PAIS QUE ABANDONAM OS FILHOS:DEMONSTRAÇÃO DE DESESPERO, DE CRUELDADE OU DE FALTA DE VOCAÇÃO FAMILIAR?Apesar de o Brasil ter conseguido baixar as taxas de mortalidade infantil, ainda é na América Latina e, especialmente no País, onde a violência contra crianças atinge os níveis mais alarmantes do globo. Anualmente, são registrados mais de 500 mil casos de maus tratos contra crianças de até 12 anos, mas acredita-se que esse número possa dobrar, levando-se em consideração que apenas uma pequena parte é denunciada. Estatísticas do Sistema de Informação para a Infância e Adolescência (Sipia), do Ministério da Justiça, apontam os pais como os principais autores da violência contras crianças. De todos os casos analisados anualmente, mais de 70% ocorreram dentro de casa e, depois da violação ao direito da convivência familiar, os casos mais observados são os de violência física e psicológica. Só em 2005 foram registradas 70 mil ocorrências desse tipo, o que significa uma média diária de 189 agressões por todo o País. Ainda de acordo com o mesmo estudo, de cada 150 ocorrências de maus tratos, 60% estão relacionados a crianças que vão de recém-nascidas a pré-adolescentes de até 12 anos, vítimas de estupro, exploração e abuso sexual; 48% são de etnia branca; aproximadamente 60% freqüentam escolas; 66% delas conhecem o agressor; e mais de 60% dos casos ocorreram na casa da própria vítima, tendo os pais como os autores dos abusos. Em relação aos tipos de violentação, 45% foram vítimas de estupro; 33% de atentado violento ao pudor e 7% de atentado com penetração anal. Em 55% dos casos, as denúncias partiram de um membro da própria família, e em apenas 10% dos agressores foram comprovados algum tipo de distúrbio psicológico. O abandono de crianças com menos de um ano de idade, ao invés de recuar, avançou no Brasil. De 2005 a 2008 os casos aumentaram 50%. Só na cidade do Rio de Janeiro mais de 30 bebês, ainda com o cordão umbilical, são encontrados anualmente em lixões e ruas da cidade. Para o representante da Unicef no Brasil, um dos grandes entraves para a resolução do problema é o número reduzido de denúncias. “Os familiares têm medo de levar o caso à delegacia porque temem sofrer represália. A lentidão da justiça é também um empecilho, pois até que se levantem provas concretas contra o acusado, até que sua prisão seja determinada, ele pode fazer muita coisa contra essas pessoas. O fato de o Brasil ser o líder mundial de violência contra mulheres, por exemplo, prova isso”, desabafa.
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