relação doentia entre Glaucianne e Silva é mais um caso de paixão exagerada que não teve um final feliz. “Relações pessoais são como reações de produtos químicos. Algumas se equilibram, outras são explosivas. Isso não justifica nem exime a culpa do agressor, que já é uma pessoa violenta e demonstra isso antes de cometer o crime”, comenta a procuradora de Justiça do Ministério Público de São Paulo, Luiza Nagib Eluf, autora de dois livros sobre crimes passionais, que são aqueles em que o sentimento de paixão se transforma em raiva, ódio e vingança. Segundo a Anistia Internacional, cerca de 70% dos assassinatos de mulheres no mundo são praticados pelos parceiros. Segundo Rúbia Abs da Cruz, advogada e coordenadora da organização não-governamental Themis, especializada em assessoria jurídica e estudos de gênero, mais da metade dos casos de homicídios passionais ocorrem no momento da separação.Luiza Eluf afirma que, com raras exceções, os crimes passionais são planejados e cometidos por pessoas que não conseguem lidar com a frustração. “O crime passional não é causado pelo amor. A motivação é sempre o ódio”, completa. Para ela, a única forma de prevenir esse tipo de assassinato é dando proteção policial à vítima antes que o pior aconteça. “Não adianta vir com aquela máxima da ‘briga de marido e mulher ninguém mete a colher’, porque depois o casal volta a ficar bem. Isso pode acontecer, mas nem por isso as queixas devem ser ignoradas’, aponta Luiza, que vê no caso da advogada paulista Mércia Nakashima todas as características de um crime passional, apesar de a polícia ainda não ter concluído as investigações. “Trata-se de um relacionamento desfeito, com crises anteriores de ciúme, perseguição à ex-namorada, temperamento explosivo do ex. Tudo isso é característica de um crime passional”, relata. O caso lembrado pela procuradora ainda está sob investigação, mas a suspeita do assassinato recai sobre o ex-namorado de Mércia, o advogado e ex-policial militar Mizael Bispo, de 40 anos. Depois de ficar 20 dias desaparecida, o corpo de Mércia, que tinha 28 anos, foi encontrado no último dia 11 em uma represa de Nazaré Paulista, no interior de São Paulo. Bispo, que namorou com Mércia durante 4 anos e após o término do relacionamento no fim do ano passado tentava reatar o romance, nega as acusações. Mas uma testemunha afirma tê-lo visto em um posto de gasolina em Nazaré Paulista no dia 23 de maio, dia do desaparecimento da moça. Além disso, um pescador declarou à polícia que naquela data estava na represa à noite quando ouviu gritos e viu um homem sair de um veículo antes de ele afundar – o corpo de Mércia foi achado boiando próximo a seu carro, que estava submerso. A família de Mércia afirmou ao “Jornal da Record” que foi ameaçada, caso prossiga com as investigações. Enquanto ela estava desaparecida, os parentes da advogada declararam à imprensa que Bispo era uma pessoa violenta. “Não estamos acusando ele, porque não temos prova, mas tudo nos leva a crer que foi ele”, disse à mãe de Mércia, Janete Nakashima, ao programa “Hoje em Dia”, da “Record”. Para a psicóloga Sâmia Simurro, professora de MBA e especialização em Gestão de Programas de Qualidade de Vida da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo e da Universidade São Camilo, há duas formas de descontrole emocional que podem levar a um final trágico. “Quando há um planejamento do crime, há o sintoma de psicose. Mas existe também aquela pessoa que explode e acaba cometendo o crime movida por uma emoção intensa”, completa Sâmia. Ela já acompanhou um caso típico de desequilíbrio emocional de uma mulher que ficou abalada depois de descobrir que era traída pelo marido. “Certo dia, tomada pelo ciúme, atirou no ex-marido, que morreu”, diz. A mulher confessou o crime e foi condenada. Avaliada por psiquiatras forenses, foi tida como doente mental e cumpre pena em um hospital psiquiátrico. “Embora considerada doente, ela tomou consciência de tudo o que perdeu: filhos, emprego, a vida em liberdade. Mas há erros que não temos como arrumar”, finaliza.

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