sábado, 4 de maio de 2013

Quase fui assassino


Rafael Vasconcellos Silva era um desses adolescentes que não medem esforços para andar com dinheiro, roupa de marca e viver rodeados de mulheres. Até os 17 anos, respeitava e obedecia aos pais, era humilde, simples, tinha boas amizades, estudava e sonhava com um futuro promissor. Mas as dificuldades financeiras, agravadas pela ausência do pai, que abandonou sua mãe por uma mulher mais nova, lhe tiraram o ânimo e a fé para continuar lutando por uma vida melhor.


A luta incansável da mãe e as orientações e evangelização que recebeu do Força Jovem restauraram sua vida e sua fé, tornando-o um homem de bem, querido pela família, trabalhador e confiante num futuro melhor. Mas a superação não aconteceu da noite para o dia. Segundo ele, os prazeres da vida, dos 17 aos 20 anos, só aumentavam nele o desejo de manter-se no caminho errado.

“Minha mãe me via armado com fuzil, mas perdera todo o controle sobre mim porque eu nem estava mais na Igreja. Quando os pais não têm mais autoridade sobre os filhos, a expectativa é a pior possível porque se perde o rumo, a referência. Pior é quando não existe mais fé, o que aconteceu comigo”, lamenta.

Quando via o grupo do Força Jovem evangelizando na rua, Rafael saía correndo, mesmo sabendo que estava errado. Afinal, tinha sido da Igreja por vários anos. Por duas vezes, foi alvo de tiros de fuzil de um mesmo PM, que errou a mira em ambas. O pior episódio, segundo Rafael, ocorreu quando viveu uma situação em que teria que matar um traficante que vendia pó Royal (fermento de bolo), em vez cocaína, prejudicando o comércio de drogas no local.


“O gerente do tráfico me passou uma pistola e perguntou se eu já havia sentido cheiro de sangue. Ele ordenou que eu matasse o homem que estava na minha frente. Três coisas me impediram de atirar: Deus; a afirmação que ouvi de um pastor de que não temos poder de tirar a vida de ninguém; e o pedido de misericórdia do traficante, que disse ter feito aquilo porque a filha não tinha o que comer. Entreguei a pistola e não matei, mas o homem foi morto por outro do grupo”, conta.

Para entrar no caminho do bem, Rafael enfrentou muitos obstáculos, superou o vício nas drogas e contou com uma ajuda especial para não aceitar o posto de gerente do tráfico, que tinha, na época (2005), salário de R$ 10 mil.

“Era um dia movimentado. O tráfico vendia muita droga e um dos traficantes me chamou no canto e perguntou por que eu não voltava para a Igreja. Aquilo me travou, gelei por dentro, fiquei por alguns segundos sem ação e conclui que era uma mensagem de Deus. Larguei tudo, entreguei o fuzil, a pistola, as drogas e voltei para a Igreja e para o Força Jovem, de onde nunca deveria ter saído”, afirma.

Quando voltou, muita gente desconfiou daquela mudança radical de comportamento: da soberba para a humildade. Mas no domingo seguinte, foi batizado.

“Deus me guardou e protegeu durante os três anos em que fiquei no tráfico. Isso não foi em vão. Hoje, oro e procuro tirar as pessoas desse caminho. Sou muito grato ao Força Jovem, que insistiu para eu sair daquela vida. Hoje, recuperei a autoestima, a dignidade e o carinho de minha família. Minha esposa é maravilhosa, trabalho honestamente e sonho ser pai. Além disso, completei o ensino médio no ano passado e estou me preparando para o concurso dos Bombeiros”, comemora o porteiro, hoje com 27 anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

MACACO LADRÃO PM 1