quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

IURD NOTÍCIA POSSE DA HONRA.


Foi um encontro rápido, mas caloroso e com uma sincera troca de afetos e sorrisos que não passou desapercebida pelos ilustres convidados da recepção que celebrou a posse de Dilma Rousseff, a primeira mulher a presidir o Brasil. Exibindo a faixa presidencial no dia de sua posse, a presidente Dilma recebeu numa cerimônia reservada a autoridades e chefes de Estado – entre eles estavam a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez (leia na pág. 9) – os cumprimentos do bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) e proprietário da “Rede Record”. O bispo estava acompanhado do presidente do “Grupo Record”, Alexandre Raposo, do vice-presidente de jornalismo da emissora, Douglas Tavolaro, e do presidente de relações corporativas da “Record”, Marcos Pereira. O encontro, no segundo andar do Palácio do Planalto, em Brasília, foi um dos principais eventos da festiva posse de Dilma Rousseff e possui um valor simbólico. Demonstra que o tempo é o senhor da razão e a honra prevalece a injustiças. Vítima de incessantes perseguições desde a fundação da Igreja Universal, há 33 anos, o bispo Macedo acostumou-se a sair mais fortalecido a cada ataque sofrido. No encontro com a nova presidente do Brasil, ele deu a volta por cima, mais uma vez. Em 2009, o bispo Macedo e mais nove pessoas foram acusados pelo Ministério Público de São Paulo de vários crimes, entre eles, de lavagem de dinheiro. Se tratavam de denúncias vazias, inócuas, inclusive já arquivadas pelo Supremo Tribunal Federal, mais alta instância jurídica do País. Ainda assim, tiveram grande repercussão em alguns dos principais veículos de comunicação brasileiros, como o jornal “Folha de S. Paulo”, a revista “Veja” e principalmente a “Rede Globo”. Emissora que, no sábado (1), dia da posse, interrompeu as transmissões ao vivo da cerimônia,possivelmente para não exibir o encontro da presidente com o bispo Macedo. A suposta manobra virou assunto no “Twitter”, rede social de rápida atualização, com comentários de vários telespectadores. Em outubro do ano passado, o Tribunal de Justiça de São Paulo anunciou a anulação de todas as denúncias do Ministério Público de São Paulo contra o bispo Edir Macedo e os outros acusados. Curiosamente, a anulação das denúncias não ganhou o mesmo destaque da ocasião das acusações, quando foi feito alarde desproporcional ao fato de serem denúncias requentadas. O episódio não é o único que envolve a história do bispo Edir Macedo e da Igreja Universal do Reino de Deus. No livro “O bispo – a história revelada de Edir Macedo”, o bispo relembra quando, em maio de 1992, ficou detido durante 11 dias na carceragem do 91º Distrito Policial, na Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo, depois de ser cercado por dezenas de policiais fortemente armados quando saía do culto com a família. Uma experiência dolorosa, mas que deixou, segundo ele, uma grande lição: como transformar as adversidades. “Eu sabia que a prisão me traria enormes benefícios. Sabe por quê? Porque eu era vítima, e a vítima sempre ganha. Nunca o algoz. Eu tinha certeza de que o trabalho se desenvolveria ainda mais, não apenas no Brasil, mas em todo mundo. É a recompensa do sacrifício”, afirmou em depoimento ao livro quando, depois de 15 anos, voltou a visitar a carceragem.
Na ocasião, o bispo disse que só soube do motivo da prisão depois das primeiras conversas com os advogados. “Até então não tinham sequer me mostrado a ordem de prisão. Fui acusado de charlatanismo e curandeirismo... Charlatão? Curandeiro? Por quê? Porque prego o poder da oração pela fé? Por que prego o que a Bíblia ensina?”, perguntou num dos trechos do livro. Ele, então, se recorda da alegria da libertação, quando era aguardado por uma barulhenta multidão. O livro detalha excessiva operação da polícia para prender o bispo Edir Macedo, um episódio de truculência e exagero. No distrito, o único veículo a registrar a prisão foi a “Rede Globo”. No dia seguinte, o então governador de São Paulo, Luiz Antônio Fleury Filho, desqualificou a operação e seus excessos. “O espetáculo que se viu no momento da prisão não é aconselhável para ninguém. É altamente constrangedor, até porque o bispo não foi condenado. Não entro no mérito das razões que o levaram à prisão, mas a forma foi exagerada”, registra o livro. Na época da prisão, o então presidente Fernando Collor de Mello vivia momentos de turbulência com denúncias de corrupção que chegavam ao coração do poder. A aquisição da “Rede Record” pelo bispo Macedo poderia ser um dos motivos para a prisão. Apesar da compra já estar concretizada, com toda a documentação em dia, a concessão de operação do canal ainda não havia sido dada pelo Governo, o que só aconteceria no final de 1992. Havia então uma disputa velada pelo controle da “Record” por outros grupos, pressões que o então presidente Collor admitiu existir, como consta na biografia do bispo. Uma das vozes mais indignadas contra a prisão do bispo na ocasião foi a do então presidente do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, que no último sábado deixou a presidência para sua sucessora, Dilma Rousseff. “Acho um absurdo a prisão sob o argumento de que o bispo está enganando as pessoas com sua religião. As pessoas têm fé naquilo que querem ter fé”, disse Lula na ocasião, entre outros argumentos, numa indignação que se multiplicou entre vários políticos importantes e esportistas célebres, como Pelé. Anônimos também saíram em defesa do bispo Macedo. No ano anterior à prisão, o bispo enfrentara problemas semelhantes. Em outubro de 1991, o papa João Paulo II chegou ao Brasil para uma visita ao Rio de Janeiro, onde celebraria uma missa. No mesmo dia, a Igreja Universal realizaria uma concentração no estádio do Maracanã, considerada por alguns uma provocação à visita do papa. Foi decretada então a prisão do bispo Macedo e ele se tornou foragido da polícia até se apresentar na sede da Polícia Federal em São Paulo. Depois de um dia inteiro de interrogatórios foi obrigado a deixar o prédio pela porta da frente, onde era aguardado por um batalhão de fotógrafos. Foram vários processos criminais e, por um período de investigações, o bispo só podia deixar o País com autorização da Justiça, atravessando vários constrangimentos, inclusive durante um embarque no Rio de Janeiro. No final, o bispo Edir Macedo sempre foi absolvido ou houve arquivamento dos processos. No sábado (1), o bispo Macedo era um dos presentes num momento único do País: a posse da primeira mulher na presidência, uma conquista que também vem cheia de simbolismo e esperança. Ao lado da cúpula da “Rede Record”, o bispo ganhava status de chefe de Estado e mais uma vez demonstrava que o tempo será sempre o senhor da razão.

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