A degradação da imagem feminina não é novidade na indústria do entretenimento. Há décadas, os filmes de Hollywood gastam milhões de dólares para mostrar atrizes como meros objetos sexuais. A publicidade usa a mesma fórmula para vender todo tipo de produto: moças em trajes curtos, corpos expostos e atitude vulgar. Em propagandas de cerveja, elas aparecem como “gostosas” e chegam a ser comparadas a frutas ou a pedaços de carne.
Já a publicidade de produtos masculinos explora a figura da “interesseira” ou da escrava sexual. Músicas com letras humilhantes completam a maioria das produções. A última polêmica envolvendo a desvalorização feminina em campanha publicitária ocorreu no fim de março, na Índia. Anúncios de um carro da marca Ford provocaram indignação no país, ao exibir mulheres amarradas dentro do porta-malas do veículo.
Em uma das peças, o italiano Silvio Berlusconi, que já se envolveu em vários escândalos sexuais, aparece mostrando um sinal de vitória. O material foi produzido e divulgado pela agência JWT India, uma unidade do maior grupo mundial de publicidade, a WPP.
Os anúncios surgiram poucos dias depois de a Índia aprovar uma lei mais rígida para punir crimes sexuais. O país enfrenta uma crise desde que a notícia do estupro coletivo e morte de uma estudante em dezembro escandalizou o mundo. A Ford India lamentou o incidente e disse que o material alvo de crítica não havia sido aprovado.
Pedidos de desculpas podem não ser suficientes para desfazer os problemas trazidos por essas campanhas. Em alguns casos, a propaganda ajuda a perpetuar a ideia de que a humilhação da mulher é algo normal. A desvalorização abre espaço para a banalização da violência doméstica. A hipótese se comprova no Brasil, que tem o sétimo maior índice de assassinato de mulheres entre 84 países, segundo dados do “Mapa da Violência de 2012”.
E o que dizer sobre moças que desejam ser símbolos sexuais? Iludidas pela mídia, muitas querem seguir padrões de comportamento e beleza distorcidos, que incluem regimes malucos e cirurgias plásticas arriscadas. As imagens pulicitárias ainda fortalecem a pornografia, pois usam os mesmos recursos estéticos dessa indústria.
A depreciação da mulher também explica o sucesso de livros e filmes em que as protagonistas acham que apanhar do companheiro é sinal de amor! Como nossas mães, filhas, irmãs e esposas gostariam de ser retratadas? Que atitudes valorizam a mulher? Publicitários e empresas deveriam pensar nessas questões antes de criar propagandas.
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