Em 1 década, o Brasil registrou 10 mil novos casos de trabalhadores com menos de 13 anos, revela relatório internacional
Em 2006, o Brasil assumiu um compromisso internacional de acabar com o trabalho infantil até 2020. Mas um relatório divulgado pela Organização Internacional do Trabalho com dados do Censo 2010 indica que a meta dificilmente será alcançada. Pior do que não diminuir, o número de crianças entre 10 e 13 anos trabalhando aumentou nos últimos 10 anos: subiu de 699.194 para 710.140, com 10.946 novos casos justamente na faixa etária mais frágil. Além do registro negativo nesse grupo, houve uma pequena evolução no quadro geral do trabalho infantil no País: de 3,9 milhões de casos para 3,4 milhões, entre 10 a 17 anos – queda de 13% .
"Isso é preocupante, já que essa faixa etária (10 a 13 anos) corresponde aos anos anteriores à conclusão do Ensino Fundamental e seu impacto sobre a aprendizagem, conclusão ou abandono escolar ou não ingresso no ensino médio, é imediato", analisou em nota o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI) ao comentar o relatório, apresentado no último 12 de junho, Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil.
"São dados fidedignos, um diagnóstico muito perto da realidade. A situação é dramática e se continuar nesse passo a Bahia não contribuirá em nada com o compromisso assumido pelo Brasil", lamentou a procuradora, que cobrou o governo estadual, onde, assim como em todo o Brasil, o problema não se restringe a crianças nessa faixa etária.
Em abril, no município de Lauro de Freitas, região metropolitana de Salvador, Jonatas, de 17 anos, morreu esmagado por vidros enquanto descarregava um caminhão, atividade que está entre as piores formas de trabalho infantil e que é proibida por lei para menores de idade (veja no box ao lado mais detalhes sobre a legislação brasileira). Segundo a procuradora baiana, costuma haver adolescentes em lava-rápidos também, o que é proibido, além de menores em trabalhos informais, em semáforos e feiras livres.
A Bahia é o quarto pior Estado em números absolutos no ranking do trabalho irregular para adolescente, com 129.836 casos, atrás apenas de São Paulo (359.196), Minas Gerais (198.818) e Paraná (134.882). Mas as maiores porcentagens de jovens de 16 a 17 anos em trabalhos ilegais ocorrem em Santa Catarina (44,2%), Rio Grande do Sul (35,8%), Paraná (36,4%), Rondônia (34,5%), Goiás (34,2%), Mato Grosso (32,7%) e Mato Grosso do Sul (32%).
"Peço ações concretas. A União transfere a verba, mas dinheiro só não basta. O maior problema, sinceramente, é a incipiência de políticas públicas. O Estado precisa partir para o confronto e ensinar os municípios a executar os serviços", diz Sandra Faustino. Além de ações para atacar o problema, a procuradora indica que é preciso sensibilizar a sociedade. "Primeiro é uma questão social, a gente vê pobre no trabalho infantil, não tem criança de classe média trabalhando. Geralmente são de famílias pobres, com pai ou mãe que também não estudaram e cresceram contribuindo com a renda de casa. Aí repetem o ciclo de pobreza", explica.
O outro fator é que boa parte das pessoas entende que trabalhar é um modo eficaz para a criança não virar marginal. "Primeiro é preciso estudar para se qualificar. Na verdade, no trabalho infantil, na informalidade, as crianças ficam mais próximas do crime", alerta a procuradora.
Legislação proíbe qualquer tipo de trabalho até 13 anos
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