Usar elevador, ir à
padaria
de carro, trabalhar
no
computador e
pedir
comida por
telefone
tornam a vida
contemporânea
menos
cansativa.
Aparentemente
inofensivos, os
minutos
poupados em tarefas
cotidianas contribuem
para o crescimento
acelerado do sedentarismo. Mais de
3 milhões de pessoas morrem por ano
por causa da inatividade física, e o risco
de todas as causas de mortalidade sobe
até 30% para pessoas insuficientemente
ativas, segundo a Organização Mundial da
Saúde (OMS).
Estudo publicado em julho no periódico
“The Lancet” mostra que o sedentarismo
pode ser tão mortal quanto o tabagismo,
fato que o tornaria uma nova “pandemia”
mundial. A pesquisa, comandada por
I-Min Lee, professora de epidemiologia da
Universidade de Harvard, nos Estados Unidos,
concluiu que a falta de movimentação
causou uma em cada dez mortes por
doenças cardíacas, diabetes e câncer
em 2008, o que corresponde a 5,3 milhões
de óbitos no mundo. Para se ter uma
ideia, o cigarro mata 5 milhões de
pessoas todos os anos.
O cardiologista Carlos Alberto Machado,
diretor de Promoção da Saúde
Cardiovascular da Sociedade Brasileira
de Cardiologia (SBC), concorda com
a avaliação. “O problema é muito grave,
estamos diante de uma epidemia. A
vida em grandes centros urbanos, com
longas jornadas de trabalho, faz com
que as pessoas deixem de se movimentar.”
Segundo a SBC, 49% dos brasileiros
não praticam nenhum tipo de atividade física.
A pesquisa Vigitel, do Ministério da Saúde,
aponta que 49% dos adultos estão com
excesso de peso e a obesidade atinge 16%
deles.
Machado lembra que exercitarse
regularmente ajuda a prevenir o
corpo de doenças cardíacas, além
de controlar a pressão arterial
e ajustar os níveis de colesterol
e açúcar no sangue.
"A pessoa que faz atividade física
está reservando um tempo para
sí, tornando-a mais comprometida com
a qualidade de vida"
A gerente de comércio exterior Cristina
Gonçalves, de 32 anos, conhece as
vantagens dos exercícios e até chegou
a se matricular em academia, mas confessa
que sempre tem uma desculpa para
evitá-los. “Não é prioridade, acho um
tédio correr na esteira”, explica,
acrescentando que há 4 anos fez
cirurgia para retirar a glândula tireoide e,
por isso, está acima do peso. Agora,
pretende investir em hidroginástica,
atividade que considera mais prazerosa.
Para o fisioterapeuta e educador físico
Marcio Marega, responsável pelo
programa Anti-Sedentarismo do
Hospital Albert Einstein, Cristina
tem chances de sucesso. “Quando há
prazer, consegue-se mais regularidade.
Uma dica é criar um diário e comemorar
as pequenas metas alcançadas, além de
contar com o suporte de familiares”, ensina.
A falta de tempo não pode ser
empecilho. Segundo Marega, é
preciso criar oportunidades de movimento,
como estacionar o carro mais distante e
caminhar até o destino final, preferir escadas
e não ficar muito tempo no sofá. “Qualquer
atividade que envolva gasto de energia
além do necessário para a sobrevivência,
durante 30 minutos por dia, pelo menos
cinco vezes por semana, tira a pessoa do
sedentarismo.” (veja mais dicas nos
infográficos espalhados pela página).
Para as crianças, o ritmo das atividades
deve ser de moderado a intenso, pelo
menos 60 minutos por dia. “Elas estão
em fase de crescimento e precisam
gastar mais energia”, argumenta Marega.
Iago de Oliveira, de 18 anos, aproveita a
bicicleta para ir à escola e ao trabalho.
“Gosto de pedalar, até nos fins de semana”,
conta.
O envelhecimento da população brasileira
também reforça a importância de hábitos
saudáveis. Em 50 anos, o percentual de idosos
mais que dobrou no País, segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Precisamos começar agora. Se houver
um grande número de idosos doentes daqui
a alguns anos, não vai existir sistema de
saúde capaz de suportar”, analisa Machado.
O futuro foi o estímulo que levou o
empresário brasiliense Claudio Garbi, de
38 anos, a se livrar de mais de 60 quilos e
da obesidade mórbida em apenas dois anos.
Com 1,94 m de altura, ele pesava 180 quilos
quando marcou cirurgia de redução de
estômago. No entanto, após dez dias em
um spa e 8 quilos mais magro, Claudio
cancelou a operação e decidiu mudar o
estilo de vida radicalmente.

“Tenho dois filhos, precisava dar o exemplo”,
relembra. Ele começou com caminhadas
de 6 quilômetros por dia, que logo evoluíram para
corridas. Quando ganhou a primeira medalha, ficou
empolgado e desde então já participou de 115 provas,
incluindo uma maratona de 42 quilômetros “A
vontade de viver cresceu, o sono
melhorou, a pressão arterial está
controlada. O impossível não
existe, basta tomar a iniciativa”, acredita.
A esposa Evandra e os filhos Cauê, de
7 anos, e Giovana, de 9, além de amigos
dele, foram influenciados e também
participam de eventos esportivos. O próximo
desafio de Claudio Garbi é a Maratona de
Amsterdã, marcada para outubro.
O ex-triatleta Fernando Diefenthaeler, doutor
em ciências do movimento humano e
professor da Universidade Federal de
Santa Catarina, compara o corpo a um
carro que não pode ficar parado na garagem.
“Para as engrenagens funcionarem, elas
devem estar em movimento. O exercício
diminui o risco de obesidade, acelera o
metabolismo e os ossos recebem
impactos que estimulam a formação de cálcio”,
explica.
A atividade física traz benefícios em qualquer
idade, e não é necessário ser atleta nem
ter muito dinheiro para se mexer. Vale reunir
os amigos para uma caminhada, procurar
associações de bairro e utilizar praças e
faixas para bicicletas, sugere Fernando
Diefenthaeler, que conseguiu convencer a
própria mãe a iniciar um programa de
caminhadas aos 70 anos.
Orientação é fundamental
Quem já conseguiu sair do sedentarismo
ou deseja resultados mais rápidos deve procurar
a ajuda de médicos e profissionais de educação
física. Os “atletas de fim de semana”, que se
esforçam muito sem preparo adequado,
correm mais riscos, diz Diefenthaeler. “É como
se uma pessoa pegasse um avião sem
nunca ter pilotado. Ela pode sofrer lesões,
passar mal e até ter uma morte súbita.”
Para Nilo França, professor da academia
Companhia Athletica, de São Paulo, os praticantes
devem usar roupas leves, que
permitam a movimentação e a transpiração,
e calçados confortáveis. Além de corrida,
natação e musculação, há outras opções para
melhorar o condicionamento físico. “Pilates,
lutas e escalada trazem os mesmos ganhos.
O exercício deve ser frequente e de
intensidade moderada, o suficiente para
elevar a frequência cardíaca e produzir
sudorese, mas cada caso deve ser
avaliado individualmente.”
A nutricionista Carolina Carnevalli, especialista
em Fisiologia do Exercício, afirma que a boa
alimentação é aliada na luta contra o
sedentarismo. Comer pelo menos cinco
porções de frutas, verduras e legumes
diariamente e aumentar a ingestão de produtos
integrais é um bom começo. “É importante
beber bastante água e nunca se exercitar em
jejum”, diz ela. Outro estímulo para cuidar
do corpo pode ser conseguido com a
redução de alimentos gordurosos ou com
muito sal e muita açúcar. “O desafio é fugir
da gordura escondida em cada prato”, ensina.
O cardiologista Carlos Alberto Machado explica
que, em 2011, o Brasil participou de
assembleia da Organização das Nações Unidas
(ONU) para o combate do câncer, diabetes e
doenças cardiovasculares. As metas preveem
que a diminuição da mortalidade por essas
enfermidades seja alcançada a partir de quatro
eixos: o combate ao tabagismo e ao uso
abusivo de álcool, o aumento do consumo
de frutas, verduras e legumes e a
redução do sedentarismo. Machado acredita
que essas mudanças ajudariam a reduzir as
mais de 300 mil mortes por doenças
cardiovasculares todos os anos no País.
Agita SP é referência mundial
Lançado em 1996 para combater o
sedentarismo no Estado de São Paulo, o Agita
São Paulo espalhou o princípio de acumular
30 minutos de atividade física, cinco vezes
por semana. O projeto converteu-se em referência
para a Organização Mundial da Saúde (OMS) em
2002. “Existiam outras iniciativas, mas elas
eram acadêmicas”, avalia Luis Carlos de Oliveira,
um dos coordenadores. Hoje, o Agita SP faz
parcerias com órgãos públicos e privados
para disseminar a ideia, e a rede Agita Mundo
tem mais de 60 países. “A grande sacada foi
transformar a atividade física em algo
simples e acessível”, resume Oliveira.