Família: o berço de tudo
Pais e filhos juntos ainda formam a base da sociedade
moderna. É importante criar rotinas que promovam o convívio e fortaleçam
os laços dessa união, para enfrentar as dificuldades da vida
Para
o Código Civil, a união estável entre o homem e a mulher, configurada
na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o
objetivo de constituição de família, é reconhecida como entidade
familiar. Mas, muito além do que está previsto juridicamente, a família é
realmente a base de tudo e seu fortalecimento impulsiona o crescimento
pessoal e, consequentemente, do País. É o que revela pesquisa do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Censo 2010.
"O papel da família na reprodução da
sociedade é muito significativo. É na família que a renda é reunida para
organizar um orçamento comum que satisfaça as necessidades de cada
membro. A renda adquirida pela família é, basicamente, o que define suas
possibilidades de aquisição de bens e serviços. Nessa medida, a renda
familiar per capita é um indicador bastante eficaz para caracterizar o
perfil socioeconômico das famílias brasileiras", diz o IBGE.
Diante dessa
linha de interpretação, no que depender da expectativa das famílias, o
crescimento do Brasil está indo bem. O otimismo das famílias brasileiras
com a situação atual da economia do País atingiu no início de 2012 o
maior patamar em 18 meses, segundo o IEF (Índice de Expectativa das
Famílias) do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Essa
expectativa é feita em cima de itens como a situação econômica do
Brasil, a condição financeira para o futuro e a segurança no mercado de
trabalho.
Um
levantamento mais recente feito pelo Datafolha sobre o tema mostra que o
percentual dos brasileiros que dizem que a família é muito importante
em suas vidas subiu de 61% para 69%, passando a ocupar o primeiro lugar
num ranking que inclui, entre outros itens, estudo, trabalho e dinheiro.
Manter um relacionamento próximo com os pais, por exemplo, é
considerado muito importante para 78% dos entrevistados, sendo que 20%
acham essa proximidade importante. Ou seja, 98% dos brasileiros primam
pela preservação das famílias.
Para preservar
a união das famílias, algumas dicas simples são bem úteis. Estudos
feitos pelo Centro Nacional de Dependência e Abuso de Substâncias da
Universidade de Columbia, nos EUA, mostram que crianças em famílias que
comem reunidas pelo menos três vezes por semana têm um risco mais baixo
de abuso de álcool e substâncias ilícitas e têm mais chances de tirar
melhores notas na escola. Especialistas dizem que criar um ritual de
refeição familiar é um jeito de trazer estrutura para a vida de uma
criança e pode ajudar a desenvolver um senso de tranquilidade e
segurança. Além disso, segundo o estudo, é o melhor jeito de cristalizar
uma alimentação saudável desde a infância.
A aproximação
entre os entes também beneficia a educação dos filhos, formando um
círculo virtuoso. "Eu já conversei com muitos professores e está na cara
que os melhores alunos são sempre aqueles que são acompanhados de perto
pelos pais, que a mãe verifica se fez lição e até ajuda, se necessário.
Quando isso acontece o aluno vai melhor na escola. Mas o tipo de
acompanhamento não é só a cobrança por nota. Tem que conversar no dia a
dia, ver se fez a lição e estabelecer alguma rotina na hora da lição.
Não faz mal se não há lição: ele pode aproveitar e ler. Se for obedecido
todo dia, vira hábito e nem vai mais precisar cobrar", indica o doutor
em educação e palestrante da Educar Educador 2012, Marcos Meier, fazendo
ainda um alerta para quando ocorrer a separação dos pais.

"Quando os
pais se separam, a criança passa por período de readaptação e mostra sua
revolta contra a separação ou que sente culpa. A orientação é que se
converse e explique que não é culpada. Pode ocorrer de cair a nota na
escola e ela ficar mais irritável por até 6 meses. Por isso, quando isso
acontece, os pais têm de explicar, para a escola dar uma atenção."
Mais do que a
queda de rendimento de uma criança na escola, o reflexo da separação ou
da perda de um líder numa família pode ser devastador. O limpador de
vidros Thiago dos Santos, de 25 anos, quase se perdeu no caminho das
drogas. Depois de perder o pai e dois irmãos para o vício, o jovem
passou 8 anos usando maconha e cocaína, mas foi salvo pelas irmãs e pela
mãe, a cozinheira Marineide Maria dos Santos, que hoje tem orgulho do
filho, trabalhador e livre do vício há 5 meses.
"Depois que
perdi meu marido e enteados, conversamos e deixei claro: seríamos os
quatro lutando como se fossemos um só. Deu certo. Sofri muito, até
deixei que ele fumasse maconha em casa para que ficasse perto de mim.
Foi duro, mas valeu. Aprendi que nunca podemos desistir dos filhos: eles
são dádivas em nossas vidas. Hoje ele só me dá alegria", diz,
emocionada, dona Marineide.
A distância da
família também deixou vulnerável o então adolescente Laércio Gonçalves
de Jesus Júnior. Quem vê o hoje auxiliar de máquinas de 20 anos
trabalhando duro, não imagina que há 3 anos ele era um adolescente que
vivia fumando maconha e cheirando lança-perfume. A união da família
também salvou Bruno Castellon. Aos 22 anos, hoje ele é pai e trabalha
num hotel na Avenida Paulista, numa reviravolta inimaginável para
muitos, mas não para os seus pais. "A família é muito importante.
Unidos, enfrentamos as dificuldades e com diálogo nos ajudamos", diz
Andreia Castellon, de 41 anos, lembrando o período em que via Bruno
roubar pertences da família e se sentia humilhada ao ouvir os vizinhos
chamá-lo de "noia". Andreia conta cheia de orgulho que, ao lado do
marido, o médico Mário Castellon, ganhou a batalha para livrar Bruno do
vício.
Convívio com avós também é essencial
A palavra
"família" de imediato nos remete a pai, mãe e filhos. Esquecemos que,
além deste núcleo principal, há a família anterior a esta, iniciada
pelos avós. O convívio com eles, segundo pesquisa da Universidade de
Concordia, do Canadá, é essencial para manter a família unida.
O ideal,
explica o estudo, é que se criem oportunidades para o estreitamento de
laços. E, para isso, mais do que grandes almoços em família, por
exemplo, é importante a realização de atividades em conjunto. De
trabalhos manuais, como jardinagem, a lúdicos, como jogar baralho.
Nestes
momentos os mais velhos dividem histórias de família, lições de vida e
experiências pessoais. "Passam adiante valores de família, tradições e
enfatizam a importância da união", explica o autor do estudo, Shannon
Hebblethwaite.
Do outro lado, os mais novos ensinam o
que há de mais atual no mundo. "Alguns avós aprenderam a usar o e-mail e
outras formas de se conectar ao mundo com os netos", acrescenta.
"Dividir o conhecimento nessas horas é o que permite o fortalecimento do
elo."