Ele não me levou para casa, foi para uma mata, não tinha ninguém por perto...
Decidi contar para minha mãe, eu não iria aceitar isso na minha vida. Quando cheguei em casa, minha mãezinha não estava, meu pai a levou para o hospital, ela passou mau. Corri para lá, era perto de casa. Encontrei meu pai falando com o médico:
– Doutor, quando cheguei em casa, Alicia estava tremendo muito, parecia até uma convulsão, a febre estava muito alta e ela gritava de dores.
Como eu iria falar para minha mãe sobre o monstro estando ela nesse estado? Nem poderia falar para meu pai, a cabeça dele entraria em parafuso.
Fiquei calada e fui para o quarto do hospital cuidar da minha mãe. Ela estava magra, os olhos fundos, dava para ver os ossos de seu rosto. Ela pediu para tomar um banho, eu quis ajudar.
A enfermeira a colocou na cadeira de rodas e me deixou banhá-la. Minha mãe não conseguia ficar em pé. O braço dela estava tão fino, seu quadril, suas costas, eu podia contar os ossos. A pele parecia verde, já não tinha mais aqueles cabelos longos e cacheados como os meus, estavam muito ralos. Seus dentes pareciam maiores, seus lábios sumiram. O cheiro da minha mãe havia acabado, agora cheirava câncer. Ela mal conseguia falar.
Peguei um pano com sabonete e passei sobre a pele dela. Era sabonete de alfazema, minha mãe me olhou. Seu olhar continuava de mãe. Ela me perguntou:
– Meu amor, está tudo bem contigo?
Eu queria tanto gritar para ela tudo o que estava acontecendo, mas como faria isso? Ela é quem precisa de mim, eu não posso falar nada, ela não tem condições de me ajudar agora, eu é quem tenho que ajudá-la. Dentro de mim, gritava:
– Socorro, mãe, eu preciso da senhora!
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